Segunda Vaga Destaca Diferenças no Combate à COVID-19
EQUIPA DA ADF
Um aumento acentuado no número de infecções pela COVID-19 está agora a ocorrer em toda a África e a destacar as diferentes abordagens que os países estão a utilizar, expondo antigas fraquezas das instituições de prestação de cuidados de saúde, de acordo com uma análise feita pelo Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS).
Mais da metade dos 54 países de África registaram aumentos de taxas de infecção pela COVID-19 desde Outubro de 2020, muitos dos quais como consequência da nova variante, conhecida como 501Y.V2, que surgiu na África do Sul nos finais de 2020. África do Sul e Marrocos lideram no número de infecções a nível do continente.
A subida exponencial no número de infecções torna a segunda vaga dramaticamente diferente da primeira, que eclodiu em meados de 2020. As infecções alcançaram a marca de 1 milhão de casos a nível do continente em Agosto. Até início de Janeiro de 2021, as infecções triplicaram, em parte, devido à reabertura dos aeroportos e ao relaxamento das precauções tais como uso de máscaras e distanciamento social enquanto a nova variante se propagava.
Também se acredita que os portadores assintomáticos — pessoas que têm a infecção mas nunca desenvolvem sintomas — tenham desempenhado um papel na propagação da doença durante a segunda vaga, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC).
Embora a nova variante já tenha demonstrado ser mais contagiosa, ela não aparenta ser mais mortal do que a original, disse o Director do África CDC, John Nkengasong, durante um informe semanal em Dezembro. Mas o aumento rápido do número de infecções também significa aumento rápido de mortes, concluiu.
“Mesmo se a nova variante não for mais virulenta, um vírus que se pode propagar de forma mais fácil colocará mais pressão sobre os hospitais e sobre os funcionários de saúde que, em muitos casos, já estão sobrecarregados,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde para África, disse num comunicado do dia 14 de Janeiro. “Este é um lembrete dramático de que o vírus é implacável, que ainda representa uma ameaça manifesta e que a nossa guerra está longe de ser vencida.”
A análise da segunda vaga da COVID-19 do continente, feita pelo ACSS, revela vários elementos-chave sobre como e por que esta vaga pode ser pior do que a primeira.
Pontos de Maior Incidência
O pior impacto da segunda vaga está a ser sentido em 15 países, quase todos servem de porta de entrada com grande número de contactos internacionais, populações idosas e cidades densamente habitadas. A liderar este grupo encontra-se a África do Sul, onde a nova variante do vírus que apareceu na Cidade do Cabo, já acelerou a actual vaga de novas infecções. Outros países costeiros, incluindo Marrocos e Tunísia, estão na lista. A segunda vaga de infecções é responsável por aproximadamente três quartos do número total de infecções registado pelo Marrocos em toda a pandemia. A Tunísia, que parecia ter quase derrotado o vírus em meados de 2020, registou um aumento acentuado depois da reabertura das fronteiras para o turismo em Julho. Em muitos casos, estes mesmos países têm os melhores sistemas de saúde pública, o que ajudou a detectar novos casos através da testagem em massa.
Sistemas de Saúde Sufocados
Praticamente desde os primeiros dias da pandemia, a COVID-19 tem sufocado os sistemas de prestação de cuidados de saúde de África. É neste continente onde se encontram 22 dos 25 países que mais estão em risco de sofrer por surtos de doenças em grande escala, de acordo com uma análise do Rand Corp. Os países com sistemas de saúde pública com baixa classificação incluem, entre eles, muitos países da África Central — República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo e Sudão do Sul. Esses países também têm conflitos a decorrer e grande número de pessoas deslocadas — tudo isso contribui para complicar a sua capacidade de identificar e acabar com a propagação do vírus.
Conflito vs. Estabilidade
Aproximadamente uma dúzia de países — na sua maioria concentrados no Sahel mas incluindo a Líbia, Moçambique e Somália — estão a experimentar conflitos que enfraqueceram ou causaram distúrbios na sua capacidade de identificar e acabar com a propagação do vírus. Em simultâneo, contudo, eles beneficiam de contacto internacional mínimo, que reduz o risco de infecções pela nova variante.
No outro extremo, encontram-se Gana, Quénia, Senegal e um punhado de outros países conhecidos por terem governos estáveis, uma abordagem transparente para registar informação sobre o vírus e uma capacidade para acabar com as infecções nas suas fronteiras. Isso permite que os governos dediquem mais recursos para combater a propagação da COVID-19.
Enquanto a segunda vaga assola o continente africano, os líderes nacionais estão a perspectivar a facilidade da COVAX, da União Africana e de outras soluções para trazer vacinas para os seus cidadãos de forma rápida e justa. O África CDC alertou que, a menos que o continente receba vacinas no mesmo momento em que recebem as outras partes do mundo, a África pode tornar-se um reservatório da doença, que causará outras mutações e fará com que seja mais difícil de eliminar.
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