Revolução Digital de África Acelera Durante a Pandemia
EQUIPA DA ADF
Quando o vendedor de rua, Patrick Macharia, precisa de reabastecer a sua banca de frutas e vegetais, em Nairobi, ele pega no seu telemóvel e faz uma encomenda. Na manhã seguinte, a encomenda chega, vinda da machamba, a tempo e pronta para os clientes.
É totalmente diferente dos tempos antigos, onde os vendedores, como Macharia, acordavam às 3 horas de madrugada, para poderem ir ao agitado armazém de vendas a grosso, para negociar os preços dos melhores produtos que puderem adquirir, depois transportar tudo de volta pelas ruas congestionadas.
O fornecedor de Macharia, Twiga Foods, juntamente com os seus clientes das machambas e das ruas, é um interveniente fundamental na revolução tecnológica que está a decorrer em toda a África. É uma revolução que ganhou ímpeto na resposta à pandemia da COVID-19, mudando a forma como as pessoas fazem tudo, desde a compra e venda até à ida ao médico.
“O lado positivo da pandemia é a possibilidade de realizar experiências com as tecnologias e com abordagens cooperativas em todos os quadrantes, o que pode resultar num futuro mais seguro, sustentável e inclusivo a nível global,” Sanjev Khagram, ugandês de nascença e decano da Escola de Gestão Global Thunderbird na Universidade do Estado de Arizona, escreveu no The Economist.
Em toda a África, as plataformas de dinheiro móvel cresceram rapidamente enquanto os compradores evitavam a propagação da COVID-19 através de transacções em dinheiro, que passava de mão em mão. Os confinamentos obrigatórios limitaram as actividades comerciais nos mercados muito movimentados, onde grande parte da economia informal ocorre, passando a mesma para encomendas online e entregas porta a porta.
“Toda a gente mergulhou e decidiu experimentar, e depois disse, ‘Isto realmente funciona!'” Juliet Anammah, chefe de assuntos institucionais da Jumia, o maior revendedor online de África, disse à revista African Business.
A Twiga Food tornou-se no modelo para o futuro das empresas. A empresa de tecnologias, de 6 anos de existência, faz a ligação entre agricultores de 20 condados, no sul do Quénia, conectando-os directamente com fornecedores através do seu sistema de encomendas.
O sistema oferece aos agricultores um mercado garantido e os fornecedores recebem um fornecimento mais confiável de produtos frescos e secos para vender e pagam utilizando o aplicativo de pagamentos móvel do Quénia, M-Pesa — tudo à distância de um toque do botão dum aplicativo móvel.
“Isso oferece ao agricultor, pela primeira vez, um histórico de transacções,” disse Mahia-John Mahiani, Director Financeiro da Twiga. “Pela primeira vez., eles podem dizer, esta não é apenas a minha machamba [plantação agrícola], este é o meu biashara[negócio]. Este é um negócio do qual podem tirar proveito agora, para aceder a um crédito e outros serviços de uma instituição financeira.”
O PCA, Peter Njonjo, disse que através da dinamização da cadeia de fornecimento do agricultor para o fornecedor, a Twiga fez com que os alimentos fossem mais baratos e melhores. Durante a pandemia, a Twiga começou a efectuar as vendas directamente com os consumidores e planeia expandir a sua oferta para além dos géneros alimentícios. Da mesma forma, a Online Butchery, do Uganda, deixou de vender exclusivamente às empresas para passar a vender directamente aos clientes.
“Se a tecnologia pudesse agregar mais desses revendedores, imagine as oportunidades que depois seriam criadas a partir daí,” disse Njonjo, numa entrevista da International Finance Corp. “No continente, existe uma oportunidade significativa de ultrapassar algumas das dificuldades de acesso à demanda local dos consumidores locais no continente.”
A Twiga não é a única que está a utilizar a tecnologia durante a pandemia para melhorar as transacções comerciais. No Uganda, a Market Garden conecta vendedores de mercado aos agricultores, através de um sistema de entregas com recurso a motorizadas. A rede de satélite do Quénia, iMlango, ajuda crianças a manterem-se a par dos seus estudos durante os confinamentos obrigatórios, mesmo estando em aldeias remotas. A mPharma, do Gana, fornece um sistema online para aquisição de medicamentos que evita a proliferação de medicamentos contrafeitos no continente. Na África do Sul e na Nigéria, os aplicativos de telesaúde fazem com que seja possível ir ao médico sem sair de casa.
“A competição sem precedentes [da pandemia] está simultaneamente a criar um impulso em nós, para nos tornarmos muito mais dependentes de tecnologias digitais, biológicas e físicas revolucionárias e sermos muito mais criativos quanto à forma como somos capazes de utilizar estas tecnologias emergentes, para criar valor através de novas formas,” escreveu Khagram.
E, em todo o continente, a moeda digital está a substituir, de forma rápida, o dinheiro em formato de papel, com transacções avaliadas em centenas de milhares de dólares a cada ano, passando por sistemas de pagamento como o M-Pesa, o DPO da África do Sul e o Paystack da Nigéria.
Embora a COVID-19 possa ter ajudado a mudar de forma drástica o sector tecnológico emergente de África, os fundadores e PCAs esperam ver mais crescimento ainda, à medida que a pandemia vai diminuindo e a Zona de Comércio Livre Continental de África ganha forma.
“Devemos ter como meta uma grande plataforma digital de logísticas,” empreendedor nigeriano da área de tecnologia, Obi Ozor, disse à CNN. “É quando começamos a resolver o problema da economia. Se ficarmos fragmentados e sem fazermos parcerias, não seremos capazes de ter habilidades para resolver o problema da economia.”
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