EQUIPA DA ADF
A emergência da COVID-19 apresentou uma oportunidade para que as empresas em África expandam o uso dos serviços bancários móveis.
Os serviços bancários móveis podem ajudar as empresas de telecomunicação e os bancos a reter os clientes, efectuar vendas cruzadas de serviços, promover a inclusão financeira e reduzir a dependência do continente de numerário, François Jurd de Girancourt, director de práticas financeiras em África, na McKinsey & Company, uma empresa de consultoria, disse à ADF, num e-mail.
No Quénia, em Marrocos e na África do Sul, o numerário representa 90% a 95% de todas as transacções, enquanto na Nigéria a taxa chega a atingir 99%, de acordo com dados fornecidos por McKinsey.
Os serviços bancários móveis estavam a crescer mesmo antes do surgimento da COVID-19, porque muito mais africanos têm acesso a telemóveis do que aos serviços bancários tradicionais. Os rendimentos financeiros dos serviços móveis atingem cerca de 3 bilhões de dólares por ano nas empresas de telecomunicações em África, incluindo a Orange Money, Vodacom, Safaricom, MTN e Airtel, disse Jurd de Girancourt.
“Os serviços financeiros móveis são uma tendência de longa data, mas a crise da COVID abriu oportunidades para acelerar a sua adopção [em África], por exemplo, distribuindo apoio social para cidadãos através da carteira móvel, como em Togo,” disse Jurd de Girancourt.
“Um outro exemplo são os pagamentos — não transferências — via telemóvel. Durante a pandemia, o Marrocos simplificou significativamente o processo de possibilitar que os comerciantes aceitem pagamentos com dinheiro móvel. Tipicamente, estes comerciantes apenas aceitam dinheiro físico hoje.”
Na África do Sul, a empresa de telecomunicações Telkom planeia introduzir a “carteira digital” através de um novo aplicativo.
“Está muito claro que existe uma oportunidade de criar uma oferta que talvez possa estar muito próxima de se tornar um substituto muito bom da necessidade de transportar dinheiro para vários lugares,” Sibusisso Ngwenya, gestor executivo da Telkom, disse num podcast da TechCentral.
A Telkom planeia introduzir o aplicativo até Março de 2021. Ngwenya disse que a empresa espera que as suas opções de expansão dos serviços bancários móveis proporcionem “uma África do Sul menos intensiva em dinheiro vivo.”
Para além de aumentar as suas iniciativas de serviços bancários móveis, a Telkom também está a baixar as tarifas e a viabilizar novos serviços de empréstimos em África, assim como estão a fazer a Orange, a Vodacom e a MTN, reportou a Reuters.
A Orange, da França, com sede na Costa do Marfim, tenciona introduzir um novo aplicativo de serviços bancários móveis desenvolvidos em colaboração com a NSIA, uma empresa de seguros costa-marfinense, de acordo com a página da internet da Orange. Patrick Roussel, vice-presidente executivo da Orange, disse num comunicado de imprensa que a empresa quer expandir o aplicativo para Burkina Faso, Mali e Senegal, depois da sua aprovação na Costa do Marfim.
“Logo a partir da primeira subscrição, todos os passos podem ser feitos através de um smartphone ou um USSD [Dados de Serviços Suplementares Não Estruturados],” disse Roussel. “Tudo está automatizado, e apenas são necessários alguns segundos para abrir uma conta na Orange Bank África.”
Até ao final do ano, a MTN, a principal empresa operadora de serviços de telecomunicações de África, pretende oferecer um aplicativo de dinheiro móvel, para ser usado por pequenos comerciantes, em vários mercados africanos e está a liderar um esforço para digitalizar as pequenas empresas da África do Sul, reportou a Reuters.
“Desenvolvemos soluções de aceitação de pagamentos de baixo custo para pequenos comerciantes, possibilitando que os clientes que possuam telemóveis com funções básicas possam efectuar pagamentos com as suas carteiras MoMo, marcando um código USSD num telemóvel com funções básicas ou, para proprietários de smartphones, utilizando o aplicativo MoMo,” Serigne Dioum, que chefia o departamento de serviços financeiros móveis da empresa, disse à TelecomLead.
A Vodacom, na África do Sul — e Safaricom, a sua subsidiária do Quénia — adquiriu os serviços de pagamentos através de dinheiro móvel, M-Pesa, durante os estágios iniciais da pandemia, em inícios de Abril. A M-Pesa tinha crescido até se tornar na maior plataforma de pagamento do continente, com aproximadamente 40 milhões de usuários na República Democrática do Congo, Egipto, Gana, Quénia, Lesoto, Moçambique e Tanzânia, de acordo com a revista Forbes.
A Vodacom acelerou esforços no sentido de ajudar os clientes a abrirem contas bancárias e planos para expandir empresas de micro-crédito, seguros e pagamentos a mercados fora da África do Sul, reportou a Reuters.