AGÊNCIA FRANCE-PRESSE
Talal Afifi trabalhou durante anos para reviver o cinema sudanês, que definhou ao longo de três décadas de governo autoritário. Com a queda do autocrata de longa data, Omar al-Bashir, ele vê uma nova esperança.
Quando Afifi participou num festival de curta-metragem em 2008, em Munique, na Alemanha, o filme vencedor — um documentário iraquiano filmado numa Handycam — inspirou-o a voltar para casa e criar um centro de formação e uma casa de produção.
“Queria lembrar às pessoas que existe um lugar chamado Sudão, que já foi renomado no campo do cinema, e que ainda está apaixonado por essa arte”, disse.
A Sudan Film Factory, sediada numa vila suburbana de Cartum, desde então, formou mais de 300 jovens de ambos os sexos na produção cinematográfica.
Actualmente, depois da destituição de Bashir, em Abril de 2019, Afifi e seus colegas esperam que o cinema ganhe um novo impulso.
O cinema sudanês remonta à produção do primeiro filme mudo em 1898, alguns anos depois da invenção das imagens em movimento, de acordo com o director veterano Ibrahim Shaddad.
Em 1946, uma frota de cinemas móveis viajava pelo país exibindo filmes a céu aberto no período da noite.
Na década de 1980, o Sudão tinha mais de 60 salas de cinema que exibiam filmes de Hollywood, Bollywood, assim como filmes árabes. Mas a tomada do poder de Bashir em 1989 paralisou a indústria.
Em 1996, o regime islâmico conservador de Bashir havia fechado a maioria das salas de cinema do país. Além disso, um embargo comercial americano dificultou a importação de filmes estrangeiros, a actualização de software antigo ou a aquisição de equipamentos.
Suleiman Ibrahim, presidente do Sudanese Film Group, disse que o governo de Bashir havia enviado muitos cineastas para o exílio.
Apesar desses obstáculos, Afifi e sua equipa mantiveram a arte viva, exibindo documentários e filmes estrangeiros em terraços na capital.
O exército depôs Bashir em Abril de 2019, num golpe de Estado depois de meses de protestos.
A sua deposição deu aos entusiastas do cinema uma nova esperança de reviver a produção cinematográfica sudanesa. “Agora estamos a falar sobre restaurar as salas de cinema, mudar leis e estabelecer institutos de cinematografia”, disse Afifi.