EQUIPA DA ADF
Nove meses depois de o vírus que causa a COVID-19 ter emergido de um mercado de Wuhan, na China, a resposta a nível mundial deu início a pesquisas inéditas e inovações transformadoras e até reinventou a forma como as pessoas se relacionam umas com as outras.
Os líderes africanos na área de ciência e tecnologia recorreram à experiência que tiveram com o Ébola e outras epidemias e responderam cedo e de forma decisiva à pandemia.
“A COVID-19 obrigou alguns dos inovadores de África a levantarem-se para enfrentar a situação presente e abriram o caminho para os mesmos,” Peter Tarlow, assessor de segurança da Junta de Turismo de África, disse à ADF.
Aqui estão algumas das formas pelas quais a COVID-19 mudou a vida em África nos passados nove meses:
A Resposta dos Serviços de Saúde
Apesar de ainda não existir nenhuma vacina para a COVID-19, os pesquisadores descobriram que vários dos medicamentos já existentes podem reduzir a gravidade da infecção. Entre estes medicamentos está o remdesivir, que tem sido utilizado para curar o Ébola e que reduziu o período de recuperação de algumas pessoas com sintomas de COVID-19. A Organização Mundial de Saúde referiu que o dexametasona, um esteróide acessível, reduz as mortes causadas pela COVID-19.
“Os esteróides são um medicamento barato e prontamente disponível, e a nossa análise confirmou que são eficazes na redução das mortes entre as pessoas mais severamente afectadas pela COVID-19,” Jonathan Sterne, professor de medicina e epidemiologia na Universidade de Bristol, no Reino Unido, disse ao jornal The Guardian.
Os provedores dos serviços de saúde estão a mudar o seu posicionamento quanto à ventilação mecânica para pacientes de COVID-19. A demanda de ventiladores dispendiosos motivou muitos dos países africanos, tal como a Nigéria, a desenvolver a sua própria tecnologia concebida internamente. A falta generalizada de ventiladores em muitos países africanos preocupou a OMS e outros países começaram a doar máquinas.
Mas ao tratar os pacientes de COVID-19, os médicos descobriram que os ventiladores podem ser mais prejudiciais do que benéficos, especialmente porque o vírus danifica os frágeis sacos aéreos nos pulmões dos pacientes. As convenções alteraram, deixando de ser uma intervenção imediata para se utilizar os ventiladores como um último recurso para os pacientes gravemente doentes.
Os países africanos registaram taxas de infecção e mortes muito mais baixas do que o resto do mundo. O motivo exacto disso ainda é desconhecido. O Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) fez o lançamento de um estudo a nível continental de anticorpos de COVID-19 no sangue humano. A pesquisa inicial demonstra que, em Malawi e nos Camarões, muitas pessoas possuem anticorpos do que possuem sintomas da doença, o que deixa os pesquisadores perplexos.
“Não temos uma resposta,” a imunologista Sophie Uyoga, do Instituto de Pesquisas Médicas do Quénia-Programa de Pesquisas da Wellcome Trust, disse à revista Science.
Inovações e Tecnologia
Enquanto outros países lutaram para conter e responder à pandemia, os países africanos usaram a COVID-19 para motivar o avanço das inovações e da tecnologia concebida internamente.
No Ruanda e no Senegal, robots cumprimentam os pacientes e registam os sintomas para os médicos que trabalham de forma remota. Um pesquisador ruandês desenvolveu uma forma de realizar testes de COVID-19 em massa de forma rápida e eficiente de modo a acelerar os resultados e reduzir possível propagação. O Ruanda transformou a sua economia num sistema sem uso de numerário para evitar a transmissão através do manuseamento do dinheiro.
Na Etiópia, um estudante de 18 anos de idade desenvolveu um aplicativo de smartphone para o rastreio de contactos e que utiliza a tecnologia Bluetooth do telefone para reportar se alguém que está próximo tem COVID-19.
No Ruanda, Marrocos e em outros lugares, os drones permitiram que as autoridades pudessem fazer a monitoria de aglomerados, desinfectar espaços públicos de forma remota e fornecer medicamentos vitais em zonas distantes durante os períodos de confinamento obrigatório. A empresa de drones Zipline, que opera em Gana, utiliza os seus drones semelhantes a aviões, pilotados com recurso a GPS, para entregar amostras de COVID-19 aos laboratórios de forma rápida.
Socorrendo-se da sua experiência de testagem do Ébola e do HIV, os pesquisadores do Instituto Pasteur, do Senegal, desenvolveram um teste de COVID-19 que custa 1 dólar e leva cerca de 10 minutos para produzir resultados.
Frente Unida
O estudo de anticorpos a nível continental demonstra como, através da União Africana e da África CDC, os países de todo o continente uniram esforços para partilhar dados e desenvolver soluções propriamente africanas para a pandemia da COVID-19. Os líderes vêem uma grande abordagem de dados para a COVID-19 como uma forma de ajudar a economia do continente a reerguer-se.
O Gana está a realizar uma pesquisa piloto do PanaBIOS, um aplicativo de smartphone concebido para rastrear o estado de saúde dos usuários, fazer a monitoria dos aglomerados ao redor e alertar os usuários sobre a possibilidade de que tenham sido expostos a pessoas infectadas pela COVID-19.
Os defensores do PanaBIOS, incluindo o consórcio empresarial AfroChampions e a Junta de Turismo de África, olham para o aplicativo como um instrumento importante para possibilitar que os países reabram as suas fronteiras à medida que a UA se prepara para lançar a zona de comércio livre continental em inícios de 2021.
“O PanaBIOS é um testemunho claro de que uma nova forma de resolver os problemas complexos, unindo todos os níveis da sociedade numa estrutura comum, não é apenas viável mas também a única forma de se poder avançar em muitos contextos importantes,” Preston Asante, responsável das relações públicas da PanaBIOS Consortium, disse à ADF.
Tarlow considera que a COVID-19 inspira os países africanos a trabalharem juntos em novas formas. As tecnologias concebidas em África — tais como drones de entregas, softwares de rastreamento de contactos e kits de testes rápidos — também têm o potencial de fazer com que os países africanos sejam parte da solução global para a COVID-19, disse.
“Muitas pessoas vêem a África como quem recebe, e não como quem dá,” disse Tarflow, da junta de turismo. “Então, isto pode inverter o quadro.”