EQUIPA DA ADF
Especialistas em cibersegurança afirmam que uma marca de smartphones de topo de gama, de África, vendeu dezenas de milhares de telemóveis carregados com softwares maliciosos. Os telemóveis drenam os dados dos usuários, inscrevem-nos para subscrições de serviços sem o seu conhecimento e fazem com que sejam cúmplices inconscientes em esquemas fraudulentos.
O vírus Triada apareceu na Etiópia, Camarões, Gana e África do Sul, nos smartphones de fabrico chinês, Tecno W2. O Triada utiliza programas de difícil remoção, conhecidos como x-Helper, para fazer o seu trabalho sujo, dizem os especialistas.
Para além de criar subscrições falsas, o vírus gera cliques falsos em publicidades no fundo dos sítios, o que gera milhares de dólares para os criminosos do cibercrime, enganando os proprietários das publicidades com impressões erróneas.
“O facto de que o vírus vem pré-instalado nos dispositivos que são trazidos em milhares de unidades para pessoas de rendimento baixo diz tudo o que é necessário saber sobre aquilo que a indústria actualmente enfrenta,” disse Geofrey Cleaves, director-geral da Secure-D, uma plataforma de combate às fraudes que estudou o problema, de acordo com a CNN.
“Esta ameaça em particular tira vantagens daqueles que são mais vulneráveis,” acrescentou Cleaves.
Esta não é a primeira vez que os africanos se viram obrigados a lidar com comportamentos suspeitos pela tecnologia originária da China.
Em 2017, funcionários da União Africana descobriram que, durante cinco anos, os servidores de computadores – feitos e instalados como uma oferta do governo chinês – tinham estado a transferir, todas as noites, quantidades de dados da sede da UA em Adis Abeba, Etiópia, para servidores em Shanghai. Em 2018, a UA substituiu os servidores, recusando a oferta da China em ajudar a configurá-los.
Ainda assim, muitos países africanos têm sido lentos na tomada de medidas quando se trata de cibersegurança.
Um estudo de 2018, feito pela UA, descobriu que apenas oito países possuem uma estratégia de cibersegurança. Apenas 14 tinham leis que protegiam os dados online dos cidadãos. O mesmo relatório descobriu que os países eram vítimas de centenas de milhares de ataques no mundo a cada ano.
Em 2014, a UA adoptou a sua Convenção sobre Cibersegurança e Protecção de Dados para a construção de um fundamento jurídico para a protecção dos cidadãos na internet. A UA lançou o seu Grupo de Especialistas em Cibersegurança, composto por 10 membros, em Dezembro de 2019, para aconselhar os líderes da união sobre como melhor resolver questões de ameaças à segurança na internet.
O presidente do grupo de especialistas, Abdul-Hakeem Ajijola, da Nigéria, disse que a violação de segurança da Tecno é um alerta. Ele acredita que os países africanos devem desenvolver as suas próprias capacidades para encriptação e segurança de dados para proteger os seus cidadãos.
“África deve iniciar e manter o desenvolvimento de capacidades das pessoas, processos e tecnologia,” disse à ADF num e-mail. “Devemos encorajar e facilitar o sector privado como um impulsionador principal de desenvolvimento de tecnologias enquanto os governos garantem a justiça, igualdade e conformidade com os regulamentos.”