EQUIPA DA ADF
Poucos minutos após o fim do recreio, homens armados emergiram da floresta circundante e começaram a disparar as suas armas perto da escola no Kivu do Norte, na República Democrática do Congo.
“Ouvi explosões e outros ruídos fortes,” um estudante de 12 anos, identificado como Bahati, disse à organização não-governamental Save the Children. “Fugimos, sem sequer pensar. Todos fugiram para outra direcção.”
No caos que se seguiu, as pessoas da comunidade fugiram para Goma.
“Pessoas caminharam durante dois dias,” disse Bahati. “Pessoas foram separadas das suas famílias. Filhos sem pais e pais sem filhos.”
O ataque à escola de Bahati faz parte de um padrão mais alargado do M23 e de outros grupos rebeldes que operam nas províncias orientais da RDC. Nos últimos meses, os ataques encerraram mais de 540 escolas no Kivu do Norte e centenas de outras nas províncias vizinhas do Kivu do Sul e de Ituri.
A violência crescente encerrou quase 200 escolas do Kivu Norte desde o início de 2024. Destes, 10 foram directamente atacados por rebeldes e 24 foram ocupados por grupos armados. Cerca de 30 estão a servir de abrigo para famílias deslocadas, segundo a Save the Children.
Em alguns casos, as milícias também raptaram professores e estudantes.
Desde que os combates no Kivu do Norte começaram a intensificar-se em 2023, mais de 1 milhão de pessoas fugiram das suas casas, incluindo 500.000 crianças. Pelo menos 250.000 pessoas, incluindo cerca de 130.000 crianças, fugiram das suas casas desde Fevereiro. No seu conjunto, cerca de um terço da população do Kivu do Norte foi deslocada desde 2022.
As 240.000 crianças que fugiram com ou sem os pais para campos de deslocados em redor da capital do Kivu do Norte, Goma, não frequentam a escola, segundo o UNICEF.
Os analistas dizem que a educação é muitas vezes a primeira coisa a sofrer e a última a recuperar quando uma comunidade cai na violência. Os ataques a escolas deixam marcas emocionais e psicológicas profundas nas crianças e podem prejudicar o seu desenvolvimento.
“Um único ataque não só pode causar ferimentos devastadores nas crianças, física e emocionalmente, como também priva centenas de estudantes da oportunidade de receberem uma educação de boa qualidade,” Greg Ramm, director nacional da Save the Children na RDC, disse num comunicado. “Por vezes, o único local de aprendizagem de uma comunidade é destruído.”
A situação no Kivu do Norte reflecte-se no resto do Leste da RDC, onde 2.100 escolas estão encerradas e mais de 750.000 alunos não frequentam a escola, segundo a UNICEF.
No Kivu do Norte, a perda de educação para mais de 270.000 pessoas cria o risco de toda uma geração perder as competências essenciais de que necessitará para o futuro. A perda da escolaridade também coloca as crianças em risco de serem recrutadas por grupos armados como combatentes.
Décadas de violência no leste da RDC deixaram pessoas como Thomas Tumusifu Buregeya, que tem 20 e poucos anos, a lutar para concluir a sua educação ao fim de 15 anos. Buregeya estava quase a fazer os exames finais em 2023 quando foi obrigado a fugir de casa. Foi a terceira vez que a violência perturbou a sua educação.
Buregeya disse à Reuters que espera ir para uma universidade e tornar-se professor um dia. Mas, por agora, a sua vida está em suspenso. Mais uma vez.
“Quando, neste campo, vejo finalistas como eu, fico com o coração apertado,” disse. “Pergunto-me quando é que vou concluir os meus estudos. Os anos estão a passar.”