EQUIPA DA ADF
Em meados de Agosto, o fumo pairava sobre Trípoli quando milícias rivais que disputavam o poder se envolveram em dois dias de combates que mataram pelo menos 55 pessoas e feriram cerca de 160.
Após meses de relativa calma em Trípoli, a violência eclodiu depois de Mahmoud Hamza, comandante geral da 444.ª Brigada, ter sido capturado no aeroporto de Mitiga por homens armados da Força Especial de Dissuasão (SDF, na sigla inglesa). A SDF é o principal rival da 444.ª Brigada e controla o aeroporto. Ambos os grupos lutam pelo poder desde o derrube de Muammar Kadafi, em 2011.
Tahani Elmogrbi, especialista sobre Líbia, afirmou que a concorrência entre a 444.ª Brigada e a SDF aumentou à medida que a SDF foi perdendo alguma da sua influência.
“A 444.ª é mais estruturada, militarmente falando, mais organizada e inclui antigos soldados do regime [de Kadafi],” disse Elmogrbi à Radio France Internationale (RFI). “Também o seu chefe, o Coronel Mahmoud Hamza, é mais influente.”
A 444ª Brigada está ligada ao Ministério da Defesa da Líbia e controla os bairros do sul de Trípoli e outras zonas.
A SDF, comandada por Abdel Rauf Karah, actua como a força policial da capital e controla o centro e o leste de Trípoli, incluindo uma prisão e um aeroporto civil, o Aeroporto de Mitiga, que é utilizado por civis e militares.
Tropas de ambos os lados morreram na batalha de Agosto. Em Maio, os grupos defrontaram-se durante horas em Trípoli, também após a detenção de um membro da 444.ª Brigada.
Hamza é um antigo comandante do Esquadrão 20-20 da SDF. Em 2020, saiu da SDF, pegou no seu esquadrão, todos os veículos e munições e juntou-se ao exército líbio, onde foi nomeado comandante geral da 444.ª Brigada. Foi liberto para uma parte neutra dois dias após a sua captura pela SDF e as autoridades declararam um cessar-fogo.
A violência de Agosto obrigou ao desvio de voos de e para o aeroporto de Mitiga, ao cancelamento das aulas na Universidade de Trípoli e à permanência dos civis nas suas casas. Os combates envolveram o uso de armas pesadas em zonas residenciais, o que indignou Hanan Salah, investigadora da Human Rights Watch na Líbia.
“Certamente que os líbios que correm o risco de sofrer tais incidentes violentos merecem mais?” Salah disse à Al Jazeera. “Nada mudará se não houver consequências.”
As facções rivais são consideradas as milícias mais poderosas da Líbia e ambas estão alinhadas com o Governo de Unidade Nacional, do Primeiro-Ministro Abdulhamid al-Dbeibeh, apoiado pelas Nações Unidas e sediado em Trípoli. Mas os grupos têm divisões de longa data que deram origem a combates esporádicos em Trípoli nos últimos anos.
“Nos últimos meses, a Líbia tem conhecido uma espécie de instabilidade estável,” Rhiannon Smith, especialista do grupo de reflexão Libya Analysis, disse à RFI. “A situação política é ainda muito incerta. Há muitas divisões, e os grupos armados estão a ficar cada vez mais poderosos, mas não houve grandes confrontos” até Agosto.
A luta do Governo de Unidade Nacional pelo poder contra o Governo de Estabilidade Nacional, sediado em Sirte, desestabiliza ainda mais o país. Questões de longa data entre os partidos adiaram as eleições desde 2021.
Abdoulaye Bathily, enviado especial da ONU para a Líbia, disse ao Conselho de Segurança da ONU, no final de Agosto, que as divisões políticas na Líbia “estão repletas de riscos de violência e de desintegração dos países.”
“É fundamental restaurar a estabilidade da Líbia, para preservar a segurança regional,” disse Bathily numa reportagem da Associated Press. “Sem um acordo político inclusivo que abra caminho a eleições pacíficas, inclusivas e transparentes em toda a Líbia, a situação irá agravar-se e causar mais sofrimento ao povo líbio.”
Bathily alertou também para o facto de a violência no Níger, que sofreu um golpe de Estado em Julho, e no Sudão, onde os combates entre forças armadas rivais se têm desenrolado desde Abril, poderem alastrar-se para Líbia.