EQUIPA DA ADF
Postos de controlo alinhados na estrada, entre Tanguieta e Porga, no norte do Benin, enquanto soldados em veículos blindados patrulham a região à procura de actividades terroristas.
Este canto normalmente quieto da África Ocidental já registou quatro ataques terroristas desde Dezembro, perpetrados pelo Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin (JNIM), do Mali, um grupo extremista ligado à al-Qaeda.
“Antes tínhamos uma vida quieta,” Mounou Y’Moussa, o imame da mesquita central de Porga, disse à agência de notícias alemã, DW.com. “Actualmente, trata-se de incerteza e insegurança.”
Porga é uma cidade fronteiriça próxima de Point Triple, onde Benin, Togo e Burquina Faso se encontram. Os ataques ocorridos naquele ponto em Dezembro mataram dois soldados. Em Fevereiro, os extremistas fizeram uma emboscada contra soldados e guardas florestais na região, com recurso a um dispositivo explosivo improvisado, um foguete e uma arma de fogo. O ataque matou um soldado, cinco fiscais e um civil da Rede Africana de Parques.
Os terroristas também atacaram pontos do norte de Estados do litoral da África Ocidental, numa altura em que a violência extremista nos países do Sahel expande-se em direcção ao sul, para os vizinhos.
Em Maio, o JNIM atacou a cidade de Kpekankandi, próximo da fronteira do Togo com o Burquina Faso, matando oito soldados e ferindo uma dezena de outros.
Em 2021, a Costa do Marfim registou vários ataques ao longo da sua fronteira com o Burquina Faso, que mataram vários soldados e feriram outros. O Gana até agora não registou qualquer ataque. Contudo, o país é considerado uma zona de trânsito para extremistas.
“Os Estados costeiros partilham algumas das mesmas vulnerabilidades domésticas que as suas contrapartes do Sahel,” analista Rida Lyammouri escreveu recentemente no Centro de Políticas para o Novo Sul.
Estas vulnerabilidades domésticas incluem uma sensação de negligência por parte do governo central em zonas recônditas onde as taxas de pobreza podem chegar até a 60%. As fronteiras porosas permitem que os extremistas se movimentem facilmente entre os países, procurando refúgio num deles quando se sentem pressionados noutro. As disputas cada vez mais violentas entre os agricultores e os pastores que partilham a terra e os recursos também causam tensões na região.
“Ameaças representadas por extremistas violentos expandem-se, uma vez que eles exploram corredores transaccionais existentes, falhas do Estado e vulnerabilidades socioeconómicas presentes nas comunidades,” Murtala Abdullahi, um investigador de conflitos e tendências de segurança na Nigéria e na Bacia do Lago Chade, disse à The Africa Report.
Para além disso, os extremistas dos países sem saída para o mar, no Sahel, procuram garantir rotas para a costa para importarem armamentos e outros bens ilícitos. Assim como o Boko Haram fez no nordeste da Nigéria, os extremistas escondem-se em parques nacionais e reservas da fauna bravia que se estendem ao longo das fronteiras do Benin com o Burkina Faso e o Níger.
Durante o ano passado, as forças governamentais capturaram extremistas nas comunidades de Kouande e Kouatena, cerca de 140 quilómetros no interior do Benin.
“Primeiramente, pensava-se que fosse um fenómeno de transição de jihadistas nas zonas fronteiriças,” Oswald Padonou, presidente da Associação Beninense de Estudos Estratégicos e de Segurança, disse à DW.com. “Actualmente, estamos a falar acerca de microcélulas e recrutamento no norte do Benin. O fenómeno extremista islâmico encontrou espaço nas zonas mais marginalizadas.”
Em 2017, Benin, Burquina Faso, Costa do Marfim, Gana e Togo lançaram a Iniciativa de Acra, um esforço conjunto para fortalecer a segurança na região fronteiriça e prevenir a propagação da violência.
O especialista em políticas públicas baseado na Nigéria, Samuel Sholaolu, disse à The África Report que os países que estão a experimentar incursões de extremistas precisam de fazer mais do que responder militarmente. Os governos devem prestar mais atenção às zonas rurais onde os extremistas estão a operar, disse.
“São necessárias intervenções multifacetadas e multinacionais para acabar com estes grupos extremistas violentos e limitar as suas actividades,” disse Sholaolu. “Isso envolve o fortalecimento do profissionalismo e a capacidade das forças de segurança enquanto se garante que exista desenvolvimento nas zonas rurais e justiça social para as comunidades marginalizadas.”