Em meados de Agosto, dois aviões do exército maliano foram alvo de disparos dos rebeldes quando aterravam num campo da Missão Multidimensional de Estabilização das Nações Unidas no Mali (MINUSMA), em Tessalit.
Segundo o exército maliano, o ataque foi repelido sem grandes dificuldades, mas ocorreu quando a MINUSMA estava a retirar-se do campo. A missão das Nações Unidas também está a retirar-se de uma outra base em Aguelhok, também na região de Kidal, onde os rebeldes Tuaregues controlam uma parte da área desde 2013.
Os rebeldes combatem continuamente as forças malianas e os ataques no norte do Mali intensificaram-se desde que a MINUSMA concluiu a primeira fase da sua retirada, em Agosto.
“As Nações Unidas estão seriamente preocupadas com o aumento das tensões e com a crescente presença armada no norte do Mali, que são susceptíveis de impedir a partida atempada e ordenada da Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização do Mali (MINUSMA),” declarou a missão num comunicado.
A MIMUSMA está a trabalhar para encerrar 12 campos e uma base operacional temporária e entregá-los às autoridades malianas até ao final do ano. Prevê-se que as forças da MINUSMA, num total de quase 13.000 homens, partam até 31 de Dezembro, deixando todos os desafios de segurança para as forças malianas e seus aliados, incluindo o Grupo Wagner da Rússia.
A MINUSMA está a tentar retirar o seu equipamento, incluindo cerca de 5.500 contentores marítimos e quase 4.000 veículos, que deverão ser reafectados a outras missões ou devolvidos aos países que os forneceram.
No entanto, é possível que o equipamento pertencente à ONU ou aos países que contribuem com tropas não possa ser recuperado devido ao aumento da violência. Isso resultaria em perdas financeiras significativas para os países que contribuem com tropas e poria em risco outras operações da ONU. Além disso, põe em perigo as operações aéreas da MINUSMA destinadas a proteger o seu pessoal durante a retirada.
O recente golpe militar no vizinho Níger complica ainda mais a retirada da MINUSMA, o chefe da missão, El-Ghassim Wane, disse ao Conselho de Segurança da ONU.
“É vital que sejamos capazes de transportar equipamento e material através do Níger e dos seus portos para posterior repatriamento para os países contribuintes de tropas e para os países contribuintes de polícias em causa,” disse Wane.
A MINUSMA entrou no Mali há uma década, mas foi convidada em Junho a sair “sem demora” pela junta no poder. As últimas tropas francesas deixaram o Mali em Agosto de 2022, após nove anos. A violência aumentou no Mali — e em toda a região do Sahel — com a partida das tropas internacionais.
Desde Julho, os terroristas ligados à al-Qaeda lançaram uma ofensiva no centro do Mali, enquanto os insurgentes ligados ao grupo do Estado Islâmico realizam ataques no leste. Tombuctu, outrora um destino turístico popular, está actualmente bloqueada pelos rebeldes Tuaregues.
“Este conflito está a agravar-se rapidamente,” Ulf Laessing, director do programa Sahel, da Fundação Konrad Adenauer, disse ao site de notícias sul-africano News24. “Existe o risco de uma guerra civil.”
Os civis estão a suportar cada vez mais o peso da violência cometida pelas forças de segurança, incluindo o Grupo Wagner. O Mali registou um aumento de 38% nos ataques a civis de Janeiro a finais de Setembro, em comparação com o mesmo período de 2022, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED).
O Grupo Wagner, que entrou no país em 2021, é responsável por grande parte da violência contra civis. De acordo com o ACLED, 71% do envolvimento do Grupo Wagner na violência política no Mali assumiu a forma de ataques dirigidos a civis.
Até ao momento, este ano, os níveis de violência política no Burkina Faso, no Mali e no Níger aumentaram 5% em relação ao mesmo período do ano passado e 46% em relação a 2021, segundo o ACLED.
O aumento da violência coincide com a saída das forças da ONU e da França da região. Já afastada pelos regimes militares do Burquina Faso e do Mali, a França começou a abandonar o Níger em meados de Outubro. Os analistas alertam para o facto de a retirada da França deixar um vazio de segurança que pode ser explorado por organizações extremistas, como aconteceu no Burquina Faso e no Mali.
“As forças francesas podem não ter derrotado estes grupos, mas pelo menos interromperam e limitaram as suas actividades,” Rida Lyammouri, investigadora principal do Policy Center for the New South, um grupo de reflexão com sede em Marrocos, disse à Associated Press.
Estes grupos irão provavelmente “expandir-se para áreas onde as forças francesas estavam a prestar apoio às forças nigerinas, especialmente nas fronteiras com o Mali e o Burquina Faso,” acrescentou Lyammouri.