EQUIPA DA ADF
Uma terceira vaga da COVID-19 está a aumentar exponencialmente em toda a África, motivada pela variante Delta e com a ajuda de fracas taxas de vacinação.
No dia 27 de Junho, a África do Sul anunciou uma proibição de duas semanas de todo o tipo de aglomerados e impôs outras restrições de confinamento obrigatório total. Os hospitais de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo (RDC), estão superlotados. Em Uganda, uma carência de oxigénio faz com que seja difícil tratar dos doentes graves.
“África está no meio de uma terceira vaga plena,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da OMS para África, disse numa recente conferência de imprensa. “A trajectória séria de aumento do número de casos deverá alertar a todos para uma tomada de medidas urgentes.”
Moeti disse que o continente já tinha ultrapassado o seu pico da primeira vaga de meados de 2020 e irá ultrapassar o pico da segunda vaga do ano passado em inícios de Julho. A actual taxa de infecções é cerca de 21% superior à taxa que antecedeu o segundo pico.
Ela apelou aos países africanos a intensificarem as suas medidas de saúde pública de forma rápida para que possam localizar e isolar pessoas que tenham contraído a COVID-19. Entretanto, os residentes precisam de melhorar o uso das medidas de protecção comprovadas, tais como o uso de máscaras, a lavagem das mãos e o distanciamento social, para reduzir a propagação do vírus, disse.
Moeti também apelou à aceleração das vacinações sempre que possível. Aproximadamente duas dezenas de países africanos utilizaram menos da metade do seu lote de doses de vacinas até agora, incluindo quatro que estão a experimentar uma terceira vaga. Cerca de 1,25 milhões de doses da vacina da AstraZeneca, distribuídas por 18 países africanos, irão expirar em Agosto.
“O aumento do número de casos e de mortes é um alerta urgente para aqueles países que se encontram em atraso em termos de expandir os locais de vacinação de forma rápida, para poder alcançar os grupos prioritários para a vacinação e para responder às preocupações das comunidades,” disse Moeti.
A variante Delta, identificada primeiramente na Índia, propagou-se para 14 países africanos. É a variante mais transmissível do que as variantes anteriores (Alfa e Beta) identificadas no continente e está a propagar-se de forma rápida entre pessoas não vacinadas.
Numa altura em que o mundo já viu, em termos gerais, o seu número de casos de COVID-19 a reduzir, o número de casos do continente africano aumentou 40%, de acordo com a OMS. Até finais de Junho, África tinha registado 5,4 milhões de casos de COVID-19 e 141.000 mortes desde que a pandemia começou em inícios de 2020.
Na África do Sul, país que continua a ter o maior registo de casos de COVID-19 do continente, o Ministério de Saúde comunicou o registo de mais de 15.000 novos casos e 122 mortes nas 24 horas que antecederam o anúncio das medidas de restrição do confinamento obrigatório de Nível 4, de 27 de Junho, pelo presidente Cyril Ramaphosa. As restrições proíbem todos os aglomerados, excepto pequenos funerais, proíbem a venda de álcool, limitam os takeaways e as entregas dos restaurantes e alargam o período do recolher obrigatório nocturno, das 21:00 horas às 04:00 horas da manhã.
Estas limitações também incluem uma proibição de deslocamentos em viagens que não sejam de trabalho de e para a província de Gauteng, que representa 60% das novas infecções. Gauteng é onde se encontram Joanesburgo e Pretoria e possui uma população de cerca de 15 milhões.
A variante Delta agora é dominante na RDC e em Uganda, onde o aumento significativo está a pressionar os sistemas de saúde pública até aos seus extremos, de acordo com Moeti.
O presidente da RDC, Felix Tshisekedi, disse que a terceira vaga sobrecarregou os hospitais de Kinshasa. Ele prometeu que tomaria medidas drásticas para lidar com o aumento, embora não tenha especificado quais podem vir a ser tais medidas.
A RDC atrasou no seu programa de vacinações e até devolveu milhares de doses de vacinas da AstraZeneca para a COVAX, no início deste ano, para que sejam utilizadas por outros países, antes de atingirem a data de validade. Desde que as vacinações começaram, em Abril, pouco menos de 30.000 doses foram administradas.
“Em Kinshasa, as pessoas não se importam com a COVID-19, não acreditam nela,” Pascal Lutumba, do departamento de medicina tropical, na Universidade de Kinshasa, disse à Reuters. “Esse é o grande problema.”
Em Uganda, os 14 maiores hospitais públicos do país podem encher até 3.000 cilindros de oxigénio por dia e fornecer oxigénio aos hospitais menores do país. Mesmo com esses fornecimentos, o atendimento médico não está em condições de satisfazer a demanda.
Os casos de COVID-19 do Uganda foram aproximadamente 16 vezes superiores em Junho do que em Maio, quando a terceira vaga começou. Alguns especialistas acreditam que o país pode precisar de encher 25.000 cilindros de oxigénio até ao final de Julho — um número que está muito além da capacidade de produção do país.
Para além disso, os próprios cilindros são poucos, por isso, os hospitais devem enviá-los de volta para encher novamente, o que leva tempo e complica mais ainda a capacidade de satisfazer a demanda.
O Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que a gravidade da terceira vaga surpreendeu os especialistas de saúde do continente.
“A terceira vaga veio com uma gravidade que a maior parte dos países não estava preparada para tal,” disse Nkengasong. “Então, a terceira vaga é extremamente brutal.”