EQUIPA DA ADF
A variante da COVID-19 que emergiu na África do Sul em Dezembro de 2020 possui mutações que os pesquisadores receiam que possa reduzir a eficácia das vacinas que estão a ser desenvolvidas agora.
Diferentemente das antigas vacinas que utilizavam vírus mortos ou inactivos para criar imunidade, as vacinas mais populares contra a COVID-19 ensinam o sistema de defesa do corpo a reconhecer as proteínas spike que revestem a parte exterior do coronavírus para lutar contra a infecção. Estas proteínas spikes permitem que o vírus entre nas células humanas.
A variante sul-africana recentemente identificada, conhecida como 501Y.V2, possui múltiplas mutações nas suas proteínas spike.
“A razão pela qual estamos preocupados é que quanto mais variável a composição da proteína spike se torna, maior é a probabilidade de que as vacinas que estão a ser desenvolvidas actualmente não sejam capazes de agir contra esses tipos de vírus,” Shabir Madhi, especialista em vacinas e professor na Universidade de Witwatersrand, disse à SABC News da África do Sul.
Num relatório preliminar divulgado no dia 8 de Janeiro, a empresa farmacêutica Pfizer disse que os seus estudos demonstraram que a sua vacina era eficaz contra a variante sul-africana apesar das suas mutações. Contudo, o estudo não observou todo o conjunto de mutações encontradas na variante da África do Sul ou numa variante semelhante do Reino Unido.
A variante 501Y.V2 tornou-se a versão dominante da COVID-19 a circular na África do Sul, sendo responsável por mais de 80% dos novos casos.
A mesma provou ser mais transmissível do que a sua predecessora, e os que a contraem possuem uma carga viral maior, tornando-os mais contagiosos aos outros. Não está claro neste momento se a nova variante deixa as pessoas mais doentes ou não.
“Devemos esperar que esta variante continue a emergir,” disse o Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), durante o seu informe semanal do dia 24 de Dezembro. “Não conhecemos a extensão da propagação pelo continente.”
Madhi sugeriu que a nova variante provavelmente já tenha chegado aos países vizinhos da África do Sul. A Organização Mundial de Saúde apelou para que os países reforçassem a vigilância e a análise em todos os 12 laboratórios de sequenciamento de genomas para encontrar novas mutações e fortalecer a resposta do continente à pandemia.
A África do Sul registou 1,26 milhões de casos desde o começo da pandemia e mais de 34.300 mortes. Este país representa mais de um terço do número total de casos do continente e continua a ser o país com o maior aumento de infecções pela COVID-19.
As infecções aceleraram no final de 2020, aumentando em 40%. As mortes registaram um aumento em 23%, de acordo com o África CDC.
Madhi disse que não existe clareza sobre quanto desse aumento está ligado à variante versus relaxamento das medidas de distanciamento social e uso de máscaras.
“É mais provável que o aumento na transmissão da África do Sul seja uma mistura de factores,” disse Madhi. “A própria variante pode ter ajudado em termos de contribuir para o ressurgimento massivo que estamos a testemunhar.”
As variantes desenvolvem-se quando os vírus se multiplicam no seio da população, então, o aumento da variante como a da África do Sul não é incomum, de acordo com o virologista Sunday Omilabu, director do Centro de Virologia Humana e Zoonótica do Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da Universidade de Lagos, na Nigéria.
Omilabu está a estudar uma outra variante semelhante que apareceu na Nigéria por volta da mesma altura em que apareceu a da África do Sul.
Como o vírus muda à medida que se propaga, Nkengasong e outros especialistas afirmam que a chave para combatê-lo é suprimir o seu movimento no seio da população usando máscaras e evitando grandes aglomerados.
“Devemos concentrar-nos nas medidas em vigor para prevenir a transmissão da COVID,” disse Nkengasong. “Se atacamos o vírus, então, atacamos a variante.”