EQUIPA DA ADF
Na África do Sul, os investigadores afirmam que a variante Ómicron, conhecida como BA.2, tornou-se a estirpe dominante de COVID-19 naquele país, semanas depois de ser identificada.
A estirpe representa aproximadamente 100% das novas infecções, fazendo com que um dos principais investigadores do país em matéria de COVID-19, professor Tulio de Oliveira, director do Centro para Resposta Epidêmica e Inovação da Universidade de Stellenbosch, perguntasse no Twitter: “O que isso significa?”
Os investigadores e os especialistas em matéria de saúde pública em toda a África estão a fazer a mesma pergunta, numa altura em que a subvariante BA.2 demonstrou ser 1,5 vezes mais transmissível do que a sua variante-mãe, que era 40% mais transmissível do que a variante Delta que a precedeu.
Desde que foi detectada, a subvariante BA.2 surgiu no Botswana, Quénia, Malawi, Ilhas Maurícias, Moçambique e Senegal, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC).
“Se um país ainda não comunicou ter registado esta subvariante, isso não significa que ela não esteja lá. É porque os seus sistemas de vigilância não são suficientemente fortes,” o director do Africa CDC, Dr. John Nkengasong, disse durante uma recente conferência de imprensa.
As infecções pela variante Ómicron são mais ligeiras do que as anteriores variantes e comportam um menor risco de internamento, mas elas mesmo assim podem ser mortais. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 500.000 pessoas morreram de COVID-19 no mundo desde que a variante Ómicron surgiu.
Neste momento, parece que a infecção pela BA.2 cria imunidade para as outras versões da Ómicron, de acordo com o professor François Balloux, director do Instituto de Genética do Colégio Universitário de Londres.
De Oliveira publicou um gráfico demonstrando o rápido crescimento da subvariante BA.2 nas últimas semanas desde menos de 25% de casos de Ómicron quando a quarta vaga da COVID-19 atingiu o pico na África do Sul por volta do fim de 2021.
A fonte indicou que os novos casos de COVID-19 na África do Sul registaram um declínio acentuado desde que atingiram o pico no final de 2021. Contudo, o pequeno número de casos detectados são todos de BA.2.
De Oliveira afirmou que a reduzida quantidade de testes da comunidade e os focos de BA.2 nas escolas fizeram com que o actual entendimento da subvariante fosse “muito complicado.”
“Precisamos de ser cautelosos na interpretação do aumento da BA.2 e dos focos do surto,” disse ele no Twitter.
Os cientistas identificaram quatro subvariantes da estirpe Ómicron da COVID-19. A subvariante BA.2 levantou preocupações porque não contém um componente-chave que os pesquisadores utilizam para identificá-la através de testes de PCR baseados na genética e no rastreamento da sua propagação. O facto de a BA.2 ser difícil de identificar fez com que alguns a chamassem de “variante camuflada.”
Não existe clareza sobre onde a BA.2 surgiu pela primeira vez, mas foi encontrada em material genético submetido aos dados globais da COVID-19 por investigadores das Filipinas.
Variantes e subvariantes fazem parte da evolução natural do vírus da COVID-19. Quanto mais se propaga pela população, mais são as possibilidades que tem de criar novas variantes que podem propagar-se de forma rápida ou escapar do sistema imunológico humano. A variante Delta, que impulsionou a terceira vaga de infecções de África em meados de 2021, criou 200 subvariantes.
Até então, a subvariante BA.2 não demonstrou sinais de causar inovações nas infecções da forma como as variantes anteriores fizeram.
O surgimento de variantes camufladas é um lembrete de que a pandemia ainda não terminou e que a COVID-19 continua a ser uma ameaça mundial, afirmam os especialistas.
“Estamos a observar este vírus a evoluir em tempo real,” epidemiologista da OMS, Maria van Kerkhove, disse durante uma recente conferência de imprensa.