EQUIPA DA ADF
As imagens de um veículo aéreo não tripulado destruído que as Forças de Apoio Rápido (RSF) do Sudão publicaram nos seus canais de comunicação social no final de Janeiro confirmaram o que muitos observadores suspeitavam: o Irão está a fornecer drones armados às Forças Armadas do Sudão (SAF).
Através de imagens publicadas na internet pelas RSF, os peritos conseguiram identificar o veículo como um drone de combate Mohajer-6 de fabrico iraniano. As RSF afirmaram no X, antigo Twitter, que tinham abatido recentemente três drones deste tipo.
O Mohajer-6 pode transportar até quatro mísseis ar-terra, bem como equipamento de vigilância. Tem uma velocidade máxima de 200 quilómetros por hora.
Imagens de satélite divulgadas no início de Janeiro pela Planet Labs Inc. mostram drones Mohajer-6 e um veículo de controlo terrestre na pista da base aérea de Wadi Sayyidna, cerca de 22 quilómetros a norte da capital, Cartum.
A revelação foi a última escalada na luta contínua pelo controlo do Sudão entre as RSF, lideradas pelo General Mohamed Hamdan “Hemedti” Dagalo, e as SAF, lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan. O conflito matou dezenas de milhares de pessoas, deslocou 11 milhões, destruiu comunidades em Darfur e danificou fortemente a região em torno de Cartum.
Ambas as partes utilizam regularmente drones para fins de vigilância. As SAF publicaram recentemente vídeos que foram partilhados no X e que mostram ataques a posições das RSF a partir de drones kamikaze e de drones que lançam morteiros sobre os combatentes das RSF. Não ficou claro se os drones que aparecem nos vídeos eram de fabrico iraniano.
As RSF, por sua vez, utilizam os seus próprios drones para vigiar e atacar as forças das SAF, bem como mísseis terra-ar capazes de abater drones e outras aeronaves.
Em Dezembro, as autoridades visitaram o Irão em busca de tecnologia de drones mais mortíferos para ajudar as SAF a recuperar o terreno perdido para as RSF, que controlam agora grande parte do Darfur e do sul do Sudão, incluindo terras agrícolas importantes no Estado de El Gezira. As SAF, que operam em grande parte a partir de Port Sudan, controlam o corredor do Rio Nilo e as províncias orientais, incluindo a costa do Mar Vermelho.
A presença do Mohajer-6 e de drones semelhantes é um lembrete de que as SAF continuam a confiar em ataques aéreos e armamento pesado contra as RSF, cujos combatentes serviram como forças terrestres das SAF durante o regime do ditador deposto Omar al-Bashir. Os combatentes das RSF tomaram posições em edifícios residenciais e hospitais, o que resultou em danos em grande escala e na perda de vidas devido aos ataques das SAF contra estes.
O Sudan War Monitor confirmou a chegada de aviões de carga iranianos ao Sudão em finais de Janeiro. Poucos dias depois, funcionários sudaneses em nome das SAF estavam de novo no Irão a negociar o restabelecimento das relações diplomáticas após uma interrupção de sete anos.
Analistas do Sudan War Monitor afirmam que o envolvimento do Irão do lado das SAF ameaça transformar o conflito interno do Sudão numa guerra por procuração entre o Irão e os Emirados Árabes Unidos, que forneceram armas e outros materiais às RSF em troca de ouro contrabandeado do Darfur.
Do outro lado do Mar Vermelho, no Iémen, o Irão fornece drones aos rebeldes Houthi para ataques contra os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. Os observadores receiam que a venda de drones pelo Irão lhe dê uma base de apoio no Sudão a partir da qual possa influenciar outros países da África do Norte e Central.
Escrevendo no Medium, o analista Ira Sahani sugeriu que a adição de drones iranianos poderia inclinar o conflito a favor das SAF.
“A introdução de drones iranianos acrescenta uma camada de complexidade a um conflito já intrincado,” escreveu Sahani. “A utilização de armamento avançado numa guerra civil não só aumenta a violência como também suscita preocupações quanto ao potencial de desestabilização regional.”