Issimail Chanfi, representante permanente das Ilhas Comores nas Nações Unidas,
proferiu um discurso durante a Série de Diálogos sobre África 2021, no dia 28 de Maio de 2021. O Gabinete da Conselheira Especial da ONU para África patrocinou o evento. O tema da série foi “Identidade cultural e posse: reformulando a forma de pensar.” Os comentários de Chanfi foram editados para se adequarem a este formato.
Durante a Série de Diálogos sobre África deste mês testemunhamos que uma nova narrativa é, de facto, possível se apenas pudermos dar a voz aos especialistas africanos.
Mostramos ao mundo que África é um continente com muitos inovadores que estão prontos para enfrentar os desafios emergentes a partir de uma perspectiva africana e tendo em conta as necessidades e as realidades africanas.
Observamos que a cultura e a identidade são ferramentas poderosas que podem possibilitar os países africanos a assumirem o protagonismo do seu desenvolvimento. Mas para este fim, como sugere o tema da Série de Diálogos sobre África, precisamos de reformular a forma de pensar; temos de mudar de perspectiva.
África não deve continuar a ser considerada como um continente que precisa de “ajuda.” O passado e o presente de África apresentam-nos muitas histórias de sucesso. As grandes civilizações nasceram no continente sem a ajuda de actores externos.
Projectos ambiciosos estão a ser promovidos nos nossos dias, como a Zona de Comércio Livre Continental Africana, que deverá ser o maior e mais importante mercado do mundo.
Os países africanos estão prontos para liderar a nova abordagem do desenvolvimento. Para implementar esta nova abordagem, os países africanos precisam de parceiros comprometidos, parceiros que respeitam o papel de África como o actor global, parceiros que garantem que as desigualdades do passado não sejam utilizadas para manter um desequilíbrio global.
2021 é um ano de esperança e oportunidade para África e para o mundo. Conforme foi observado durante estes três dias de debates, as interrupções causadas pela COVID-19 fornecem uma oportunidade para todos nós, para construirmos mais e construirmos melhor. A COVID-19 indicou claramente quais devem ser as prioridades.
Demonstrou a importância do capital humano. A saúde e a educação não podem continuar a ser compreendidas apenas como “direitos sociais.” Elas são componentes fundamentais do desenvolvimento. Investir na saúde e na educação, investir no capital humano é garantir que a nossas sociedades sejam resilientes e capazes de vencer futuras pandemias.
A COVID-19 também provou o quanto é necessário viver em comunhão com a natureza. O crescimento económico deve ser abordado a partir de uma perspectiva de sustentabilidade ambiental. Iniciativas como a economia azul, que é promovida pelos países africanos e pela União Africana — baseada no uso sustentável dos recursos do oceano para o crescimento económico, melhoria dos meios de subsistência e da saúde dos ecossistemas — constituem o nosso futuro.
A COVID-19 também demonstrou que a industrialização é uma prioridade e uma responsabilidade para os países africanos e seus parceiros internacionais.
Vamos fazer da crise uma oportunidade. Vamos transformar o risco de uma divisão da vacina numa oportunidade para criar uma África mais forte e que contribui para a prosperidade global.
Em vez de procurar resolver a carência de vacinas em todo o mundo de uma forma tradicional, precisamos de aproveitar a oportunidade para aumentar a capacidade de África de produzir as suas próprias vacinas e, consequentemente, fortalecer a resiliência do continente e o seu caminho em direcção ao desenvolvimento.
Temos as ferramentas. Apenas precisamos de vontade política e do compromisso dos nossos parceiros para tornar este plano uma realidade.