EQUIPA DA ADF
As autoridades nigerianas reabriram, no início de Dezembro, a linha férrea entre Kaduna e Abuja, oito meses depois de ter sido atacada por bandidos locais e terroristas do Boko Haram.
Pelo menos 10 pessoas foram mortas no bombardeamento da linha férrea em Março. A maior parte das 170 pessoas, cujo paradeiro ficou desconhecido depois do ataque, foram eventualmente libertas após o pagamento de um resgate.
Não foi a primeira vez que a organização terrorista esteve ligada a ataques conjuntos com bandidos locais.
As autoridades militares nigerianas revelaram a sua suspeita de tal cooperação em 2021, quando se soube que o Boko Haram estava a treinar bandidos para utilizarem armas antiaéreas, explosivos e outros armamentos, de acordo com a reportagem da Agence France-Presse.
O Ministro da Informação da Nigéria, Lai Mohammed, confirmou a ligação entre o Boko Haram e os bandidos nigerianos, em Abril, depois de mais de 150 pessoas terem sido mortas no ataque a aldeias, no Estado de Plateau.
“O que está a acontecer agora é que existe um tipo de aperto de mão profano entre os bandidos e os insurgentes do Boko Haram,” disse Mohammed à Al-Jazeera.
Como especialista em segurança, Folahanmi Aina observou, num artigo recente para o The Conversation, que os bandidos na sua maioria estão interessados em enriquecer e explorar as lacunas de governação, enquanto o Boko Haram procura estabelecer a lei da Sharia e um califado, um Estado político-religioso.
Contudo, os grupos podem ter um interesse em comum: adquirir armas para cometer crimes para ganhar dinheiro ou crimes motivados por ideologias e para lutar contra as forças de segurança da Nigéria.
Os bandidos armados muito recentemente semearam caos na região noroeste da Nigéria, onde, na essência, são considerados terroristas, Aina, do Kings College London, disse à ADF. O governo assumiu uma abordagem militarista para erradicar os bandidos.
“Se houver qualquer conhecimento sobre o noroeste da Nigéria, é que esta é uma das regiões com uma das maiores taxas de pobreza, de desigualdades e desemprego no país,” disse Aina. “Por isso, não se pode negligenciar os problemas socioeconómicos subjacentes sob pena de se seguir uma abordagem excessivamente militarista.”
Aina disse que problemas semelhantes prejudicam a luta contra os extremistas, que aprendem a adaptar-se ao uso da força com o tempo.
“Eles retiram-se para as sombras e voltam novamente quando já tiveram uma chance de recuperar-se,” disse Aina. “E ainda substituem os seus números perdidos por novos recrutas na mesma sociedade. Mas se estes problemas socioeconómicos forem abordados, haverá menos incentivos para que alguém que tenha um emprego normal deixe esse emprego para ir juntar-se à causa da jihad.”
Enquanto o extremismo aumenta no noroeste da Nigéria, os observadores estão preocupados de que a região, em pouco tempo, venha a tornar-se uma ponte terrestre, que liga as insurgências islâmicas, no centro do Sahel, com a insurgência que já dura há uma década, na região do Lago Chade, no noroeste da Nigéria, de acordo com um relatório do Grupo Internacional da Crise.
Embora não exista uma forma simples de impedir que os extremistas façam parcerias com os bandidos, Aina argumentou no The Conversation que o governo da Nigéria deve agir de forma rápida para lidar com as causas fundamentais da crise de longa data entre agricultores e pastores, naquele país, que contribui para a proliferação de armamento naquela região.
“A fraca governação deve ser substituída por uma governação centrada no povo, dado que a primeira contribuiu para o surgimento tanto do jihad quanto do banditismo em toda a Nigéria,” escreveu Aina.