EQUIPA DA ADF
Enquanto a Tunísia confronta uma segunda vaga de COVID-19, médicos em todo o país receberam com agrado um novo aliado na sua luta — um programa de inteligência artificial (IA) que pode identificar potenciais infecções do coronavírus em raios-X e tomografias computorizadas.
O programa de IA oferece diagnósticos baratos e mais rápidos do que os testes laboratoriais tradicionais. Os largamente usados testes de reacção em cadeia da polimerase (RCP) requerem ambientes esterilizados e reagentes dispendiosos e podem levar dias para produzirem resultados. O programa de IA gera resultados de forma muito mais rápida e em massa, disse o professor Mustapha Mamdi, que desenvolveu o software no início deste ano, no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Tunísia, com financiamento da agência alemã de cooperação e desenvolvimento, GIZ. O Ministério de Saúde da Tunísia aprovou a tecnologia.
“O método RCP possui limitações em termos de recolha de amostras, tempo necessário para as análises e disponibilidade,” disse Hamdi à ADF. “Isto faz com que os diagnósticos da COVID-19 dos pulmões a partir de raios-X ou tomografias computorizadas dos pacientes sejam um bom candidato para a IA, que poderia ajudar a acelerar as análises dos scans, que apoiam os especialistas.”
A Tunísia reabriu as suas fronteiras em finais de Julho em esforços para revitalizar o turismo. Seguiu-se um reaparecimento de casos da COVID-19. Até meados de Novembro, o país tinha registado mais de 88.700 casos e mais de 2.800 mortes.
Com casos de COVID-19 a aumentarem em todo o mundo, a elevada demanda de reagentes químicos utilizados nos testes laboratoriais pode fazer com que os preços subam ou com que os resultados demorem mais tempo.
A abordagem da Tunísia vence esse problema, de acordo com Hamdi. O software também foi concebido para realizar testes em massa de forma rápida, algo que o teste baseado em reagentes tem dificuldades em fazê-lo, acrescentou ele.
O programa de IA foi desenvolvido com recurso a milhares de raios-X do peito e tomografias computorizadas, que os médicos identificaram como contendo lesões do “vidro fosco”, que indicam o tipo de inflamação do pulmão ou pneumonia que acompanha a COVID-19. Normalmente, os tecidos do pulmão aparecem com cor escura num raio-X.
Ao utilizar a IA para procurar pela impressão digital da COVID-19 dentro do pulmão do paciente, o pessoal médico pode determinar se a pessoa tem o vírus, de acordo com o estudante de doutoramento, Omar Khouaga, que trabalhou no software. Os desenvolvedores dizem que a tecnologia possui uma precisão de 90%.
“Para obter maior precisão, podemos perguntar quais são os sintomas convencionais da COVID-19, tais como o cansaço, febres, etc.,” disse Hamdi.
O sistema ainda precisa de acertos para atender aos pacientes que possam ter contraído a COVID-19 sem desenvolver sintomas, de acordo com Hamdi.
A nova tecnologia já demonstrou ser especialmente útil para profissionais de saúde nas zonas rurais do país, onde os hospitais podem ter raio-X e tomografias computorizadas, mas poucos radiologistas para interpretar as imagens.
Nesses casos, a IA baseada na internet pode filtrar as imagens e detectar os principais indicadores da COVID-19, antes de os radiologistas da cidade os possam rever para confirmar o diagnóstico, disse Hamdi.
“Isto ajuda a realizar um grande número de diagnósticos em tão pouco tempo,” acrescentou.
Hamdi e a sua equipa começaram a treinar o seu programa de IA a reconhecer outros problemas de saúde, incluindo cancro de pulmão, através de imagens de raio-X e tomografia computorizada. Eles querem colaborar com profissionais de saúde de outros países para expandir o uso da IA.
“Para além disso, estamos interessados em oferecer acesso gratuito às comunidades dos refugiados e dos desfavorecidos,” disse Hamdi.