EQUIPA DA ADF
Assolada por governos fracos, dilacerada por conflitos internos e marcada pela violência, a região do Sahel é actualmente o epicentro mundial do terrorismo, apesar de outras partes do mundo terem registado um declínio nos últimos anos, de acordo com o Índice Global de Terrorismo.
“O terrorismo está a tornar-se mais concentrado,” disse Steve Killelea, fundador e presidente executivo do Instituto para Economia e Paz (IEP), que produz o índice anual, também conhecido como GTI, com base em dados de 163 países.
Este fenómeno concentrou-se particularmente nos países do Sahel, que representam 43% de todas as mortes causadas pelo terrorismo a nível mundial, contra apenas 1% em 2007. A região registou um aumento de 8% no número de mortes relacionadas com o terrorismo em 2022, ao mesmo tempo que o número de mortes semelhantes diminuiu em todo o mundo, disse Killelea ao publicar o relatório.
O Burquina Faso e o Mali representam, em conjunto, 52% de todas as mortes relacionadas com o terrorismo em África, de acordo com o relatório.
Ao mesmo tempo que os ataques terroristas estão a aumentar no Sahel, estão também a tornar-se mais mortíferos. O número de pessoas mortas em ataques aumentou quase 50% entre 2021 e 2022.
O ponto mais quente do índice é a região administrativa do Sahel do Burquina Faso, onde o país se encontra com o Mali e o Níger. Os três países sofreram golpes de Estado militares motivados, em parte, pela frustração face à incapacidade dos governos civis em combater o terrorismo. No entanto, as juntas militares têm tido pouca sorte na contenção da violência extremista.
O Burquina Faso ocupa o segundo lugar no índice, atrás do Afeganistão, no que diz respeito ao número de acções terroristas e às mortes resultantes, entre 2021 e 2022. O Mali e o Níger juntam-se ao Burquina Faso na lista dos 10 piores países do mundo em termos de terrorismo.
A Nigéria, que também consta da lista, “registou uma melhoria agradável,” afirmou Killelea.
No relatório do GTI 2023, a Nigéria registou o número mais baixo de ataques e mortes desde 2011. O analista de dados nigeriano, Babajide Ogunsanwo, disse à Channels Television que as recentes sondagens de opinião pública revelaram um maior sentimento de segurança em todo o país — excepto na região noroeste, que faz fronteira com o Burquina Faso e o Níger.
O Benin e o Togo, que fazem fronteira com o Burquina Faso a sul, evitaram até agora o tipo de violência e de derramamento de sangue que está a acontecer no seu norte. No entanto, o índice captou alguns indicadores preocupantes, de acordo com Masood Karimipour, chefe do Departamento de Prevenção do Terrorismo, no Gabinete das Nações Unidas contra a Droga e o Crime.
O Benin, por exemplo, registou um aumento de 15 mortes relacionadas com o terrorismo em 2022 — um número pequeno, mas que Karimipour considera alarmante.
“Vemos que o recrutamento e a radicalização estão a aumentar, o que pode ser uma tendência adversa para o futuro,” afirmou durante a divulgação do relatório.
Em muitos casos, os ataques terroristas no Sahel são lançados por pessoas que os analistas de Killelea chamam de “jihadistas desconhecidos,” que não expressam lealdade a redes terroristas estabelecidas, como o grupo do Estado Islâmico (EI). Segundo os analistas, os ataques são frequentemente motivados por queixas locais, como a falta de serviços públicos ou de oportunidades económicas, e não por simpatia pelo EI ou por grupos semelhantes.
Por essa razão, os governos devem olhar para além das suas forças armadas quando respondem ao terrorismo no Sahel, disse Karimipour. Os países devem antes abordar as causas subjacentes, como o stress económico, os conflitos interétnicos e as pressões sobre os recursos, se quiserem controlar o terrorismo, acrescentou.
“Estes não são meros dados estatísticos,” afirmou Karimipour. “Trata-se de uma questão de vida ou morte para as populações do Sahel.”