EQUIPA DA ADF
Uma vaga de ataques recentes perpetrados por terroristas islâmicos, no norte da Costa do Marfim, indica que os piores receios do país estão a tornar-se realidade: o sangrento conflito no Sahel está a propagar-se para os Estados costeiros da África Ocidental.
Os militantes lançaram pelo menos sete ataques em 2021, próximo da fronteira com o Burquina Faso, um país vizinho a norte, assolado por frequentes ataques islâmicos. Desde 2015, foram assassinados mais de 1.300 burquinabês, e mais de um milhão de pessoas fugiram das suas casas.
Há anos que organizações extremistas violentas têm feito esforços para avançar para o sul, rumo ao Golfo da Guiné e a algumas das economias de crescimento mais rápido em África, de acordo com William Assanvo, investigador do Instituto de Estudos de Segurança, situado na Costa do Marfim.
“Todos os países costeiros estão expostos a esta ameaça, pelo menos os países que fazem fronteira com o Burkina Faso e com o Mali,” disse à Radio France Internationale.
“A multiplicação dos ataques, que observamos no norte da Costa do Marfim, reflecte o desejo de certos grupos ligados a este movimento de trazer a luta armada aos territórios costa-marfinenses.”
Terroristas islâmicos atacaram a Costa do Marfim pela primeira vez, em 2016, quando militantes mataram 19 pessoas, incluindo vários cidadãos ocidentais, numa estância turística de praia. Em 2017, a inteligência burquinabê alertou os vizinhos do sul, como o Benin, o Togo e o Gana, para a presença de militantes islâmicos nos seus países. Mais tarde nesse mesmo ano, esses quatro países juntaram-se à Costa do Marfim, num esforço de colaboração de segurança denominado Iniciativa de Acra.
Depois de detectarem extremistas no norte da Costa do Marfim, em 2019, 1.000 soldados costa-marfinenses, juntamente com forças burquinabês, lançaram a primeira operação conjunta, em Maio de 2020.
Foram mortos oito membros do grupo militante islâmico, denominado Frente de Liberação de Macina, e outros 16 foram presos na Costa do Marfim e 24 no Burkina Faso.
Pensa-se que a célula terrorista estivesse focada no estabelecimento de uma rede no norte da Costa do Marfim, para explorar diferenças étnicas, religiosas e políticas — uma estratégia que a al-Qaeda tem utilizado com eficácia na região da fronteira tripla do Sahel, entre Burkina Faso, Mali e Níger.
Semanas mais tarde, os militantes islâmicos atacaram uma base militar na cidade fronteiriça costa-marfinense de Kafolo, durante uma incursão antes do amanhecer, matando 11 soldados e um agente da polícia e ferindo seis pessoas.
“Retaliação ou não, não existem duas causas,” afirmou o antigo Ministro da Defesa, Hamed Bakayoko. “Este foi um ataque terrorista para destruir, para desorganizar os Estados e para impor um modelo social.
“Os terroristas estão ligados aos narcotraficantes e estão à procura de rotas de tráfico para ter acesso a um porto.”
No dia 13 de Julho de 2020, o governo anunciou a criação de um sector militar especial: “A Zona Operacional Norte vai permitir-nos passar da fase de vigilância de fronteiras para uma postura defensiva, com uma forte capacidade de reversibilidade numa missão ofensiva, para evitar qualquer infiltração destes grupos armados no território nacional.”
Em Março de 2021, o exército disse que “cerca de 60 terroristas com armamento pesado, vindos do Burkina Faso,” voltaram a atacar Kafolo. Uma recente série de ataques incluiu pelo menos três explosões de DEI (Dispositivos Explosivos Improvisados).
Os ataques extremistas islâmicos ligados à al-Qaeda e ao Estado Islâmico também aumentaram no Sahel durante este ano, apesar da presença de milhares de tropas militares multinacionais e 15.000 membros da força de manutenção da paz das Nações Unidas.
A França, que também possui 900 tropas numa base militar na Costa do Marfim, anunciou, na mais recente cimeira do G5 Sahel, que fará avançar as suas tropas para o sul, para acabar com a ameaça aos Estados costeiros.
“Os nossos inimigos abandonaram as suas ambições territoriais a favor da propagação da sua ameaça, não só ao longo do Sahel, mas ao longo de toda a África Ocidental,” disse o presidente francês, Emmanuel Macron, no dia 9 de Julho. “Infelizmente, esta ofensiva implica uma pressão crescente em todos os países do Golfo da Guiné, o que já é uma realidade.”
Embora a Costa do Marfim não seja um membro do G5 Sahel, nos últimos anos, o país reforçou o seu envolvimento na luta contra o terrorismo. No final de 2018, o governo anunciou a criação de uma Academia Internacional de Combate ao Terrorismo, que foi inaugurada em Junho de 2021.
O país também reforçou a sua cooperação com o Burkina Faso.
“Acreditamos que a luta contra o terrorismo não pode ser liderada por um único Estado,” disse o ministro da defesa costa-marfinense, Téné Birahima Ouattara, aos jornalistas, após a reunião com o seu homólogo do Burkina Faso, em Maio. “Devemos conjugar os nossos esforços, mantermo-nos mutuamente informados e tentar organizar os nossos meios para lutar eficazmente contra este flagelo.”