EQUIPA DA ADF
Milhares de membros da tribo Dar Hamar reuniram-se numa manifestação de apoio às Forças Armadas do Sudão (SAF) na região do Cordofão Ocidental, em meados de Novembro.
Num dos poucos locais do Cordofão Ocidental ainda controlados pelo exército sudanês, gritavam “Um Exército, Um Povo” e “Toda a Força, Avante para Fula,” segundo o Sudan War Monitor.
“As profundezas da terra são preferíveis à superfície se as Forças de Apoio Rápido [RSF] invadirem a nossa terra,” o emir Abdulqadir Moniem Mansour, líder das tribos árabes Hamar, disse à multidão.
Não havia uma grande presença militar em An-Nahud antes da guerra, mas uma mistura de forças militares e combatentes irregulares juntaram-se para afastar as RSF, incluindo combatentes tribais alinhados com as SAF, que são referidos como “forças de reserva.” Embora as RSF tenham atacado aldeias em vários lados de An-Nahud, até ao início de Dezembro não tinha atacado a cidade propriamente dita.
Mansour caracterizou os Dar Hamar, que são essencialmente pastores, como a “válvula de segurança” do Sudão e sublinhou que, embora algumas tribos tenham sido influenciadas por presentes e donativos dos líderes das RSF, os Dar Hamar estão empenhados na unidade nacional e na integridade territorial do Sudão.
O comício foi semelhante aos organizados pelas RSF para mobilizar os combatentes da tribo Misseriya na parte sul do Cordofão Ocidental. O segundo maior grupo étnico do Sudão, os Misseriya, pastores nómadas, são um dos principais constituintes das RSF.
O activista Al-Taqi Musleh censurou a mobilização tribal de Dar Hamar e acusou membros do Partido do Congresso Nacional, já dissolvido, de manipularem a tribo para incitar ao conflito entre os Dar Hamar e os Misseriya, noticiou o Sudan War Journal. Al-Taqi advertiu também contra a crença de que um conflito entre as duas tribos levaria os Misseriya a mudar de lado e a juntar-se às SAF. Exortou as tribos do sul do Estado a não se contra-mobilizarem e a concentrarem-se na prevenção de conflitos tribais.
A tribalização e a etnização do actual conflito foram cultivadas em particular pelas RSF no seu recrutamento de Hawazma, Kenana e Misseriya no Cordofão do Sul, segundo o Small Arms Survey. No final de 2023 e início de 2024, as tensões entre os chefes tribais Dar Hamar e Misseriya intensificaram-se após as RSF terem revelado planos para consolidar o controlo sobre a região do Cordofão. Isso provocou a reacção de figuras proeminentes dos Misseriya que se opõem que a guerra seja levada para os seus territórios.
“Existe um consenso generalizado no seio da tribo contra o controlo das RSF sobre as zonas de Diyar Misseriya no Estado do Cordofão Ocidental,” um dirigente anónimo Misseriya disse ao Sudan Tribune. “A administração nativa tem mediado activamente entre as duas partes para manter a paz e evitar confrontos armados.”
O dirigente reconheceu que, apesar destes esforços, as RSF continuam determinadas a expandir a sua influência. O dirigente atribuiu a resistência dos Misseriya ao historial de violações das RSF contra civis e de violações generalizadas dos direitos humanos nas zonas que controlam. Em meados de Novembro, as RSF pediram aos líderes tribais que reunissem os combatentes com o objectivo de os enviar para os pontos críticos, incluindo Cartum e El Fasher no Darfur do Norte. Este facto suscitou receios de que pudesse aprofundar as hostilidades tribais e agravar a dimensão étnica do conflito.
Para os Misseriya, lutar ao lado das RSF é enquadrado como um “dever sagrado” para preservar a sua posição e evitar potenciais represálias se as SAF ganharem a guerra. “Lutaremos ao lado das RSF até ao último soldado,” um líder anónimo Misseriya disse ao Dabanga Sudan.
Existe um historial de violência entre os Dar Hamar e os Misseriya no Cordofão Ocidental e noutras zonas. Em Agosto de 2022, um diferendo fronteiriço entre ambas as partes deu origem a actos de violência, quando os Misseriya ergueram um cartaz em Abu Zabady, afirmando que a cidade lhes pertencia. Quando os Dar Hamar tentaram retirar o cartaz, os Misseriya dispararam contra eles, informou o Dabanga Sudan. Pelo menos seis pessoas morreram e um número desconhecido ficou ferido. Os combates continuaram no dia seguinte, altura em que foram mortas mais quatro pessoas.
O activista El Manna Mohamed disse à Radio Dabanga que a situação permaneceu tensa durante dias, embora o recolher obrigatório e o destacamento de forças governamentais tenham ajudado a acalmar os ânimos, enquanto os líderes da administração local trabalhavam para conter a situação.
“No entanto, há grandes grupos de membros de tribos de ambos os lados que permanecem na cidade, em particular no bairro de Sangaa, a norte de Abu Zabad,” disse Mohamed. “Continua a ser um caos.”
As tribos voltaram a lutar durante dois dias no Cordofão Ocidental, em Novembro de 2022, quando seis pessoas foram mortas, dezenas ficaram feridas, várias casas foram incendiadas e a aldeia de Um Shalakla foi destruída.