EQUIPA DA ADF
À medida que a África luta contra a pandemia da COVID-19, as autoridades da saúde e da medicina empregam uma arma cada vez mais poderosa: a tecnologia digital.
O aumento das ligações à internet, aliado ao uso crescente da tecnologia informática e dos smartphones, trouxe os mais actualizados dados da COVID-19 para os laboratórios de pesquisa de África. Também permitiram que houvesse inovações do sector privado tais como aplicativos de telefones para o rastreio de contactos.
“A pandemia da COVID-19 deixou clara a urgência de o continente ter de acelerar estes esforços,” disse Dr. Monde Muyangwa, director do programa africano do Wilson Center, durante uma recente conferência que debateu os efeitos da COVID-19 sobre a tecnologia em África.
As empresas privadas e investidores de capital começaram a investir na tecnologia — tais como na moeda digital no Quénia e na banca com recurso a telemóveis na Nigéria — visando aliviar o impacto económico dos confinamentos obrigatórios e de outras medidas de restrição impostas para acabar com a propagação da COVID-19.
Entretanto, o Ruanda deu passos para estabilizar o campo de acção digital em tempos da COVID-19, mas pensando no futuro.
“O que temos vindo a fazer é colocar em vigor uma estrutura de políticas e regulamentos que facilitem o acesso, tendo em consideração a acessibilidade, mas também, tirando proveito do espectro de todos estes operadores a preços acessíveis,” disse Paula Ingabire, Ministra de Inovações e de Tecnologias de Informação e Comunicação do Ruanda, falando num painel do Banco Mundial.
O painel discutiu sobre Digital Moonshot, um projecto de 100 bilhões de dólares lançado pela União Africana, visando expandir a internet de banda larga para todo o continente até 2030.
Ingabire disse que a liderança do Ruanda quer que o país seja um campo de testes para novas tecnologias digitais — nas suas próprias palavras, “um centro de validação de conceitos.”
No Quénia, a Ultra Red Technologies utiliza impressoras 3D digitais para criar viseiras para funcionários da saúde. O sistema de fornecimento de medicamentos com rastreio móvel, mTrac, do Uganda, uma parceria público-privada, permite que os funcionários do sector de saúde comuniquem sobre a carência de medicamentos através de mensagens de texto. O Gana foi o primeiro país a adoptar o software móvel PanaBIOS da UA, o qual faz o rastreio de aglomerados e ajuda os utilizadores a comprovar o seu estado de COVID-19 nos postos fronteiriços.
As ligações digitais também trouxeram os laboratórios de pesquisa africanos para a linha da frente na busca por um tratamento ou uma vacina contra a COVID-19. Graças a ligações à internet de alta velocidade nas grandes cidades, os pesquisadores de Dakar, Adis Abeba, Cidade do Cabo e outras partes podem partilhar as suas constatações com os seus colegas na Europa, Ásia e nas Américas, fazendo com que a busca pela cura seja realmente uma colaboração global, de acordo com Dra. Matshidiso Moeti, directora dos Escritórios Regionais da Organização Mundial de Saúde para África, em Brazzaville, na República do Congo.
“As redes deram fim ao isolamento dos cientistas e pesquisadores africanos,” Meoli Kashorda, director da Rede de Ensino do Quénia, declarou recentemente à revista African Renewal das Nações Unidas. “Agora pode-se ter acesso à informação dos países mais desenvolvidos, e isto está a mudar a forma como as pessoas pensam.”
Mas a pandemia também colocou em destaque os desafios digitais que ainda existem em muitos países, disse Muyangwa.
Em muitas partes de África, o acesso à internet está a aumentar de forma lenta em comparação com o acesso aos telemóveis. Os regulamentos governamentais labirínticos complicam o desenvolvimento de novas tecnologias, e os países sem ligação ao mar têm mais dificuldades em relação aos seus vizinhos das regiões costeiras no que tange a ligações a cabos submarinos. Os serviços de telecomunicações também continuam a ser mais caros em África do que em outros lugares.
“Existe uma necessidade tremenda de se construir redes de fibra óptica não apenas nas zonas urbanas, mas também nas zonas rurais,” Nicolai Beckers, PCA da BBM & Partners Telecoms Advisors e antigo PCA da Ooredoo Algerie, disse aoBusiness Africa. “A procura do povo claramente existe, mas a oferta está claramente em falta.”
Para algumas pessoas, tais como Lanre Kolade, PCA da CSquared, uma empresa de telecomunicações sediada no Quénia, esperar que o Digital Moonshot cumpra com a sua meta de 2030 é muito tempo.
“É preciso fazê-lo agora,” disse ao painel do Banco Mundial. “É necessário que seja de acesso livre. Seremos digitalmente colonizados aqui em África se não fizermos as coisas agora.”