EQUIPA DA ADF
A Tanzânia está a aprender o quão difícil é fazer com que os seus cidadãos levem a pandemia a sério depois de o antigo presidente ter sido o incrédulo mais proeminente da COVID-19 no país.
O anúncio da morte do Presidente John Magufuli, no dia 17 de Março de 2021, pela Vice-Presidente, Samia Suluhu Hassan, marcou o começo de uma viragem dramática nas políticas da COVID-19 do país.
Mas os meses que se seguiram revelaram o quanto o cepticismo se tinha tornado generalizado e profundamente enraizado na Tanzânia.
“As pessoas ainda estão com dúvidas, visto que houve muita informação enganosa quando a COVID-19 primeiramente chegou à Tanzânia,” Deus Kitapondya, um especialista em matérias de medicina de emergência sediado em Dar es Salaam, disse à revista online, Quartz Africa. “Muitos políticos negaram a existência do vírus. Eles promoveram as ervas locais e (diziam-nos que fizéssemos) orações para que o vírus desaparecesse.”
Nos primeiros dias da pandemia, o Ministério de Saúde da Tanzânia registou o primeiro caso do país — uma mulher tanzaniana de 46 anos de idade, que veio num voo proveniente da Bélgica, no dia 14 de Março de 2020. Testes laboratoriais confirmaram o diagnóstico.
Mas no dia 29 de Abril de 2020, a Tanzânia parou de divulgar as taxas de infecção e as mortes pela COVID-19. Na altura, havia 509 casos confirmados e 39 mortes num país de aproximadamente 60 milhões de habitantes.
O Presidente Magufuli, no dia 8 de Junho de 2020, declarou que o país estava “livre do coronavírus” e disse que Deus eliminou o vírus depois de três dias de orações a nível nacional. Ele e a sua administração promoveram a inalação de vapor e remédios à base de ervas para tratar os sintomas.
As autoridades prenderam e detiveram os críticos da resposta do governo à pandemia e censuraram os meios de comunicação social.
Até ao dia 1 de Fevereiro de 2021, a Ministra de Saúde, Dra. Dorothy Gwajima e a sua adjunta compareceram diante da imprensa e beberam uma mistura de limão, gengibre e alho como um possível remédio natural.
Magufuli, que governou a Tanzânia por pouco mais de cinco anos, morreu em meio a rumores de que tinha contraído a COVID-19. Quando Hassan o sucedeu, rapidamente começou a reverter a abordagem do país em relação à pandemia.
Ela usava a máscara em público, abriu instalações de testagem e criou uma força-tarefa para determinar a gravidade da pandemia e uma abordagem adequada.
Dois meses depois, seguindo as recomendações da força-tarefa, Hassan reiniciou a vigilância e implementou medidas de controlo das fronteiras para que os viajantes apresentassem testes negativos de COVID-19.
É uma batalha penosa e a desinformação persiste por parte de políticos leais a Magufuli.
“É difícil mudar a forma de pensar dos cidadãos que eram ditos que a COVID-19 podia ser tratada com recurso a métodos tradicionais e orações,” analista Bubelwa Kaiza disse ao jornal tanzaniano, The Citizen. No dia 28 de Junho de 2021, Hassan anunciou as estatísticas da COVID-19 ao público pela primeira vez em mais de um ano.
Ela anunciou a existência de 100 casos, incluindo 70 em ventiladores e nenhuma morte. No entanto, ela não estabeleceu a periodicidade para a divulgação das estatísticas.
Como parte dos requisitos de um empréstimo de emergência de 567 milhões de dólares do Fundo Monetário Internacional para combater a COVID-19, é necessário que a Tanzânia divulgue os seus dados. Mas as actualizações são esporádicas.
No início de Agosto, o número de casos registados no país disparou para 16.970, com 50 mortes. Mais de um mês depois, contudo, aquelas estatísticas ainda não foram actualizadas.
“Ainda não existe uma abordagem verdadeiramente abrangente,” disse o Dr. Kitapondya. “Estamos a notar a existência de grandes aglomerados de pessoas com muito poucas delas usando máscaras. Existe pouco distanciamento social. Muitos ainda nem se quer estão a aderir às medidas de prevenção.”