EQUIPA DA ADF
O distrito de Nangade, no norte de Moçambique, tem sido uma das zonas mais voláteis do país durante o conflito na província de Cabo Delgado. Apenas seis das 51 aldeias do distrito não foram afectadas pela violência desde o início dos combates, há cerca de cinco anos.
Em Janeiro de 2023, os insurgentes raptaram oito pessoas enquanto trabalhavam nos seus campos na aldeia de Chacamba. Sete prisioneiros foram libertos, mas o oitavo foi decapitado, noticiou o jornal Club of Mozambique.
Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS), da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) e dos aliados internacionais obtiveram ganhos contra o grupo extremista Ahl al-Sunna wal-Jama’a (ASWJ).
Nos primeiros 10 meses do ano, registaram-se apenas sete eventos de violência política em Nangade e apenas quatro deles foram atribuídos à ASWJ, de acordo com o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
Um dos últimos avistamentos confirmados de insurgentes foi em finais de Março, quando os combatentes foram vistos perto de Namatil, onde se renderam, informou o jornal moçambicano Zitamar News.
Os sucessos militares levaram o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, a declarar, em Maio, que a situação de segurança em Cabo Delgado tinha voltado ao normal.
O Presidente do Ruanda, Paul Kagame, concordou que foram feitos grandes progressos na luta contra os terroristas.
“Oitenta por cento do problema da insurgência foi resolvido,” disse Kagame numa reportagem da Bloomberg, em Junho.
Com os insurgentes a fraquejar, a Força de Defesa Popular da Tanzânia começou a retirar as tropas de Nangade em Novembro. As forças da SAMIM começaram a partir em Dezembro, com o objectivo de se retirarem completamente até Julho de 2024.
No entanto, tal como o Zitamar noticiou, há indícios de que a situação de segurança de Nangade ainda não está resolvida e alguns analistas receiam que a retirada das tropas possa ser prematura.
De acordo com uma avaliação efectuada em Agosto pela ReliefWeb, apenas “algumas” das 64.880 pessoas deslocadas no distrito regressaram a casa — e a maior parte apenas permaneceu temporariamente.
Os receios de segurança foram a principal razão para os regressos temporários, especialmente no que diz respeito aos “movimentos regulares dos NSAG [grupos armados não estatais] nas zonas rurais,” onde os residentes regressam para cultivar e inspeccionar e limpar as suas propriedades, informou a ReliefWeb.
Há também relatos não confirmados de contrabando de pessoas, através da fronteira com a Tanzânia, uma rota comum que liga a insurgência ao Burundi, à República Democrática do Congo e à Tanzânia, informou o Zitamar.
A retirada das forças da SAMIM e da TPDF deixará as operações de contra-insurgência a cargo das forças de segurança do país e de uma milícia local que Moçambique autorizou a combater a ASWJ em Agosto.
As FDS não tiveram um bom desempenho durante a insurgência e “têm frequentemente uma má relação com as comunidades,” Peter Bofin escreveu numa reportagem do Zitamar.
A milícia local, no entanto, está agora bem estabelecida em Nangade, onde está activa em todas as aldeias e tem um comandante baseado na sede do distrito.
Borges Nhamirre, consultor do Instituto de Estudos de Segurança, escreveu em Julho que os sucessos militares contra os insurgentes em Cabo Delgado forçaram os terroristas a mudar de estratégia, passando do ataque aos civis e às forças de segurança para a infiltração nas comunidades para radicalizar as pessoas e recrutar novos membros.
“Para alcançar uma verdadeira estabilidade, as causas profundas do conflito de Cabo Delgado devem ser reconhecidas e resolvidas,” escreveu Nhamirre. “Trata-se, sobretudo, de desigualdades sociais e económicas na partilha da riqueza da província e de uma melhor gestão dos seus recursos naturais. Os jovens locais também precisam de esperança e de oportunidades, e as circunstâncias que levam à radicalização devem ser evitadas.”