EQUIPA DA ADF
A Somália pediu às Nações Unidas que adiassem, por três meses, a retirada planeada de 3.000 soldados de manutenção da paz da União Africana, para dar tempo às suas forças de segurança de se reagruparem após uma série de ataques extremistas.
A Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS), mandatada pelo Conselho de Segurança da ONU, substituiu a Missão da União Africana na Somália, também conhecida como AMISOM, em Abril de 2022.
No dia 30 de Junho, a ATMIS completou a primeira fase da retirada de 2.000 soldados e deveria retirar mais a 30 de Setembro, reduzindo o seu pessoal militar para 14.626. Contudo, a Reuters noticiou que, numa carta de 19 de Setembro ao Conselho de Segurança da ONU, Hussein Sheikh Ali, conselheiro de segurança nacional do Presidente da Somália, Hassan Sheikh Mohamud, pediu à ONU que adiasse a última retirada das tropas. Ele afirmou que a campanha de um ano do governo para libertar as áreas dos militantes do al-Shabaab nas regiões centrais do país tinha sofrido recentemente “vários reveses significativos.”
Os acontecimentos recentes incluíram uma mistura de desenvolvimentos positivos e negativos:
Pelo menos 70 terroristas do al-Shabaab foram mortos a 24 de Setembro numa operação militar conduzida pelo Exército Nacional da Somália apoiado por milícias locais na província de Mudug. A força conjunta atacou esconderijos e locais de reunião do al-Shabaab na cidade de Aad, de acordo com o Vice-Ministro de Informação da Somália, Abdirahman Yusuf Al Adala.
Um veículo carregado de explosivos deflagrou num posto de controlo de segurança na cidade de Beledweyne, no centro da Somália, a 23 de Setembro, matando pelo menos 18 pessoas e ferindo outras 40.
No dia 17 de Setembro, as forças etíopes entraram em confrontos aguerridos com combatentes do al-Shabaab perto da cidade de Rab Dhuure, no oeste da Somália. O grupo terrorista emboscou uma grande coluna de tropas etíopes que operavam na área como parte dos esforços regionais para eliminar a organização afiliada à al-Qaeda, informou a Reuters.
As tropas da ATMIS e as Forças de Segurança da Somália intensificaram as patrulhas conjuntas no distrito de Barawe para impedir os ataques do al-Shabaab. Os funcionários da ATMIS afirmaram que as patrulhas conjuntas dariam respostas proactivas e reactivas a acções que ameaçam a paz e a segurança regionais.
A AMISOM chegou a Mogadíscio em Março de 2007, acabando por crescer para uma força de mais de 22.000 efectivos em 2014. A força começou a ser reduzida em Dezembro de 2017 e, em 2022, foi reclassificada como força de transição, um sinal de que a UA estava a entrar na última fase do seu destacamento militar. A retirada faseada da ATMIS começou este ano e está prevista para terminar em Dezembro de 2024. Os soldados da ATMIS são oriundos de Burundi, Djibouti, Etiópia, Quénia e Uganda.
Apesar dos progressos registados na Somália em matéria de segurança, a retirada poderá reduzir a pressão sobre o al-Shabaab numa altura crucial. Os investigadores afirmam que, para além de a Somália reformar e reforçar a sua segurança até ao final de 2024, deve contar com a cooperação da UA e da ONU para lidar com a complexa logística das tropas em retirada.
O Professor Paul Williams, da Universidade George Washington, diz que o principal desafio para as autoridades somalis é solidificar a estrutura da sua arquitectura de segurança nacional.
“Isto está parado na forma de projecto desde 2017 e foi recentemente revisto,” escreveu Williams para o The Conversation. “É crucial que o tipo e o número de forças, bem como o comando e o controlo e as relações financeiras sejam claros e aceitáveis tanto para o governo federal como para os Estados-membros. Será impossível levar a cabo campanhas ofensivas bem-sucedidas se as autoridades federais e regionais da Somália não estiverem em sintonia.”
Williams referiu também que a Somália tem de recrutar mais forças de segurança — sobretudo soldados, mas também agentes da polícia federal e local. As metas actuais são 23.000 soldados destacáveis e 32.000 agentes da polícia. No entanto, os números brutos não serão suficientes, disse ele, observando que o Exército Nacional da Somália carece de equipamento de apoio suficiente, de orientação no terreno, de infra-estruturas e de instituições governamentais.