EQUIPA DA ADF
O grupo Estado Islâmico na região de Puntlândia, na Somália, terá ganhado terreno ao al-Shabaab, o seu rival de longa data.
O EI afirma ter tomado o controlo da cadeia montanhosa de Al Miskaad. Os grupos disputam o controlo de um território estratégico no distrito de Bari há oito anos, de acordo com um novo relatório do Emirates Policy Center.
A localização de Al Miskaad, no nordeste da Somália, oferece uma cobertura de floresta densa perto de um clã com ligações ao líder do EI somali, Abdul Qadir Mumin, que oferece protecção ao grupo. Trata-se de uma zona remota, pouco habitada e com poucas povoações permanentes.
“A expansão do ISIS na Puntlândia dá ao grupo um impulso significativo em termos de propaganda para reforçar os seus esforços de recrutamento e atrair combatentes estrangeiros,” Ahmed Khalid, analista de combate ao terrorismo do Emirates Policy Center, disse à estação de rádio somali e à página de internet de notícias Horseed Media.
A expansão também permite ao grupo um maior acesso ao mar, mais oportunidades de tributação e operações financeiras e uma potencial coordenação com uma ramificação do EI no Iémen, escreveu Khalid, principal autor do novo relatório.
Pode também ajudar o EI a explorar as crescentes actividades dos piratas somalis. O al-Shabaab fê-lo, alegadamente, oferecendo-se para proteger os piratas em troca de uma parte das receitas dos resgates. Depois de uma pausa de seis anos nos ataques, os piratas somalis começaram a ressurgir no ano passado.
O EI Está de Regresso
O al-Shabaab, o ramo da al-Qaeda sediado na Somália, é visto como o grupo mais forte. Tem muito mais membros e afastou o EI para sul durante anos. Em 2022, segundo os observadores, o EI parecia estar à beira do colapso na Puntlândia.
No entanto, quando o governo da Somália lançou uma ofensiva contra o al-Shabaab no sul do país, no ano passado, a mudança de orientação acabou por oferecer inadvertidamente uma tábua de salvação ao EI. O al-Shabaab teve de desviar os seus recursos e atenções das montanhas de Al Miskaad, segundo a página da internet de notícias The Somali Digest.
Isso levou a uma luta feroz entre os rivais. O EI reivindicou o controlo da cadeia montanhosa em Abril, após uma ofensiva de três meses que matou 50 combatentes do al-Shabaab, incluindo comandantes importantes.
A campanha começou no dia 28 de Janeiro, quando combatentes do EI armados com metralhadoras repeliram uma tentativa de avanço do al-Shabaab no vale de Walisoor.
De acordo com o Instituto de Investigação dos Média do Médio Oriente MEMRI, o EI passou então à ofensiva, atacando com sucesso as posições do al-Shabaab e emboscando os combatentes rivais quando estes tentavam colocar dispositivos explosivos improvisados (DEI). O EI capturou munições e equipamento militar durante estas operações.
Complicando os Esforços de Combate ao Terrorismo
O EI conduziu actividades de “da’wah” em algumas das aldeias que capturou durante o Ramadão. Da’wah é um termo árabe que significa, grosso modo, proselitismo. Nestas zonas, o EI desmantelou os engenhos explosivos deixados pelo al-Shabaab e realizou as orações do Eid al-Fitr com os aldeões.
Como observou Caleb Weiss no Long War Journal, da Fundação para a Defesa das Democracias, os grupos terroristas tentam, muitas vezes, converter as pessoas à sua versão do Islão e criar boa vontade nas comunidades, mesmo naquelas que conquistam.
À medida que o conflito entre os rivais se intensifica, a segurança na Puntlândia e no resto da Somália continua a ser frágil. As conquistas do EI na Puntlândia poderão alterar a dinâmica das operações de segurança em curso em toda a Somália, complicando os esforços de combate ao terrorismo.
Khalis escreveu que os administradores da Puntlândia precisam de conter a ameaça do EI no interior do Estado “através de um maior trabalho de informação e do envolvimento da comunidade, com o objectivo de evitar uma maior deterioração da situação de segurança,” fazer esgotar os fundos do EI e “minar os seus laços organizacionais transfronteiriços.”
Fontes de segurança da Puntlândia estimam que as fileiras do EI tenham aumentado para 200 a 300 combatentes, na sua maioria cidadãos etíopes.
Desde 2022, o EI e os seus apoiantes têm ampliado as produções e traduções mediáticas nas principais línguas faladas na Etiópia, como o Amárico e o Oromo, de acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra.