EQUIPA DA ADF
Depois de enfrentar graves carências de oxigénio, em Setembro último, a Somália abre a sua primeira instalação de produção de oxigénio num hospital de Mogadício.
Espera-se que a unidade produza 1.000 cilindros de oxigénio por dia. Foi instalada na Maternidade e Hospital Pediátrico de Banadir, que foi parcialmente destruído, em Julho, por terroristas do al-Shabaab. A Hormuud Salaam Foundation, uma organização sem fins lucrativos somali, adquiriu a instalação por 325.000 dólares que também financiaram as reabilitações do hospital.
A Somália possui uma das mais elevadas taxas de mortalidade pela COVID-19 e é necessário oxigénio médico para tratar dos doentes mais graves.
“Quando temos internamentos por COVID, a componente mais importante é o oxigénio,” a Ministra de Saúde da Somália, Fawziya Abikar, disse ao The Associated Press. “Durante os últimos meses, tivemos carência de oxigénio em toda a cidade.”
Abikar disse que se espera que seja doada uma outra instalação de produção de oxigénio em breve.
“Um cilindro de oxigénio geralmente custa cerca de 50 dólares na Somália, mas pode chegar a atingir 400,00 a 500 dólares [nos hospitais privados], por causa da carência,” Abdullahi Nur Osman, presidente do conselho de administração da fundação Hormuud, disse à Reuters, acrescentando que o oxigénio iria ser distribuído gratuitamente aos hospitais públicos de Mogadício.
Um médico sénior disse à Amnistia Internacional que muitos doentes com COVID-19 morreram devido à insuficiência no abastecimento de oxigénio.
“Tivemos de utilizar uma mesma cânula [tubo] de oxigénio para vários pacientes,” disse o médico, que falou na condição de anonimato. “Houve um dia em que tivemos quatro homens idosos num único quarto; todos eles precisavam de oxigénio, mas todos eles morreram em menos de 10 minutos. Ainda me recordo dos seus rostos; sinto-me triste por não termos sido capazes de obter oxigénio para salvar as suas vidas.”
Até ao dia 11 de Outubro, a Somália tinha registado aproximadamente 1.200 óbitos em mais de 21.200 casos de COVID-19, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, mas especialistas afirmam que os números podem ser muito mais elevados devido à testagem inadequada e mortes não comunicadas.
Um relatório da Amnistia Internacional descobriu que durante a primeira vaga de COVID-19 na Somália, um hospital de Mogadício foi obrigado a lidar com todos os casos de coronavírus da região centro-sul.
“A testagem era muito limitada,” Médico-Chefe Somali, Dr. Mohamed Mohamud Ali, disse à Amnistia Internacional. “Apenas aqueles que conseguiram chegar aos centros de saúde e foram testados são incluídos nos dados oficiais do governo. O número é apenas uma ponta do iceberg — muitos outros foram infectados e morreram em casa.”
O Dr. Abdullahi Sheikdon Dini reconheceu a falta de capacidade de diagnóstico do seu país nos meses que antecederam aqueles em que a pandemia entrou em cena. Dini e quatro parceiros angariaram 1 milhão de dólares para financiar o Medipark Diagnostics, um laboratório que abriu em Janeiro de 2020.
Até à altura em que o Medipark Diagnostic abriu, os médicos da Somália tinham de esperar durante semanas pelos resultados dos testes. Agora, os hospitais de Mogadício podem obter respostas em algumas horas ou alguns dias. Durante o primeiro semestre de 2020, o Medipark era o único laboratório privado que fazia os testes de COVID-19, mas o pessoal de Dini ensinou o procedimento a outros cientistas, expandindo a capacidade de o país responder à doença.