EQUIPA DA ADF
Os recentes combates interétnicos na Região Administrativa de Abyei, disputada entre o Sudão e o Sudão do Sul, são a mais recente complicação no já complexo esforço para resolver o estatuto da região — um esforço que está a ser desviado pelo conflito no Sudão.
Um ataque a duas comunidades em Abyei, a 20 de Novembro, fez dezenas de mortos, e um líder das Forças de Defesa do Povo do Sudão do Sul (SSPDF) defendeu os seus soldados contra as alegações de que tinham participado no ataque.
O ataque foi precedido de combates, no dia 13 de Novembro, entre as facções Twic e Ngok do grupo étnico Dinka, que incluíram um ataque de membros Ngok à base militar de Ayok das SSPDF, onde se encontra a Brigada Independente de Abyei.
O ataque matou sete soldados da brigada, incluindo o comandante. Os atacantes saíram da base com algumas armas pesadas, de acordo com o Major-General Akuei Ajou, da Terceira Infantaria das SSPDF.
Numa entrevista à South Sudan Global Television (SSGTV), Ajou refutou as afirmações de um responsável de Abyei segundo as quais as suas tropas teriam tido um papel no ataque de 20 de Novembro. Testemunhas disseram que homens vestidos com uniformes das SSPDF participaram no ataque.
“O que sabemos é que são os jovens de Abyei e os jovens de Twic (condado do Sudão do Sul) que estão a lutar, e nós não fazemos parte dessa guerra,” disse Ajou.
A região de Abyei, rica em petróleo, continua a ser um ponto nevrálgico nas relações entre o Sudão do Sul e o Sudão, 12 anos após a independência do Sudão do Sul. A região é limitada a sul pelos Estados de Bahr el-Ghazal, Warrap e Unity, no Norte do Sudão do Sul, e a norte pelo Estado de Cordofão Ocidental, no Sudão.
A maioria dos habitantes de Abyei pertence ao grupo Ngok Dinka. No entanto, os pastores árabes Misseriya do Sudão vivem ao longo da parte norte do Rio Kiir. O grupo Twic Dinka reivindica o território a sul de Kiir.
A questão de quem controla Abyei continua por resolver, com as Nações Unidas a pedir aos dois países que administrem a região conjuntamente com as forças de manutenção da paz da Força de Segurança Provisória das Nações Unidas para Abyei (UNISFA). Este acordo não impediu repetidas erupções de violência motivadas por disputas sobre a partilha de terras e recursos.
“No meio do fracasso a nível político em chegar a acordo sobre a demarcação da fronteira de Abyei, os desacordos sobre a questão da fronteira alimentam ainda mais a violência, com os grupos a acusarem-se mutuamente de invadir as suas terras,” escreveram os investigadores do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) numa análise sobre a violência em Abyei, publicada em Março de 2023.
Na altura desse relatório, dezenas de habitantes de Abyei já tinham morrido devido à violência interétnica durante os primeiros três meses do ano. Alguns conflitos mortais alastraram-se para o Sudão do Sul.
A tarefa de resolver o estatuto de Abyei tornou-se mais complicada desde o início dos combates, a 15 de Abril, entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF).
“Com o conflito no Sudão, as condições não são propícias para conversações sobre o estatuto final de Abyei,” Hanna Serwaa Tetteh, enviada especial do Secretário-Geral da ONU para o Corno de África, disse ao Conselho de Segurança no início de Novembro.
“Os principais líderes sudaneses e sul-sudaneses não manifestaram o desejo de abordar estes temas,” acrescentou.
A situação de Abyei poderá tornar-se ainda mais tensa quando os combatentes das RSF se deslocarem para o Cordofão Ocidental, informou Tetteh.
Os recentes actos de violência fazem parte de uma longa série de ataques entre os três grupos étnicos que reivindicam Abyei, tendo grande parte da violência sido dirigida contra civis. Em 2022, o ACLED registou 48 ataques em Abyei, um total superior ao dos três anos anteriores combinados.
Em resposta à escalada da violência interétnica em Abyei, o Sudão do Sul estabeleceu uma zona-tampão no seu lado de Abyei, em Maio de 2022. Enviou tropas para Abyei alguns meses depois, após o recrudescimento dos combates interétnicos.
Ajou disse à SSGTV que os seus soldados estão em Abyei para proteger os civis e guardar os corredores de viagem, e não para escolher lados em lutas interétnicas.
“Não me posso vingar porque sou o comandante deste país,” disse Ajou. “Eu não sou o comandante da tribo.”