EQUIPA DA ADF
Homens armados expulsaram Dawoud Adam Ishak da sua residência na região sudanesa de Darfur.
“Eles vieram à noite, quando estávamos a dormir,” disse Ishak à Voz da América. “Então, acordámos e fugimos.”
Ishak juntou-se a mais de 100.000 sudaneses que atravessaram a fronteira para o Chade desde o início dos combates, a 15 de Abril, entre as Forças Armadas do Sudão (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares.
Os combates que começaram em Cartum estenderam-se desde então à região de Darfur, onde as RSF têm a sua base. Ataques brutais em todo o Darfur Ocidental e no Darfur do Norte queimaram aldeias, mataram milhares de pessoas e fizeram com que outros milhares fugissem para salvar as suas vidas.
A violência em curso faz lembrar os ataques genocidas contra grupos não árabes levados a cabo há 20 anos pela milícia Janjaweed, apoiada pelo governo e precursora das RSF. Este facto, por sua vez, leva alguns especialistas a perguntar: deverão as forças de manutenção da paz regressar para Darfur?
“Sim,” o especialista em segurança, Alistair Edgar, da Escola Balsillie de Assuntos Internacionais, disse à Voz da América. “Há uma resposta muito rápida para si.”
Edgar disse que é necessária uma nova missão de manutenção da paz “devido ao nível de violência e também devido ao potencial de propagação dessa violência para o exterior — para o Chade e também para além das fronteiras.”
O anterior esforço de manutenção da paz no Darfur foi a UNAMID, a Missão das Nações Unidas e da União Africana em Darfur. Foi encerrada a 30 de Junho de 2021, após 13 anos, sob pressão do Conselho de Soberania que governou o Sudão após o derrube do ditador Omar al-Bashir, em 2019.
A operação híbrida de 19.000 pessoas foi criticada pela sua incapacidade de pôr termo aos assassinatos de civis e aos ataques às comunidades por parte da milícia Janjaweed e das forças governamentais então controladas por al-Bashir. Nalguns casos, os críticos descreveram as forças de manutenção da paz da UNAMID como estando paradas enquanto as milícias atacavam civis.
Escrevendo para a agência The New Humanitarian, Mohammed Amin e Phillip Kleinfeld referem que “a capacidade da UNAMID para proteger os civis foi, muitas vezes, prejudicada pelo regime de al-Bashir, que intimidou e obstruiu as forças de manutenção da paz que procuravam aceder a locais sensíveis, negou autorizações de voo aos aviões da missão e recusou inúmeros vistos a membros do pessoal.”
À medida que a missão foi terminando, as suas bases foram sendo atacadas e saqueadas pelas milícias de toda a região.
Não está claro se uma tentativa de relançar a UNAMID ou de autorizar uma operação de manutenção da paz semelhante poderia obter os votos necessários no Conselho de Segurança da ONU. As RSF, responsáveis por grande parte das mortes no Darfur, estão estreitamente ligada aos mercenários russos do Grupo Wagner.
No passado, a Rússia utilizou o seu veto no Conselho de Segurança para bloquear as acções da ONU na República Centro-Africana, onde o Grupo Wagner está profundamente envolvido com o governo e com a extracção de ouro e diamante. Em 2016, a Rússia bloqueou um relatório da ONU que detalhava o contrabando de ouro pelas milícias de Darfur e um ataque às forças da UNAMID pela milícia Janjaweed.
O especialista em segurança, Walter Dorn, do Colégio Militar Real do Canadá, disse à VOA que a renovação de uma missão de paz da ONU em Darfur é improvável a curto prazo.
“Actualmente, não parece haver vontade política para criar uma força de manutenção da paz em Darfur,” disse Dorn, “mas à medida que a situação se agrava, haverá cada vez mais apelos nesse sentido.”