EQUIPA DA ADF
Tendo passado a fase mais crítica da pandemia da COVID-19, agora os especialistas em saúde pública estão a virar as suas atenções para as sequelas duradouras e, por vezes, debilitantes da infecção, conhecidas por COVID longa.
“Algumas estimativas indicam que o número de pessoas com sintomas da COVID longa era de 194 milhões antes da Ómicron,” Dra. Maria Van Kerkhove, técnica-chefe da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a COVID-19, disse durante uma recente conferência de imprensa sobre a pandemia.
A OMS registou mais de 612 milhões de casos de COVID-19 no mundo inteiro desde o início da pandemia.
Em Novembro de 2021, cerca de um mês antes de a variante Ómicron ter sido identificada, Mosa Moshabela, vice-reitor para a área de pesquisa e inovação, da Universidade de KwaZulu-Natal, comentou no Twitter que 37% das pessoas infectadas pela COVID-19 desenvolveram pelo menos um sintoma da COVID longa.
“Enquanto algumas pessoas se recuperam depois de algumas semanas, outras continuam a enfrentar dificuldades,” Moshabela disse numa conversa que incluiu dois trabalhos de pesquisa que investigam a COVID longa.
Os investigadores ainda não compilaram uma definição específica para a COVID. A esta altura, parece que engloba um amplo espectro de enfermidades físicas. As mais proeminentes são:
- Dificuldades de respirar ou uma tosse persistente
- Raciocínio lento conhecido como “nevoeiro cerebral”
- Fadiga
Outros sintomas incluem dores nas articulações e nos músculos, problemas digestivos, coágulos no sangue e outros problemas de circulação.
“A COVID longa ainda é, em termos gerais, diagnosticada através de exclusão de outros problemas de saúde,” a investigadora Diana Duong escreveu no Canadian Medical Association Journal, um jornal da Associação Canadiana de Medicina.
Quanto mais grave é o caso de COVID-19 numa pessoa, maior é a probabilidade de desenvolver a COVID longa, de acordo com os investigadores.
Um estudo de 2021, realizado no Reino Unido, analisou mais de 273.000 pessoas com COVID-19 e concluiu que um terço dessas pessoas teve sintomas de COVID longa três meses depois da sua infecção. Outros 37% desenvolveram a COVID longa 3 a 6 meses depois da sua recuperação.
Um estudo diferente, também realizado no Reino Unido, concluiu que as mulheres eram mais propensas a desenvolverem a COVID longa, assim como eram as pessoas obesas. As pessoas que precisavam de ventiladores tinham 60% menos probabilidade de registar uma recuperação total da sua infecção.
Algumas pessoas que padecem de COVID longa descobrem que enquanto a sua infecção desaparece, os seus sentidos de paladar e olfacto retomam de forma distorcida. Tal aconteceu com Randle Felix, que disse à News24, da África do Sul, que ele ainda tinha dificuldades de distinguir sabores cinco meses depois da sua infecção inicial.
“Isso afectou a minha vida emocionalmente, de uma forma negativa, porque eu não tenho mais apetite de coisas que antes gostava de comer e beber,” disse Felix.
Também se queixou de experimentar problemas de memória.
“A minha esposa sempre dizia que eu tenho memória de elefante, especialmente porque eu me lembrava de quase tudo. Mas depois da Covid, não tem sido a mesma coisa. Simplesmente não está a 100%,” disse.
Compreender e tratar dos efeitos da COVID longa é a próxima fase do combate aos impactos da pandemia, de acordo com especialistas em saúde pública.
Para conseguir isso, é importante recolher e partilhar dados sobre a COVID longa em todos os países, disse Van Kerkhove.
“Estamos a trabalhar com médicos e grupos de pacientes para assegurar que tenhamos uma reabilitação adequada,” disse Van Kerkhove. “Isso é o que desejamos ver resolvido nos sistemas de saúde a médio e longo prazo.”
Esta é a primeira de uma série de duas partes sobre a COVID longa.