EQUIPA DA ADF
Um recente ataque a menos de 40 quilómetros a oeste da maior cidade dos Camarões, Douala, deixou os cidadãos nervosos e inseguros.
No dia 1 de Maio, pelo menos 15 separatistas anglófonos, fortemente armados, atacaram um posto militar na aldeia agrícola de Matouke. Foi o mais próximo que os rebeldes chegaram do centro económico mais importante do país desde o início dos combates, em 2017.
As autoridades e testemunhas disseram que os rebeldes mataram pelo menos seis pessoas — cinco soldados e um civil — e feriram várias outras.
Douala, uma cidade com cerca de 4 milhões de habitantes, é um porto marítimo fundamental para a região, abastecendo o Chade e a República Centro-Africana, sem acesso ao mar, com 80% das suas importações.
Francis Mbah, um despachante do porto, disse que um ataque ao centro económico teria impacto em toda a região da África Central.
“Este ataque perto da capital económica dos Camarões é um sinal de que o governo ainda tem muito a fazer para reforçar de forma permanente a segurança,” disse à Voz da América. “É um mau sinal, uma vez que há muitos cidadãos, cidadãos camaroneses, a viver na capital económica.
“Este é um apelo para que o governo intervenha e diga que esta crise tem de ser travada.”
De acordo com Samuel Dieudonne Ivaha Diboua, governador da região litoral dos Camarões, que inclui Douala e Matouke, os militares aumentaram a sua presença na fronteira entre a sua região e a região anglófona do Sudoeste, de onde provêm os combatentes rebeldes.
O movimento separatista anglófono das regiões noroeste e sudoeste dos Camarões está em conflito armado com o governo desde 2017.
As tensões remontam à independência, em 1961, uma vez que os anglófonos alegam discriminação, marginalização e assimilação forçada pela maioria francófona.
Em 2017, os separatistas anglófonos, indignados depois de os seus protestos pacíficos terem sido alvo de repressões mortíferas, declararam que as suas duas regiões passariam a chamar-se República da Ambazónia. O governo enviou o exército para as regiões.
Dezenas de milícias anglófonas locais formaram uma rede empenhada numa guerra de guerrilha contra o exército nacional dos Camarões, mais bem equipado.
Pelo menos 6.000 pessoas foram mortas nas batalhas assimétricas. Mais de 1 milhão de pessoas ficaram deslocadas, incluindo milhares que fugiram para a Nigéria.
Grupos relataram violações generalizadas dos direitos humanos, incluindo assassinatos indiscriminados, tortura, violação e outras formas de violência baseada no género por parte dos insurgentes e dos militares camaroneses.
Os separatistas afirmam que as forças governamentais queimaram casas e aldeias inteiras e raptaram centenas de pessoas.
Daniel Capo, porta-voz e autodenominado vice-chefe de defesa do grupo separatista Forças de Defesa da Ambazónia, descreveu um incidente recente na aldeia de Maumu, onde, segundo ele, os soldados massacraram seis civis que estavam a beber num bar.
“Não há justificação para matar civis inocentes,” disse ele num vídeo publicado nas redes sociais a 2 de Maio. “Esta é a conduta do Exército dos Camarões. Eles sabem exactamente o que estão a fazer.”
Um diálogo nacional concedeu um estatuto especial às duas regiões anglófonas, em 2019, mas as conversações de paz mediadas pela Suíça não conseguiram resolver a crise. Em Janeiro de 2023, um processo de paz liderado pelo Canadá fracassou poucos dias após o seu anúncio.
“À medida que o conflito se arrasta sem fim à vista, é fundamental que o governo e os separatistas encontrem um terreno comum onde possam reconstruir a confiança e começar a forjar um novo caminho para uma solução política,” afirmou o Grupo Internacional de Crise num relatório publicado a 31 de Março.
“Não está claro se a reforma do estatuto especial pode ou não servir este objectivo, mas após seis anos de luta, vale a pena tentar.”
Entretanto, os rebeldes prometeram atacar todos os postos militares ao longo das fronteiras com as regiões francófonas dos Camarões.
Um líder rebelde, conhecido pelo nome de “General Avô dos Búfalos,” lidera uma milícia que controla a área do governo local de Bali Nyonga.
Tem poucas esperanças de paz.
“Enquanto a nossa reivindicação da República da Ambazónia não for respeitada, continuaremos a lutar,” declarou à Inkstick Media.