A Rússia enfrenta novas acusações de ter inundado os mercados líbios com notas falsas, numa nova tentativa de desestabilizar ainda mais o país. O Kremlin tem um historial documentado de envio de moeda falsa ao líder do Exército Nacional Líbio (LNA), o Marechal Khalifa Haftar.O Banco Central da Líbia (CBL) anunciou em Abril que começou a retirar de circulação a primeira e a segunda tiragem de notas de 50 dinares (pouco mais de 10 dólares), depois de as autoridades terem descoberto notas falsas.
A Rússia é acusada de imprimir o dinheiro falso numa quinta nos arredores de Benghazi, a base de Haftar. O Grupo Wagner de mercenários da Rússia, actualmente conhecido como Africa Corps, apoia o LNA.
O CBL pediu aos bancos da Líbia e às suas sucursais que autorizem o público a apresentar as notas e a depositá-las nas suas contas. A Comissão Europeia exortou os bancos a exercerem a devida diligência para impedir a passagem de moeda falsa e publicou uma apresentação que mostrava as diferenças mínimas entre as impressões de 50 dinares legítimas e as falsas.
O país está dividido entre o governo de Haftar em Benghazi e o Governo de Acordo Nacional (GNA) da Líbia, reconhecido internacionalmente, em Trípoli, que Haftar está a tentar derrubar.
Jalel Harchaoui, investigador do Royal United Services Institute, disse que Haftar intensifica os esforços para reforçar os seus laços com o Kremlin desde Agosto de 2023.
“É importante sublinhar que a ajuda da Rússia a Haftar raramente vem sem exigências financeiras,” Harchaoui disse ao The New Arab. “Haftar é sempre obrigado a cobrir as despesas incorridas pelos russos activos em solo líbio — em domínios militares e outros.”
Um litígio de 150 milhões de dólares entre Haftar e o Grupo Wagner surgiu em 2020, após o fim de um contrato entre as partes. Haftar foi acusado de não pagar ao grupo depois de as forças combinadas terem perdido sete cidades num período de 24 horas em 2019, ano em que o senhor da guerra lançou um ataque sustentado a Trípoli que acabou por falhar.
Na altura,o Grupo Wagner estava a trazer “combatentes — não tão experientes — da Síria, Bielorrússia e Sérvia,” disse uma fonte militar próxima de Haftar numa reportagem do site de notícias Arabic Post.
Em Setembro de 2019, cinco meses após o ataque de Haftar a Trípoli, as autoridades de Malta interceptaram um carregamento de dinares de fabrico russo a caminho de Haftar. Cerca de 4,5 bilhões de dinares foram enviados da Rússia para a cidade portuária oriental de Tobruk no primeiro semestre de 2019, coincidindo com o início da guerra de Trípoli, informou a Reuters. Outros bilhões de dinares foram entregues ao Leste em 2016, segundo o Libya Herald.
Os dinares líbios legítimos emitidos pelo GNA em Trípoli são impressos no Reino Unido. A Joint Stock Company Goznak, uma empresa estatal russa, imprimiu as notas ilegítimas apreendidas em 2019 e 2020.
Tal como acontece com a actual safra de dinheiro falso, as anteriores notas falsas de dinares líbios eram quase idênticas às notas oficiais. Segundo algumas estimativas, o governo de Haftar inundou o país com cerca de 12 bilhões de dinares de fabrico russo entre 2015 e 2020.
As notas falsas foram utilizadas para pagar aos combatentes de Haftar e foram encontradas por todo o país. Segundo o analista económico líbio, Mukhtar Al Jadeed, estas medidas alimentaram a inflação, fizeram baixar o valor do dinar e minaram a moeda oficial fornecida pelo banco central em Trípoli.
O principal objectivo da moeda falsa era “financiar a guerra contra Trípoli,” Al Jadeed disse à Al-Jazeera.
As autoridades interceptaram um carregamento de 1,1 bilhões de dólares em dinares falsos destinados a Haftar em Malta na Primavera de 2020.