EQUIPA DA ADF
O terramoto que atingiu Marrocos este mês criou uma oportunidade para aliviar as tensões entre o reino e o seu vizinho, Argel, que rompeu as relações diplomáticas em 2021.
O terramoto de magnitude 6,8 matou mais de 2.000 pessoas e deixou milhares de outras sem casa na comunidade de Amizmiz.
No início das operações de socorro, as autoridades argelinas abriram o seu espaço aéreo aos aviões que se dirigiam a Marrocos e ofereceram-se para enviar três aviões militares carregados de ajuda humanitária e pessoal de apoio para ajudar os marroquinos a recuperar. No entanto, o governo marroquino recusou a ajuda, alegando que não era necessária.
O momento representou uma melhoria fugaz nas relações entre Argélia e Marrocos, que têm uma fronteira fechada desde 1994.
Os dois vizinhos mantêm uma relação tensa há décadas, alimentada, em parte, pelo estatuto do Sahara Ocidental. O Marrocos reivindica o território e a Argélia apoia a sua independência.
Em termos diplomáticos, o Marrocos mantém laços com os países ocidentais e apoia a Ucrânia, enquanto a Argélia cultiva ligações com a Rússia e a China.
“A tensão diplomática entre Argel e Rabat tem sido publicamente proeminente, com as autoridades de ambos os países a usarem uma retórica hostil e vigorosa para se condenarem mutuamente nos meios de comunicação social,” escreveu recentemente o analista Zine Labidine Ghebouli na World Politics Review.
Já fortemente armados, ambos os países aumentaram recentemente os seus orçamentos militares e acrescentaram novas armas aos seus arsenais. O aumento das tensões desviou dinheiro do desenvolvimento económico e dos programas sociais e, ao mesmo tempo, aumentou o risco de um conflito armado que pode desestabilizar a região, escreveu Ghebouli.
O aumento das despesas militares foi acompanhado por um declínio da diplomacia.
Em 2020, a Argélia expulsou o cônsul marroquino em Orão, acusando-o de espionagem. Em 2021, a Argélia rompeu as relações diplomáticas após o que chamou uma série de “acções hostis” de Marrocos. Entre outras coisas, a Argélia afirma que o Marrocos apoia os separatistas berberes na região da Cabília, no norte da Argélia.
Este ano, a guarda costeira argelina matou a tiro dois turistas que se tinham desviado de Marrocos para as águas argelinas. As forças de segurança detiveram um terceiro turista que nadou em terra após o incidente.
Em Março, o Presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, descreveu as relações como estando a aproximar-se de um “ponto de não retorno.” Em Junho, a Argélia anunciou um novo Ministro dos Negócios Estrangeiros para substituir Ramtane Lamamra, que supervisionou a ruptura diplomática de 2021, a segunda da Argélia com Marrocos desde 1976.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Ahmed Attaf, sugeriu que a política externa da Argélia poderá sofrer alterações. “Estamos a passar por grandes transformações que nos obrigam a adaptar-nos,” afirmou num comunicado.
Em Julho, o rei marroquino, Mohammed VI, manifestou a esperança de uma melhoria nas relações com a Argélia.
Outros observadores têm esperança de que os dois países possam encontrar uma forma de reconstruir a sua relação.
“Com as suas diferentes trajectórias históricas e sistemas políticos, colocar estes dois rivais em acordo será difícil, mas não impossível,” Mohammed Ahmed Gain, presidente do Instituto Africano para a Construção da Paz e Transformação de Conflitos (AIPECT, na sigla inglesa), escreveu para o Middle East Institute.
Uma relação de cooperação entre Argélia e Marrocos pode ser a chave para explorar o potencial económico não realizado do Magrebe, que também inclui a Líbia, a Mauritânia e a Tunísia.
Mas, primeiro, a Argélia e o Marrocos têm de moderar a sua retórica, segundo Gain.
“O pragmatismo é a chave para acalmar as tensões,” escreveu Gain. “Isso significa compromisso e cooperação em vez de doutrinas de política externa que geram divisão.”