EQUIPA DA ADF
Quando as Forças de Apoio Rápido do Sudão tomaram o controlo da capital de El Geneina, no Darfur Ocidental, no verão passado, um grupo de homens entrou na casa de uma mulher e manteve-a sob a mira de uma arma.
“Eles disseram: ‘Vais tirar a roupa ou não?’” contou recentemente à Reuters a mulher Masalit de 25 anos, não identificada.
Quando ela recusou, os homens ameaçaram a matar os seus irmãos.
“Nessa altura, rendi-me,” disse ela durante uma entrevista num campo de refugiados em Adré Chad.
De acordo com grupos de defesa sudaneses e com as Nações Unidas, centenas de mulheres relataram ter sido violadas ou agredidas sexualmente no Sudão pelas Forças de Apoio Rápido (RSF) paramilitares desde que estas lançaram a sua batalha pela supremacia militar contra as Forças Armadas do Sudão (SAF) em Abril de 2023.
Embora quase 90% das vítimas sejam mulheres, algumas são homens e crianças.
Em alguns casos, as mulheres foram raptadas e mantidas como escravas sexuais e violadas repetidamente por vários homens. Noutros casos, as raparigas foram obrigadas a casar com homens mais velhos e morreram ao dar à luz os seus filhos. Outras mulheres simplesmente desapareceram, segundo os defensores dos direitos das mulheres.
“A violência sexual é 100% um crime político. É possibilitado pela impunidade,” Hala al-Karib, directora da Rede de Mulheres do Corno de África, disse durante uma apresentação recente na Escola de Assuntos Internacionais e Públicos, da Universidade de Columbia.
Durante um simpósio sobre a violência contra as mulheres durante a guerra, al-Karib contou uma história pessoal em que as RSF atacaram a casa da sua família e raptaram raparigas com idades entre os 13 e os 15 anos, enquanto batiam ou ameaçavam outros membros da família.
As agressões e os raptos estão a ocorrer principalmente na região do Darfur, onde as RSF e os seus aliados renovaram uma campanha de violência de décadas contra os Masalit e outras populações não árabes. Outros relatos de raptos e agressões vieram de Cartum, onde as RSF controlam a maior parte da região da capital. Em alguns casos, as mulheres e as raparigas são transportadas de Cartum para Darfur para serem vendidas como escravas sexuais ou casadas com combatentes das RSF.
De acordo com as Nações Unidas, os relatórios indicavam que as mulheres e as raparigas tinham sido raptadas e detidas num local do distrito de Al-Riyadh, em Cartum, desde 24 de Abril — nove dias após o início do conflito com as SAF.
“Desde então, continuámos a receber relatos de raptos, com um número crescente de casos na região do Darfur, em particular no Darfur do Norte, Central e do Sul, e na região do Cordofão,” informou o Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos em Novembro de 2023.
No início de Fevereiro, pelo menos 16 mulheres e raparigas foram raptadas no âmbito de um massacre de 76 pessoas perto da cidade de Dillinj, nos Montes Nuba, no Cordofão do Sul. Cerca de um terço das pessoas raptadas fugiram e afirmaram ter sido violadas pelos seus raptores. Em meados de Março, os profissionais de saúde do Hospital al-Hasahisa, no Estado de El Jezira, relataram que combatentes das RSF violaram repetidamente um grupo de vítimas durante vários dias.
Os moradores de El Fasher, a capital do Darfur do Norte, denunciaram que raparigas de apenas 11 anos estão a ser vendidas como escravas sexuais, compradas por homens do Chade e do Níger. De acordo com os observadores, num caso, um comerciante local pagou cerca de 5.000 dólares por uma rapariga de 11 anos de Cartum do Norte, para que a devolvessem à família.
Em comentários públicos, os representantes das RSF negaram que estejam a ocorrer violações, raptos e outros actos de violência, declarando ao mesmo tempo que quem cometer tais crimes será severamente punido.
Al-Karbi rejeitou essas afirmações.
“Os agressores estão a ser recompensados,” afirmou no evento da Universidade de Columbia. “São-lhes atribuídos agradecimento e reconhecimentos e nunca são responsabilizados.”