EQUIPA DA ADF
Na floresta de Bamanga, no norte dos Camarões, o som de machados a cortarem os troncos das árvores faz parte do quotidiano. Os machados são, muitas vezes, empunhados por caçadores furtivos locais ou por pessoas que atravessam a fronteira a partir da Nigéria. O seu alvo: árvores de pau-rosa.
As árvores de pau-rosa de Africa, também conhecidas por kosso, são um recurso nobre para os fabricantes chineses de mobília luxuosa. Os ambientalistas afirmam que a ambição por troncos de pau-rosa impulsiona um mercado negro que corrompe oficiais do governo e líderes tribais, prejudicando as protecções internacionais e devastando o meio ambiente.
De acordo com Raphael Edou, antigo Ministro do Meio Ambiente do Benin, o abate ilegal de pau-rosa nos Camarões também enfraquece o Estado de Direito naquele país. O Benin foi um alvo inicial do comércio de pau-rosa motivado por chineses.
“O tráfico transfronteiriço geralmente é enraizado em redes criminosas bem organizadas que ligam certos líderes comunitários, comerciantes de madeira (locais, regionais e nacionais) e empresários estrangeiros responsáveis pela exportação,” Edou, que actualmente é gestor de programas a nível de África da instituição sem fins lucrativos Agência de Investigação Ambiental (EIA), disse ao Museba Project. O projecto investigou o abate ilegal de pau-rosa nos Camarões e na Nigéria.
12 Dólares Por Tronco
A história do abate de pau-rosa nos Camarões começa com os agricultores e pastores que procuravam por formas de fazer mais dinheiro. Com 25 a 30 metros de altura, uma árvore adulta pode estar avaliada em centenas de dólares — muito mais do que o rendimento mensal médio nos Camarões.
Cada árvore é cortada em troncos com cerca de 2 metros de comprimento e meio metro em cada lateral. Cada tronco vale cerca de 12 dólares para os madeireiros. As dimensões são de carácter obrigatório para que os troncos sejam empilhados nos contentores para a sua ida à China. Os subornos abrem o caminho para os troncos passarem pelos fiscais florestais camaroneses, os chefes tribais nigerianos, os oficiais nigerianos do meio ambiente e, finalmente, as autoridades portuárias em Lagos.
A partir desse ponto, os troncos desaparecem e entram no mercado global de madeira tropical avaliado em mais de 3 bilhões. Oitenta por cento dessa madeira acaba na China, de acordo com o “Relatório Mundial sobre Crimes da Vida Selvagem 2020,” das Nações Unidas. Um quinto do comércio é descrito como sendo de pau-rosa.
O apetite da China por pau-rosa fez com que essa mercadoria fosse o produto da vida selvagem mais traficado no mundo. O tráfico de pau-rosa representa 35% de todo o tráfico ilegal da vida selvagem, mais do que elefantes, rinocerontes, pangolins e répteis em conjunto, de acordo com o Relatório Mundial sobre Crimes da Vida Selvagem.
Em 2017 e 2018, virtualmente toda a madeira de pau-rosa importada pela China vinha de países africanos, de acordo com o relatório.
O abate ilegal de pau-rosa que ocorre entre os Camarões e a Nigéria faz eco de práticas semelhantes que têm vindo a acontecer por muitos anos ao longo da fronteira entre a Gâmbia e a região da Casamança, no sul do Senegal.
A Gâmbia exporta milhões de dólares de troncos de pau-rosa a partir do seu porto de Banjul anualmente, apesar do facto de que o abate ilegal de árvores praticamente acabou com o seu próprio fornecimento de pau-rosa.
Um relatório da BBC Africa Eye constatou que muitos daqueles troncos vêm das florestas da Casamança, onde são ilegalmente transportados em camiões para a Gâmbia, armazenados e posteriormente certificados como produtos legais daquele país. O Senegal baniu o corte de árvores de pau-rosa. Os líderes de ambos países comprometeram-se em reprimir o abate ilegal de pau-rosa.
Contornando as Protecções
As espécies mais populares de pau-rosa, a Dalbergia e a Pterocarpus, estão protegidas nos termos da CITES, a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção. A Nigéria foi o segundo país a ratificar a CITES quando a adoptou em 1974. Os Camarões aderiram em 1981. O Senegal e a Gâmbia também fazem parte da CITES.
Nos termos da CITES, os países devem garantir que o plantio de pau-rosa para o abate seja feito de forma legal e sustentável. Não se sabe ao certo se qualquer uma das condições estão a ser satisfeitas na floresta de Bamanga.
A Nigéria continua a ser o maior exportador africano de pau-rosa. De acordo com uma investigação feita em 2017 pela EIA, mais de 40 contentores cheios de troncos de pau-rosa saíram de Lagos com destino a China diariamente, entre Janeiro de 2014 e Junho de 2017. Somente em 2017, o país exportou mais de 475.000 metros cúbicos de pau-rosa, de acordo com a ONU.
Quanto deste pau-rosa veio dos Camarões? É difícil de afirmar.
O que está claro é que os madeireiros nigerianos e seus adeptos chineses movem-se em direcção aos Camarões, depois de destruir as suas reservas de pau-rosa nos Estados nortenhos de Cross River, Adamawa, Taraba, Kaduna e Ondo. 22 milhões de hectares de florestas tropicais dos Camarões estavam prontos para serem explorados.
“Quando os traficantes da Nigéria viram que os recursos florestais tinham esgotados enquanto tinham de continuar a satisfazer a demanda dos chineses, começaram a atravessar a fronteira para cortar o Kosso de forma ilegal no vizinho Camarões,” noticiou o Museba Project.