EQUIPA DA ADF
Desde o início da violência no Sudão, em Abril, o fluxo de armas contrabandeadas para o país fortemente armado tornou-se uma inundação.
“Costumávamos receber um carregamento de três em três meses, mas agora estamos a receber de duas em duas semanas,” Wad al-Daou, um traficante de armas, disse à Agence France-Presse (AFP). “A procura de armas aumentou de tal forma que não conseguimos satisfazê-la.”
Desde 15 de Abril que se registam combates em Cartum e arredores entre as Forças Armadas do Sudão (SAF), lideradas pelo General Abdel Fattah al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido (RSF), lideradas pelo general rival de al-Burhan, conhecido por Hemedti. Este conflito conduziu a um recrudescimento dos combates na região ocidental de Darfur e ameaça engolir todo o país.
Al-Daou exerce a sua actividade comercial no leste do Sudão, perto da fronteira com a Eritreia e a Etiópia. A região escapou aos piores combates, mas tornou-se um corredor crucial para os traficantes de armas que alimentam a procura de espingardas e pistolas, bem como de armas mais sofisticadas noutros pontos do país.
No dia 10 de Agosto, a imprensa estatal sudanesa noticiou um tiroteio na cidade de Kassala, no leste do país, entre soldados e traficantes por causa de carrinhas carregadas de armas destinadas às RSF. As autoridades de segurança disseram à AFP que o tiroteio terminou numa das três maiores apreensões de armas em Kassala, perto do porto de Suakin, no Mar Vermelho.
As autoridades sudanesas afirmam que os contrabandistas estão a transportar armas da Somália e do Iémen através do Mar Vermelho, tirando partido da fraca segurança na Eritreia e da desordem no Sudão.
A procura de armas no Sudão é motivada principalmente por civis que procuram protecção, comunidades que exigem retaliação e grupos armados que desejam reforçar o seu poder de fogo, segundo a Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional.
O grupo afirmou que a procura de armas pode aumentar ainda mais à medida que líderes como o antigo líder rebelde Minni Minnawi, actual governador de Darfur, apelam ao povo de Darfur para que pegue em armas para se defender e defender os seus bens.
“O Sudão está inundado de armas de fogo,” Khristopher Carlson, investigador sénior do Small Arms Survey, escreveu recentemente no The Conversation France.
Segundo algumas estimativas, os 48 milhões de civis do Sudão têm mais de 5 milhões de armas entre eles — um número que não inclui as armas nas mãos dos rebeldes nas regiões ocidental e meridional.
Estudos efectuados pelo Small Arms Survey encontraram uma grande variedade de armas chinesas, incluindo espingardas de assalto, metralhadoras de uso geral e pesadas, lança-granadas, lança-granadas automáticos, mísseis antitanque, vários tipos de foguetes e munições de pequeno calibre.
A Corporação da Indústria Militar do Sudão, controlada pelas SAF, fabrica armas, incluindo cópias de armas chinesas. A empresa fornece às SAF, mas as suas fábricas têm sido invadidas por combatentes das RSF que procuram reabastecer os seus próprios arsenais.
O Sudão tem um sistema de contrabando bem estabelecido, mas desde o início do conflito entre al-Burhan e Hemedti, o país tornou-se um íman para novos operadores que procuram ganhar dinheiro com o comércio de armas, disseram os contrabandistas à AFP.
O tráfico de armas converge para al-Batana, uma região pouco povoada do sudeste do Sudão, que faz fronteira com a Eritreia e a Etiópia. A zona inclui várias rotas de contrabando bem estabelecidas.
Aí, os traficantes de armas dizem que vendem as suas armas de contrabando a agricultores e pastores.
“Vendemos as nossas armas a pessoas de al-Batana,” um traficante de armas conhecido por Saleh disse à AFP. “Não lhes perguntamos o que vão fazer com elas depois.”