EQUIPA DA ADF
O norte da Somália, com as suas montanhas, cidades costeiras e zonas interiores escassamente povoadas, tem sentido a presença, nos últimos meses, de uma filial revitalizada do Estado Islâmico (EI-Somália), suja proeminência é uma ameaça crescente para o frágil país.
Na sua luta de vários anos contra o al-Shabaab, afiliado da al-Qaeda, o EI-Somália conseguiu expulsar os seus rivais mais poderosos do seu antigo reduto na cordilheira de Buuraha Cali Miskat, na região autónoma de Puntlândia.
“Apesar da presença do al-Shabaab, o EI também aumentou a sua influência na cidade portuária de Bosaso e nas aldeias remotas circunvizinhas do distrito de Qandala,” o Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos (ACLED) escreveu num relatório de situação de Julho. “A presença de militantes neste distrito facilita ao grupo o recrutamento de seguidores e o estabelecimento de controlo.”
O ACLED, uma organização não-governamental que mapeia e analisa crises globais violentas, observou que o distrito de Qandala é o lar do Ali Saleban, um subclã do clã Majeerten, ao qual pertence o líder do EI-Somália, Abdulqadir Mumin.
Mumin terá sobrevivido a um ataque aéreo no dia 31 de Maio, um sinal da sua ascensão à liderança mundial do Estado Islâmico. Alguns analistas especulam que Mumin poderá ter sido nomeado secretamente califa do EI, ou líder mundial, no início deste ano. Outros especialistas têm lançado dúvidas sobre a ideia de um não-árabe liderar o grupo terrorista.
No entanto, África tornou-se uma prioridade máxima nos planos de expansão do grupo Estado Islâmico.
“A presença de vários líderes de alto nível na Somália e em toda a África reflecte o papel cada vez mais central de África na rede global do EI,” o analista Liam Carr escreveu na sua avaliação de ameaças críticas de 20 de Junho. “Isso inclui o envolvimento de filiais e líderes baseados em África nas operações globais do EI, incluindo o financiamento de ataques externos e o recrutamento de combatentes estrangeiros.”
A ascensão de Mumin coincidiu com a do gabinete de al-Karrar, no norte da Somália, uma das nove direcções gerais regionais das províncias do EI que financiam e orientam os seus filiados em todo o mundo.
O gabinete de al-Karrar é alegadamente responsável pelas operações do grupo na Somália, na África Central e no Iémen, e desempenha um papel fundamental na coordenação e entrega de combatentes estrangeiros, fornecimentos, munições, fundos e orientações às filiais e redes do EI em todo o continente.
Colin Clarke, director de investigação do serviço global de informações The Soufan Group, disse à Voz da América que o EI-Somália se tornou um “ponto de ligação da rede logística global mais vasta do grupo.”
Ao cultivar um clima de medo e insegurança, o EI-Somália expandiu a sua influência significativa na região de Bari, em Puntlândia, na ponta do Corno de África. Geralmente, o grupo recorre à violência e à extorsão contra empresas e indivíduos que se recusam a satisfazer as suas exigências.
“Para financiar a sua luta pelo controlo das zonas estratégicas da Puntlândia, o EI aumentou os seus pagamentos mensais às empresas, que o grupo considera ‘impostos’,” declarou o ACLED. “Este dinheiro é utilizado para pagar aos combatentes e apoiar as actividades do grupo, incluindo o recrutamento.”
Abdikhaliq Awil, um especialista em segurança baseado em Garowe, a capital da Puntlândia, relatou nas redes sociais, em Junho e Julho, que o EI-Somália foi responsável pelo encerramento de mais de cinco grandes empresas, bem como do Hospital Nacional de Bosaso.
Um empresário de Bosaso partilhou a sua provação, dizendo à agência noticiosa Garowe Online que “contactaram-me recentemente e exigiram que pagasse 300 dólares por mês” antes de negociar a taxa mensal de extorsão para 150 dólares.
O ressurgimento do EI e a guerra em curso contra o al-Shabaab não foram os únicos problemas de segurança na Somália, uma vez que os combates entre clãs se intensificaram nas regiões do centro e do sul. O ACLED registou pelo menos 20 confrontos armados em Junho, sem dúvida, os mais violentos dos últimos 12 meses.
“Quase metade dos confrontos registados em Junho ocorreram na região de Mudug, no estado de Galmudug,” declarou o ACLED. “A violência é alimentada por lutas de poder entre vários clãs, que disputam o controlo e a influência em diferentes regiões. Os incidentes estão normalmente relacionados com disputas sobre campos de pastagem, a construção de represas e barragens e disputas de vingança entre clãs por resolver.”
O Presidente Hassan Sheikh Mohamud atribuiu o problema ao al-Shabaab e ao EI-Somália que tentam semear a discórdia e perturbar os esforços de luta contra o terrorismo.
“Faz parte do plano dos terroristas virar o nosso povo uns contra os outros para desviar as atenções da libertação do país,” disse num discurso ao parlamento no dia 6 de Julho. “Isso não vai acontecer. Estamos a tornar o nosso país pacífico e a expulsar os Khawarij [rebeldes extremistas] do país.”