EQUIPA DA ADF
A República Democrática do Congo (RDC) declarou recentemente o fim do surto do Ébola na província do Equateur, encerrando um esforço que durou meses para ter tudo sob controlo. Especialistas de saúde pública dizem que a campanha bem-sucedida oferece conhecimentos para os futuros esforços de África para vacinar centenas de milhares de pessoas contra a COVID-19.
“Estou muito confiante,” Dr. Nicaise Ndembi, conselheiro sénior de ciências na área de vacinas do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse à ADF. “Mas irei apontar para o facto de que o Ébola foi de pequena escala. Este caso é diferente. Não tem precedentes.”
Disse que o esforço de vacinação contra o Ébola demonstrou que tal grande realização é possível.
“Vencer um dos mais perigosos patogénicos do mundo em comunidades remotas e de difícil acesso demonstra aquilo que é possível alcançar quando a ciência e a solidariedade se unem,” Dra. Matshindiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, disse num comunicado.
O esforço do Ébola venceu vários obstáculos de grande envergadura: Muitas das zonas afectadas apenas podiam ser alcançadas por via aérea ou aquática e existiam linhas limitadas de comunicação. Uma greve dos profissionais de saúde também prejudicou os esforços. Para acrescentar a isso, a vacina contra o Ébola tinha de permanecer extremamente fria — em temperaturas abaixo de menos 80 graus Celsius — ao longo de todo o processo.
Apesar destes desafios, o pessoal médico conseguiu vacinar 40.000 pessoas e acabar com o surto que começou em Junho e fez 130 vítimas mortais. Mas a COVID-19 precisará de vacinar muitas vezes mais pessoas para alcançar a eficácia, um processo que pode levar anos.
Moeti afirmou que a mesma tecnologia de refrigeração que desempenhou um papel fundamental na campanha do Ébola também irá possibilitar a distribuição da vacina contra a COVID-19, em particular nas zonas rurais com fornecimento limitado de electricidade.
As vacinas que se encontram em desenvolvimento exigem um armazenamento e transporte em temperaturas muito abaixo de menos 80 graus Celsius.
“As vacinas tradicionais não exigem que a temperatura seja tão baixa assim,” disse Ndembi.
A outra lição do Ébola: Programas de alcance comunitários são de importância vital para o sucesso.
O surto do Ébola, que atingiu a África Ocidental de 2014 a 2016, criou um estigma que fez com que as pessoas evitassem de comunicar os casos e procurar tratamento. Uma situação de estigma semelhante esteve ligada à COVID-19 nalgumas partes de África.
Ndembi disse que será importante compreender que tipo de informação as pessoas querem obter sobre a COVID-19 e depois criar mensagens de saúde pública adequadas para quebrar as barreiras de desinformação e estigma.
O Ministro de Saúde da RDC, Eteni Longondo, afirmou que a campanha do Ébola foi bem-sucedida em parte porque as vacinas já estavam prontamente disponíveis e a tecnologia permitiu que as equipas de saúde pública pudessem transferir os centros de atendimento para estarem localizados em locais de fácil alcance das comunidades afectadas.
Olhando adiante para a COVID-19, Ndembi afirmou que especialistas médicos ainda estão a comparar as opções em sua posse para a administração da vacina.
“Poderemos terminar num cenário em que temos de escolher se trazemos as pessoas à vacina ou se trazemos a vacina às pessoas,” disse Ndembi.