EQUIPA DA ADF
Um novo relatório das Nações Unidas demonstra que o número de pessoas mortas no Mali continuou a aumentar em 2022, apesar de compromissos pelo governo de acabar com a violência extremista.
No dia 22 de Março, a missão da ONU no Mali, MINUSMA, publicou o seu relatório trimestral de Outubro a Dezembro de 2022, que demonstrou que a segurança naquele país continua a piorar. Durante aqueles três meses, 2.001 pessoas foram afectadas por actos de violência, incluindo mais de 370 pessoas raptadas ou desaparecidas.
Os grupos extremistas são os principais perpetradores de violência naquele país e são responsáveis por 56% das violações registadas, afirma o relatório. As mortes de civis como resultado de violência foram mais do que o dobro no Mali, em 2022, de acordo com dados da organização de mapeamento de crises, ACLED.
As autoridades da ONU estão a apelar para que o Mali investigue o Grupo Wagner, uma organização de mercenários russos, por aquilo que está a chamar de um “clima de terror e de completa impunidade” nas actividades do grupo naquele país assolado pela guerra. Em simultâneo, as autoridades da ONU estão a alertar que alguns países estão a considerar a possibilidade de retirar-se da MINUSMA.
As autoridades da ONU querem especificamente que o Mali investigue os relatos que datam de finais de Março de 2022, quando as forças armadas do Mali, acompanhadas por pessoal militar que se acredita pertencer ao Grupo Wagner, “executaram várias centenas de pessoas reunidas em Moura, uma aldeia do centro de Mali.”
O Grupo Wagner apareceu primeiramente em 2014, durante a anexação da Crimeia pela Rússia. A organização é alegadamente financiada por Yevgeny Prigozhin, um homem de negócios russo e associado próximo do presidente russo, Vladimir Putin.
Para além do Mali, as forças do Grupo Wagner foram enviadas para países africanos, incluindo Líbia, Sudão, Moçambique, Madagáscar e a República Centro-Africana. Através da sua propaganda, o Grupo Wagner foi bem-sucedido em moldar opinião pública no Mali e agora está a fazer propostas no Burquina Faso, que teve dois golpes de Estado militares em 2022, e possivelmente na Costa do Marfim.
As autoridades da ONU esboçaram este ano um relatório que afirma que a MINUSMA “não é viável” sem que se aumente o número de soldados de manutenção da paz, comunicou a Agence France-Presse. O documento mencionou a possibilidade de retirada das tropas caso as condições fundamentais não sejam satisfeitas.
A ONU criou a MINUSMA em 2013 para ajudar a estabilizar o país, que estava sob ameaça de um colapso sob pressão terrorista. Tais missões da ONU também servem para proteger os civis e defender os direitos humanos. Mas a situação de segurança no Mali não melhorou.
“A MINUSMA é uma operação de manutenção da paz onde não existe paz para manter,” resumiu o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, no documento, comunicou a AFP.
A BBC observou que não existem provas que sugerem que o Grupo Wagner tenha reduzido o aumento da violência extremista naquela região.
Os problemas de segurança do Mali estão a afectar a maior parte da África Ocidental. Num relatório de Fevereiro de 2023, o Centro de Estudos Estratégicos de África (ACSS) observou que desde que assumiu o poder, em 2020, “a junta militar no Mali alienou os seus parceiros de segurança regionais e internacionais e seguiu uma estratégia que exacerbou a violência de militantes islamitas que ameaça o país, acelerando, por conseguinte, a crise de segurança no Sahel.”
O relatório observa que a força no poder no Mali deteve soldados da Costa do Marfim enviados para apoiar a MINUSMA, expulsou oficiais seniores da ONU e retirou-se da estrutura de segurança regional do G5 do Sahel.
“A junta do Mali repetidamente tirou vantagem das campanhas de desinformação coordenadas para preparar o terreno para a chegada do Grupo Wagner e para expulsar ou restringir o apoio estatutário para o Mali,” observa o relatório. “Mais de 2,7 milhões de pessoas ficaram deslocadas devido ao aumento da violência e da insegurança no Sahel.”
Com o mandato da MINUSMA a terminar em Junho, a ONU propõe três opções para a futura missão:
- Uma missão maior que exija que o Mali garanta a liberdade de movimento aos soldados de manutenção da paz e faça progressos no sentido de permitir uma transição para o governo civil. Este cenário, observa o ACSS, também engloba um aumento de contribuições de tropas.
- O fim do braço militar da Missão, para ser substituído por uma missão política especial.
- Manter a actual configuração de tropas com uma redução significativa do mandato para a missão.