EQUIPA DA ADF
Após seis anos de ausência de grandes ataques, os piratas somalis atacaram quatro navios em Dezembro, quando as marinhas internacionais se deslocaram do Oceano Índico para o Mar Vermelho, onde protegem o tráfego marítimo dos ataques dos rebeldes Houthi do Iémen.
Alguns observadores acreditam que os militantes do al-Shabaab na região de Sanaag, no norte da Somália, chegaram a um acordo para fornecer protecção aos piratas em troca de 30% de todas as receitas dos resgates e de uma parte de qualquer pilhagem, informou o jornal dos Emirados, The National.
O acordo poderá fornecer fundos essenciais ao al-Shabaab, depois de o governo somali ter reprimido as suas outras fontes de dinheiro ilegais e congelado as suas contas bancárias. Os terroristas também são suspeitos de negociar com piratas e rebeldes Houthi para adquirir armas.
No dia 14 de Dezembro, piratas somalis atacaram o cargueiro MV Ruen, de bandeira maltesa, a cerca de 680 milhas náuticas a leste de Bosaso, na Somália. Tratou-se do primeiro ataque bem-sucedido de piratas somalis a um navio mercante desde 2017.
“Ainda não foi confirmado qualquer valor, mas os piratas estão a exigir que, como parte do acordo, prometam não fazer mal à tripulação, na condição de que, depois de receberem o resgate, sejam autorizados a passear em liberdade e não sejam atacados ou presos,” Ahmed Mohamed, descrito como um “aliado próximo” dos piratas, disse ao The National, um serviço noticioso sobre o Médio Oriente.
Testemunhas em Bareeda, uma cidade na costa do Mar Vermelho, disseram ao jornal somali Horn Observer que o MV Ruen foi retido a cerca de 100 milhas da costa. As autoridades somalis acreditam que os piratas utilizaram um navio de pesca iraniano para o sequestro. Mohamed disse que os piratas estavam à procura de mais navios para sequestrar.
“A segunda canoa que foi recentemente sequestrada perto de Eyl está actualmente a ser utilizada pelos piratas para caçar outros navios,” disse ao The National.
Os piratas são particularmente activos ao largo da cidade costeira de Eyl, na região semiautónoma de Puntland, na Somália, que o al-Shabaab controla.
Em finais de Dezembro, piratas somalis fortemente armados sequestraram outro navio perto da ilha de Socotra, no Iémen. As autoridades de segurança somalis informaram que os piratas dirigiram então o navio para Eyl. Abdiqani Diriye, um oficial de segurança de Puntland, disse que os criminosos tinham estabelecido o controlo das zonas costeiras através de uma colaboração com traficantes de armas.
“Os piratas tornaram-se mais formidáveis do que nunca,” disse Diriye ao Horn Observer. “A fonte de financiamento para as suas novas armas permanece incerta, mas há suspeitas de que possa envolver o apoio financeiro de grupos terroristas como o al-Shabaab ou o ISIS.”
Pouco antes do sequestro no Iémen, o al-Shabaab tinha expulsado de Eyl um pequeno grupo de combatentes rivais do grupo do Estado Islâmico.
A Marinha Indiana resgatou, a 4 de Janeiro, 21 tripulantes a bordo do navio mercante MV Lila Norfolk, de bandeira liberiana, que os piratas tinham sequestrado a leste de Eyl no dia anterior, noticiou a BBC. A tripulação disse que cinco ou seis homens armados atacaram o navio.
No dia 29 de Janeiro, a Marinha Indiana prendeu 10 piratas que atacaram um navio de pesca iraniano e raptaram os seus 17 tripulantes ao largo da costa oriental da Somália.
A pirataria atingiu o seu auge na Somália em 2011, quando os piratas somalis lançaram 212 ataques, mas apenas cinco ataques foram registados entre 2017 e 2020. O abrandamento foi atribuído a operações navais coordenadas de combate à pirataria, a medidas de segurança, tais como guardas armados nos navios e ao aumento da perseguição e detenção de piratas.
As autoridades também registaram um ligeiro aumento da pirataria no Golfo da Guiné, onde foram registados 22 incidentes em 2023, em comparação com 19 em 2022, 35 em 2021 e 81 em 2020, de acordo com o Gabinete Marítimo Internacional.