EQUIPA DA ADF
Mais de 11 milhões de pessoas de toda a África sobreviveram a uma infecção por COVID-19 desde o começo da pandemia. Mas isso não significa que elas estejam seguras contra o vírus para sempre.
Os investigadores da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, concluíram que a COVID-19 pode infectar pessoas várias vezes, visto que o vírus produz novas e diferentes variantes e subvariantes através de mutações. A variante Ómicron, em particular, demonstrou ser especialmente capaz de vencer a imunidade natural bem como a adquirida.
Com aproximadamente 98% de sul-africanos a demonstrarem ter alguma forma de imunidade contra a COVID-19, a pesquisa dirigida por Juliet Pulliam, directora do Centro Sul-Africano Para Modelação e Análise Epidemiológica de Stellenbosch, sugere que a COVID-19 irá tornar-se uma parte normal das vidas de muitas pessoas daqui em diante.
“Este resultado possui implicações importantes para a planificação de saúde pública, particularmente em países como África do Sul, com elevadas taxas de imunidade obtida de infecções anteriores,” escreveu Pulliam no estudo publicado este ano depois da primeira vaga de infecções pela Ómicron.
As vagas anteriores impulsionadas pelas variantes Beta e Delta não produziram grandes números de reinfecções. A variante Ómicron, que iniciou no final de 2021, chamou a atenção dos cientistas, porque pessoas que já tinham recuperado das vagas anteriores estavam a contrair infecções pela COVID-19 pela segunda, terceira e até quarta vez.
A Ómicron aumentou substancialmente o risco de reinfecção, desse Pulliam.
“As recentes reinfecções ocorreram em indivíduos cujas infecções primárias ocorreram em todas as três vagas, com a maioria a ter as suas infecções primárias com a vaga da Delta,” Pulliam escreveu no Twitter, em Dezembro.
Uma pesquisa publicada recentemente pela Autoridade Nacional de Estatísticas do Reino Unido concluiu que o risco de ficar reinfectado com a variante Ómicron era oito vezes maior do que o risco de ficar reinfectado pela variante Delta. Os viajantes eram mais susceptíveis de ter reinfecções do que aqueles que ficassem em casa.
Outros estudos da variante Ómicron concluíram que quanto mais antiga for a imunidade de alguém, maior é a probabilidade de essa pessoa ficar infectada pela Ómicron.
“O vírus mudou muito,” Aubree Gordon, uma epidemiologista de doenças contagiosas, na Universidade de Michigan, disse à revista Wired. As mudanças que a Ómicron desenvolveu impossibilitam o sistema imunológico do corpo a reconhecer e combater a doença, acrescentou.
Depois da vaga de Ómicron, um estudo feito pelo Serviço Nacional do Banco de Sangue da África do Sul concluiu que 98% dos sul-africanos possuem algum nível de imunidade à COVID-19, a vasta maioria através da exposição directa à infecção.
A vaga da Ómicron original, identificada como B.1.1.529, cindiu-se em várias novas variantes, incluindo as estirpes BA.4 e BA.5, que impulsionaram a quinta vaga da África do Sul, em Abril e Maio.
Embora seja possível haver reinfecções devido à Ómicron, elas têm sido raras até esta altura. De acordo com a pesquisa de Pulliam, as reinfecções representam cerca de 15% das actuais infecções na África do Sul — um número que ela admite que esteja a ser subvalorizado por causa da redução acentuada nas testagens.
“Provavelmente tenhamos perdido as primeiras infecções de muitas pessoas,” disse Pulliam à Wired.
A nível do continente, as testagens da COVID-19 baixaram em 28% no início de Junho, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças. Isso ocorreu apesar do aumento nos números de casos que fizeram com que o Quénia declarasse uma sexta vaga de infecções.
Em termos gerais, as infecções estão a aumentar em todas as regiões de África, excepto na África Austral, onde o fim da quinta vaga da África do Sul fez com que os números registassem um declínio.
Mesmo numa altura em que os números de infecções da África do Sul reduzem, a capacidade da variante Ómicron de vencer a imunidade é um lembrete daquilo que o futuro nos reserva no que diz respeito à luta contra a COVID-19, de acordo com Pulliam.
“Quando a pandemia primeiramente iniciou, todos assumimos que, quando alguém a contraísse, era tudo,” disse Pulliam à Wired. “Se o que está a acontecer na África do Sul for alguma indicação, é provável que as pessoas fiquem reinfectadas por muitos anos.”