EQUIPA DA ADF
Fatima Abdallah encontra-se entre os mais de 100.000 sudaneses que fugiram para o Chade desde o início dos combates, a 15 de Abril.
“Não vamos regressar,” disse ela à Al-Jazeera. “Vamos ficar no Chade porque aqui há um governo.”
O Chade fechou a sua fronteira de 1.400 quilómetros com o Sudão logo após o início dos combates entre o General Abdel Fattah al-Burhan, chefe das Forças Armadas do Sudão, e o seu rival, conhecido como Hemedti, que lidera as Forças de Apoio Rápido.
Um fluxo contínuo de pessoas que fogem do Sudão está a sobrecarregar os hospitais e os sistemas de ajuda internacional em comunidades fronteiriças como Adré. A actual vaga de deslocados junta-se a mais de 400.000 sudaneses que já vivem no leste do Chade, tendo fugido de décadas de conflito na região.
Os laços étnicos unem as pessoas de ambos os lados da fronteira porosa, onde também existe um historial de contrabando de armas entre as províncias chadianas de Wadi Fira, Ouaddai e Sila e a região sudanesa de Darfur.
Os especialistas dizem que a situação é propícia para que o conflito sudanês se transforme numa luta regional mais vasta, enquanto o Chade se esforça por resolver os problemas de segurança, ajuda humanitária e impacto económico dos combates.
Segurança
No dia 20 de Abril — cinco dias após o início dos combates — as autoridades chadianas detiveram e desarmaram um contingente de soldados sudaneses que atravessavam a fronteira.
“Ao deter estas tropas em fuga, (o presidente do Chade) está a tentar evitar a percepção de que está a permitir que o exército sudanês opere a partir do Chade contra as RSF,” Benjamin Hunger, analista para África, da Verisk Maplecroft, uma empresa de avaliação de riscos, disse à The Associated Press.
As ligações étnicas transfronteiriças representam uma ameaça potencial, porque as milícias da região são construídas em torno da identidade étnica, de acordo com Hoinathy Remadji, do Instituto de Estudos de Segurança.
Essas mesmas ligações podem pôr em risco a liderança do Chade, porque o chefe do gabinete do Presidente Mahamat Déby, o General Bichara Issa Djadallah, é primo de Hemedti. Segundo o investigador Daniel Banini, a vitória ou derrota de Hemedti no Sudão pode representar um enorme risco para o Presidente de transição, Déby, no Chade.
“No caso da sua vitória (de Hemedti), os árabes chadianos podem sentir-se encorajados a tentar tomar o poder também no Chade,” escreveu Banini no The Conversation.
Custo Humanitário
O fluxo de refugiados sudaneses que entram no Chade — 80% dos quais são mulheres e crianças — ocorreu tão rapidamente que está a sobrecarregar os esforços internacionais para lhes fornecer abrigo, alimentos e água potável.
Ali Salam, um chadiano-americano que trabalha com a Sudanese American Physicians Association (SAPA), disse ao The Guardian que as condições num campo de refugiados em Koufroun eram “lastimáveis.”
A estação das chuvas, que chega no final de Junho, transformará as estradas de terra batida da região em lama, tornando ainda mais difícil a ajuda aos necessitados, e provocará um aumento de doenças como a malária, segundo as agências de ajuda humanitária.
“Sabemos que não vamos conseguir realojar todos antes da estação das chuvas,” Pierre Kremer, da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), disse à Reuters. “Corremos o risco de um grande desastre humanitário nesta área.”
Economias Afectadas
O Chade, sem litoral, depende do Sudão para ter acesso aos mercados internacionais de alimentos, produtos petrolíferos refinados e outras importações. Os combates complicaram esse sistema, agravando a escassez de combustível que começou em Março e fazendo subir os preços dos alimentos.
De acordo com o Observatório da Complexidade Económica, o encerramento da fronteira com o Sudão provocou o aumento dos preços em até 70%. Na capital do Chade, a inflação elevada está a causar grandes problemas tanto aos comerciantes como aos clientes, uma vez que as consequências económicas dos combates no Sudão influenciam os preços de tudo, incluindo o tão apreciado chá vermelho dos chadianos.
Historicamente, o chá e o açúcar que o adoça vinham do Sudão. Actualmente, os vendedores têm de se abastecer nos Camarões, a um preço quase duas vezes superior.
“Os bens são mais caros do que as pessoas podem pagar,” Idriss Adam Ismail, um vendedor de N’Djamena, no Chade, disse à VOA News. “Tudo isso é por causa dos combates no Sudão.”