EQUIPA DA ADF
Mariam compareceu a uma sessão de esclarecimento com um oficial dos serviços secretos militares congoleses e descreveu como um rebelde ugandês a tinha tomado como sua esposa e a tinha levado para um acampamento na floresta.
Sentiu-se suficientemente segura na base militar da cidade de Beni, no leste da República Democrática do Congo (RDC), perto da fronteira com o Uganda, para falar sobre o que foi viver entre rebeldes extremistas durante dois anos.
A jovem de 22 anos, que não revelou o apelido para sua segurança, vivia com um dos mais mortíferos dos mais de 120 grupos armados que operam no leste da RDC — as Forças Democráticas Aliadas.
Também conhecido como Província da África Central do Estado Islâmico, ou ISCAP, o grupo expandiu o seu alcance com o financiamento do grupo do Estado Islâmico (EI).
Mariam estava entre as cerca de 425 mulheres cativas que foram libertas ou fugiram dos rebeldes que o exército congolês (FARDC) interroga desde Janeiro.
O porta-voz do exército congolês, Antony Mwalushay, disse que as mulheres podem ter informações valiosas sobre as operações do grupo que ajudam nos esforços de contra-insurgência.
“Às vezes, elas contam segredos que o exército não tinha,” disse à Reuters. “Isso melhora a inteligência e permite-nos actualizar os nossos dados utilizando as suas informações. Quando comparamos as suas informações com as que possuímos, elas correspondem. Isso dá-nos a garantia de que a detida é séria e fornece-nos informações fiáveis.
“Quando esta informação se refere a um local onde se encontra um líder das Forças Democráticas Aliadas, as operações são efectuadas nesse local e encontramos o acampamento dos atacantes com precisão.”
As Forças Democráticas Aliadas estabeleceram-se no leste da RDC em meados da década de 1990, antes de se aliarem ao EI em 2019.
Um relatório apresentado ao Conselho de Segurança das Nações Unidas em 2023 descrevia em pormenor a recente expansão do grupo enquanto filial do EI. Os peritos da ONU afirmaram que as Forças Democráticas Aliadas enviaram batedores e combatentes para planear ataques centenas de quilómetros para além da sua área normal de operações no leste da RDC.
Após uma série de atentados bombistas perpetrados pelo grupo na capital do Uganda, Kampala, mais de 1.500 soldados ugandeses lançaram um esforço militar conjunto com as FARDC, denominado Operação Shujaa, em Dezembro de 2021, com o objectivo de expulsar e destruir o grupo militante.
“No Kivu do Norte, a operação Shujaa teve um impacto no grupo armado sancionado,” afirma o relatório da ONU. “No entanto, as Forças Democráticas Aliadas prosseguiram a sua expansão para além das províncias do Kivu do Norte e de Ituri e continuaram a efectuar ataques mortais contra civis.”
Agora, as FARDC estão a voltar a sua atenção para os antigos prisioneiros e reféns do grupo, que estão a fornecer informações e conhecimentos sobre as suas operações.
Uma outra mulher, de 22 anos, que vivia num campo das Forças Democráticas Aliadas quando o marido se juntou ao grupo terrorista, disse que vivem segundo uma interpretação rigorosa da Sharia.
“Toda a lei muçulmana lá é muito diferente da que temos aqui,” disse à Reuters. “Por exemplo, as mulheres cobrem todo o rosto. Não se pode vê-las ou reconhecê-las.
“No campo das Forças Democráticas Aliadas, se falares com um marido que não é teu, eles chicoteiam-te.”
Jolie Mbangu Tcheko, uma líder comunitária da aldeia de Eringeti, perto de Beni, ouviu histórias de antigos reféns das Forças Democráticas Aliadas que disseram que o grupo quer que todos os civis da zona pratiquem a mesma interpretação estrita do Islão.
“De acordo com os testemunhos dos reféns libertos por eles na floresta, as Forças Democráticas Aliadas observam as orações muçulmanas e querem que todos nós sejamos muçulmanos,” disse à Reuters.
“Os ataques continuam. Vivemos no caos. Em Eringeti, as coisas não estão a correr muito bem.”