EQUIPA DA ADF
Desde que a junta governativa do Burquina Faso chegou ao poder, em Setembro de 2022, a liderança tem confiado cada vez mais nos Voluntários para a Defesa da Pátria (VDP), mal treinados e pouco armados, para servirem de forças da linha da frente no combate aos extremistas. Os especialistas consideram que esta estratégia causou milhares de mortes de civis, levou a ataques a comunidades que fornecem voluntários e destruiu o tecido social do país.
“A utilização de VDPs é uma faca de dois gumes,” escreveram recentemente analistas do Crisis Group. Embora os voluntários ajudem a alargar o alcance das operações de contra-insurgência das forças armadas burquinabês, também sofrem pesadas baixas e têm frequentemente visado os pastores Fulani como suspeitos de serem extremistas, agravando as relações entre os grupos de pastores e os grupos estabelecidos, observou o Crisis Group.
“Os relatos de extorsão, desaparecimentos forçados, raptos, execuções sumárias e outros abusos cometidos pelos recrutas dos VDP contra as comunidades Fulani são um testemunho dos desafios da integração de unidades civis armadas nas estratégias oficiais de segurança sem exacerbar o conflito interétnico,” relataram os analistas do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos no final de Março.
Os membros da etnia Fulani disseram às autoridades que, embora tenham medo dos extremistas, também têm medo dos combatentes dos VDP, que suspeitam que eles apoiam os grupos extremistas. Os combatentes dos VDP são suspeitos da morte de 28 pessoas encontradas assassinadas na comunidade de Noura nos últimos dias de 2023. Um mês antes, em Novembro, homens vestidos com uniformes militares massacraram homens, mulheres e crianças em Zaongo, uma comunidade do centro do Burquina Faso onde os residentes se tinham recusado a aderir aos VDP.
Os sobreviventes disseram à The Associated Press que os homens invadiram a comunidade de motorizadas e mataram pessoas ao acaso, provavelmente acreditando que os residentes estavam do lado dos extremistas que mais tarde tomaram o controlo da comunidade.
A organização da sociedade civil burquinabê Colectivo contra a Impunidade e a Estigmatização das Comunidades registou 250 execuções extrajudiciais de membros da etnia Fulani nos últimos três meses de 2023, quase o triplo do número registado nos quatro meses anteriores. Daouda Diallo, o líder do colectivo, desapareceu em Dezembro de 2023 e terá sido recrutado para as forças armadas ao abrigo de um decreto cada vez mais utilizado contra os críticos da junta, segundo a Amnistia Internacional.
Os VDP são um legado do antigo Presidente Roch Marc Christian Kaboré, que formou o grupo em 2020 para combater os extremistas que se tinham espalhado a partir do vizinho Mali. A incapacidade de controlar os extremistas foi utilizada para justificar os golpes militares de Janeiro e Setembro de 2022. Após o segundo golpe, o líder de facto do Burquina Faso, o capitão Ibrahim Traoré, alargou os VDP a cerca de 90.000 pessoas provenientes de comunidades de todo o país.
A escalada do recrutamento dos VDP foi recebida com violência pelos extremistas, em especial pela Jama’at Nusrat al-Islam wal-Muslimin, afiliada à al-Qaeda, e pelo Estado Islâmico no Grande Sara, que lançaram ataques de retaliação contra as comunidades que forneciam combatentes aos VDP. Atacaram também os campos de acolhimento dos 2 milhões de pessoas deslocadas pela violência.
Os extremistas bloquearam comunidades em todo o Burquina Faso que suspeitam apoiar o governo. Os bloqueios mantêm cerca de meio milhão de pessoas sob restrições que afastam os agricultores dos seus campos e os pastores do seu gado. Ao mesmo tempo, os extremistas interceptam os comboios de ajuda que tentam levar socorro. A escala dos bloqueios tem vindo a aumentar à medida que a junta militar intensifica os seus ataques contra os grupos extremistas.
Os bloqueios transformaram comunidades outrora prósperas, como Pama, em zonas de catástrofe.
“Os nossos irmãos e irmãs, primos e sobrinhos, os nossos idosos, vivem na pobreza total,” uma professora que escapou de Pama disse ao The New Humanitarian. Pama está bloqueada há mais de um ano.
Enquanto a Junta prossegue a sua luta contra os extremistas, Traoré anunciou, no início de 2024, um aumento de 30% no bónus mensal pago aos combatentes dos VDP, bem como um pagamento em caso de incapacidade durante o combate.