EQUIPA DA ADF
Os homens que se faziam passar por soldados da República Centro-Africana (RCA) ficaram em frente da sua bandeira nacional e juraram aliança. Mas não estavam a jurar lealdade ao seu país. Isto era muito diferente.
“Estamos prontos para ir para Ucrânia e iremos para lá com determinação,” disse um soldado.
“Meus irmãos russos, aguardem!” declarou um soldado num segundo vídeo. Nós, os africanos, estamos a vir em breve. Coragem, coragem .”
As mensagens faziam parte de uma série de vídeos partilhados amplamente num aplicativo de mensagens seguro, Telegram. A identidade dos soldados não pode ser confirmada e os esforços da Rádio France Internacional para obter comentários do Ministério da Defesa da RCA sobre o vídeo resultaram em fracasso.
O que está claro, contudo, é que a Rússia pretende utilizar os seus esforços em África para ganhos de propaganda e possivelmente recrutar combatentes para a sua invasão da Ucrânia. Está a fazer isso em ligações com o Grupo Wagner, a assombrosa organização mercenária que possui ligações com o Kremlin. O Grupo Wagner já foi acusado de violações de direitos humanos e possui um rasto de registo de desestabilização nos países anfitriões.
Antes da invasão, os grupos de mensagem afiliados ao Grupo Wagner, no Telegram, incendiaram-se com ofertas de recrutamento para combatentes viajarem para Ucrânia. A BBC noticiou que o Grupo Wagner enviou mensagens, apelando que pessoas com: registo criminal, dívidas, banidas de grupos de mercenários ou sem um passaporte externo” pudessem juntar-se. A oferta prometia a estes criminosos um “piquenique na Ucrânia,” e para saborearem o “salo,” um prato muito bem conhecido da gastronomia local feito de carne de porco. Estas promessas podiam ser interpretadas como convites para vandalizar e cometer crimes de guerra.
Uma outra parte deste esforço global é uma nova página da internet que apela aos visitantes a “Juntarem-se ao Grupo Wagner.” Este site parece ser administrado a partir de Bangui, a capital da RCA, e inclui um mapa com números inflacionados de combatentes do Grupo Wagner, afirmando que 32.000 mercenários foram destacados em África. O verdadeiro número é muito inferior. Os dísticos chamam o Grupo Wagner de “a mais forte (empresa militar privada) do mundo” e o site utiliza imagens de cidadãos da RCA, vestindo camisetas pró-Rússia. Num dos cartazes, um mercenário é visto a proteger uma criança com a mensagem, “Wagner, sempre do lado do bem.”
O site parece estar a ecoar conteúdos de outros canais de propaganda pró-Rússia, incluindo a estação de rádio da RCA patrocinada pela empresa mineira russa, Lobaye Invest. A página da internet, contudo, não parece ser um real portal de recrutamento, de acordo com repórteres investigativos da France24. E-mails e informação enviada através do site não obtiveram respostas.
“A página da internet ‘join-wagner.com’ parece estar a alimentar os canais que o grupo utiliza para difundir informação e também parece estar a obter imagens destes canais. Estas pistas sugerem que esta não seja uma iniciativa isolada, mas parte de uma máquina de propaganda mais ampla,” reportou a France24 numa série investigativa chamada, The Observers.
O Grupo Wagner pode estar a utilizar outros métodos para recrutar no continente. O Daily Beast noticiou que 200 antigos combatentes de um grupo rebelde, conhecido como União Para a Paz na RCA, foram para a Rússia para treinar no acampamento do Grupo Wagner. Alguns regressaram para a RCA enquanto outros podem ter sido destacados para a Ucrânia, comunicou o site de notícias. “Estes antigos rebeldes irão receber treinos de combate, incluindo como lidar com armamento feito na Rússia e depois irão regressar para casa antes de serem destacados para lugares onde os instrutores russos trabalham,” um oficial de segurança da RCA, anónimo, disse ao Daily Beast.
A Rússia também procurou fortalecer a aparência de apoio local com manifestações nas ruas, concebidas para parecerem espontâneas. Um destes eventos, em Bangui, no dia 5 de Março, teve pessoas que transportavam sinais com as inscrições: “É culpa da NATO” e “Rússia e República Centro-Africana Contra o Nazismo.”
Mas, longe das manifestações, as opiniões no país estão divididas quanto ao alinhamento com a Rússia. Muitos temem que as ligações próximas com aquele país não estão no melhor interesse da RCA.
“Temos de ser sábios,” estudante Trèsor Koyamba disse à agência de notícias DW.com. “Temos de permanecer imparciais. Esta guerra, esta é a guerra de grandes poderes, e a RCA deve ter muito cuidado para não se envolver neste assunto .”