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Segurando o seu bebé nos seus ombros, com uma mão, e um grande saco de roupas da sua família de oito pessoas, com a outra, Safari Hangi seguia à frente para um lugar seguro, caminhando na lateral de uma estrada de terra batida, em direcção à capital da província do Kivu do Norte.
A região leste da República Democrática do Congo (RDC) está repleta de rebeldes, forças de segurança e refugiados. Todos encontram-se em movimento.
A rebelião do M23 reiniciou mais de um ano atrás, e, no início de 2023, os avanços dos rebeldes deixaram centenas de civis mortos. Os rebeldes são acusados de massacres, violações, recrutamento forçado e outras atrocidades.
As movimentações recentes dos rebeldes estão a sufocar a economia da capital do Kivu do Norte, Goma, enquanto dezenas de milhares de deslocados civis seguem em direcção a Goma e montam acampamentos informais nos arredores da cidade.
Hangi e sua família caminharam durante horas, passando pela cidade de Sake, atravessando estradas sinuosas e montanhosas em direcção a Goma, ansiosos por estarem adiantados em relação aos rebeldes, que tinham cercado a aldeia de Mushaki, a cerca de 15 quilómetros a oeste.
“Se não fosse esta guerra, nós estaríamos na nossa aldeia, sem qualquer problema, a cultivar e a seguir com as nossas actividades diárias,” aquele cidadão de 42 anos de idade disse à Reuters. “Agora que estamos deslocados, tudo isso acabou e nós sofremos.”
Apesar de um aumento no financiamento, de 459 milhões de dólares, em 2021, para 700 milhões de dólares, em 2022, o exército congolês está a ter dificuldades para subjugar os insurgentes.
O M23, dirigido por Tutsis, afirma que está a proteger a etnia Tutsi no leste da RDC enquanto também acusa a RDC de não considerar o tratado de paz de 2009 que prometia integrar os seus combatentes no exército.
“Queremos um diálogo directo com o governo, para abordar as principais causas do conflito,” o porta-voz político do M23, Lawrence Kanyuka, disse à Agence France-Presse (AFP), sem especificar as exigências do grupo.
“Não podemos colocar a carroça à frente dos bois.”
A RDC acusa o vizinho Ruanda de financiar e fornecer suprimentos aos rebeldes. Apesar de existirem provas de especialistas das Nações Unidas que apoiam as afirmações da RDC, o Ruanda continua a negar o seu envolvimento.
Através de diversas ofensivas, desde finais de 2022, o M23 tomou grandes faixas do Kivu do Norte, incluindo terras agrárias importantes e aproximadamente todas as estradas fundamentais ao comércio. Em Fevereiro de 2023, os rebeldes estavam próximos dos arredores de Goma.
Com todas as suas rotas de comércio interrompidas, os preços em Goma subiram drasticamente, alguns deles em cerca de 20% em Outubro e Novembro de 2022, de acordo com um grupo de segurança alimentar dirigido pela Organização da ONU para Alimentação e Agricultura e o Programa Mundial de Alimentação.
Onesphore Sematumba, um analista da RDC para o Grupo Internacional da Crise, disse que os rebeldes pretendem estrangular Goma para pressionar o governo a aceitar manter conversações.
“Se não pudermos negociar um corredor humanitário para a cidade, será uma catástrofe,” disse à AFP.
A cerca de 15 quilómetros a leste, Sake é um dos últimos postos de comércios remanescentes ligado a Goma. Mas em finais de Fevereiro, os mercados de Sake, que normalmente eram agitados, estavam calmos e vazios.
O comerciante Pascal Habamungu Kasilika disse que os avanços do M23 para Mushaki deixaram as pessoas com sentimento de estar encurralados e com medo.
“Preocupa-nos,” disse à AFP. “Perguntamo-nos aonde iremos? Para onde fugirmos? A quem pedimos socorro? Este problema está fora do nosso alcance.”