EQUIPA DA ADF
Quando o grupo extremista Boko Haram raptou 276 alunas, na remota cidade de Chibok, Nigéria, em 2014, a situação deixou o mundo aterrorizado.
Manchetes internacionais catalisaram-se numa enorme campanha feita por celebridades, políticos, governos e grupos de defesa dos direitos humanos, nas televisões, nos jornais e nas redes sociais.
Entre 2016 e 2017, mais de 100 raparigas foram libertas, mas pensa-se que pelo menos 100 das restantes raparigas ainda estejam no cativeiro.
Mas a estratégia de sequestros do Boko Haram ganhou notoriedade, adesão e, em alguns casos, pagamentos de resgate.
“O grupo era relativamente desconhecido antes do sequestro das raparigas de Chibok,” disse o pesquisador nigeriano, Hakeem Onapajo, à rede online The Conversation. “Então, isso por si só popularizou o grupo.
As crianças são muito estratégicas para as suas actividades. Por causa do aspecto emocional das crianças, eles entendem que o governo facilmente os ouvirá.”
Terroristas islâmicos e outros grupos armados seguiram o modelo do Boko Haram e transformaram os sequestros num negócio lucrativo.
Os raptos nas escolas aumentaram bruscamente desde Dezembro de 2020, quando o Boko Haram levou mais de 300 rapazes. Naquele caso, contudo, o grupo terrorista atacou no Estado de Katsina, no noroeste, a centenas de quilómetros da região agitada do nordeste, onde o grupo esteve sediado por mais de uma década.
Em Fevereiro, bandidos vestidos como soldados raptaram 27 estudantes do Colégio Governamental de Ciências de Kagara, no Estado de Níger. Duas semanas depois, homens armados levaram cerca de 300 raparigas de uma escola secundária, no Estado de Zamfara, que se localiza a oeste do Estado de Katsina e a norte do Estado de Níger.
Mais recentemente, homens armados levaram 39 estudantes do Colégio Federal de Mecanização Florestal, em Março. Um mês depois, sequestradores levaram 23 estudantes da Universidade de Greenfield, assassinaram cinco pessoas e exigiram um resgate de 100 milhões de Nairas (262.405 dólares) e 10 motorizadas.
Nasir El-Rufai, governador do Estado de Kaduna, onde ambos os ataques recentes ocorreram, disse que o governo não iria negociar com bandidos.
Os pagamentos de resgate, algo que é tipicamente desmentido pelas autoridades governamentais, motivaram o crescimento da indústria dos raptos. Pelo menos 18 milhões de dólares foram pagos aos sequestradores, entre Junho de 2011 e Março de 2020, de acordo com um relatório da empresa de inteligência nigeriana, SB Morgen.
O presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, publicou uma repreensão no seu Twitter, dizendo que “os governos estatais devem rever as suas políticas de galardoar bandidos com dinheiro e veículos. Este tipo de políticas tem o potencial de trazer consequências desastrosas.”
Especialistas indicam várias causas para a erupção de sequestros.
“Muitas coisas alimentam a economia dos sequestros, sendo as maiores das quais a pobreza, o desemprego e as desigualdades,” parceiro da SB Morgen, Cheta Nwanze, escreveu para o jornal nigeriano Premium Times. “Mas, em última instância, existem cinco pilares sobre os quais a indústria dos raptos sobrevive: espaços não governados, formação de quadrilhas, aquisição de armas, comunicações e conspiração.
“Todos estes são problemas que podem ser resolvidos se formos sérios na nossa decisão de resolver o problema.”
Buhari esteve sob pressão intensa por causa da falta de uma estratégia coesa da Nigéria para confrontar o terrorismo e o banditismo.
O parlamento, no dia 27 de Abril, apelou a Buhari, as forças armadas e a polícia para combaterem a crescente crise de segurança no país, com a câmara dos deputados a pressionar Buhari para declarar um Estado de Emergência.
“O governo deve ter uma nova abordagem,” sugeriu Onapajo. “Deve haver muito mais compromisso para colaborações internacionais. Deve haver muito mais provisão do equipamento necessário para os soldados.
“E também deve haver muito mais foco em abordagens não militares. Muito mais foco deve ser colocado em como introduzir programas que podem prevenir o recrutamento facilitado e os ataques contra as crianças naquela região.”