EQUIPA DA ADF
Homens mascarados do Boko Haram entraram na aldeia de Shiroro, no Estado do Níger, da Nigéria, a partir da floresta de Hudawa, próximo dali. Dispararam enquanto seguiam ao longo das estradas de terra batida de Shiroro.
Enquanto alguns membros do grupo mantinham os residentes com arma apontada, outros iam de casa em casa, raptando crianças dos residentes da aldeia. Os rapazes seriam alistados como crianças-soldado; as raparigas seriam dadas em casamento aos combatentes do Boko Haram.
Desde as suas origens no Estado de Borno, da Nigéria, o Boko Haram espalhou a sua marca de extremismo violento em todo o norte da Nigéria e na região do Lago Chade. O seu aparecimento no Estado do Níger representa uma expansão em direcção ao sul e ao oeste.
“Confirmo que existem elementos do Boko Haram aqui no Estado do Níger,” Abubakar Bello, governador do território da Capital Federal vizinha, disse ao Premium Times, da Nigéria. “Confirmo que eles içaram as suas bandeiras aqui.”
Especialistas afirmam que os raptos são uma resposta do grupo terrorista às recentes perdas. Mais de 52.000 combatentes do Boko Haram renderam-se perante as autoridades. Aproximadamente 50, incluindo dois comandantes, renderam-se ao exército nigeriano em Novembro. Os conflitos entre as duas facções do Boko Haram — Jama’tu Ahlis Sunna Lidda’awati wal-Jihad (JAS) e a Província da África Ocidental do Estado Islâmico — reduziram ainda mais as fileiras de ambos grupos.
Os raptos tornaram-se uma forma de ambos grupos reconstruíram as suas forças, de acordo com Malik Samuel, um investigador que trabalha para o Instituto de Estudos de Segurança (ISS), sediado na África do Sul. Também representa uma mudança importante de tácticas do ISWAP, que se separou, em parte, por causa da sua oposição ao recrutamento de rapazes e ao rapto de raparigas.
“Podia-se esperar que o ISWAP agisse de forma diferente,” escreveu Samuel para o ISS, em 2022. “Mas recentes perdas de combatentes em batalha, conflitos com o JAS e deserções de membros podem tê-los compelido a repensar o seu posicionamento sobre as crianças-soldado.”
Quando os combates do Boko Haram chegaram à comunidade de Kurebe, do Estado do Níger, um dos seus primeiros actos foi incendiar a nova escola local. O grupo fez com que a destruição de escolas fosse uma parte fundamental dos seus esforços de recrutamento.
O líder local de Kurebe, Yusuf Saidu, disse que os terroristas deram um ultimato aos residentes antes de destruírem a escola.
“Eles emitiram ameaças a nós, dizendo que matariam a nós e aos nossos filhos se os enviássemos para a escola,” disse Saidu ao Premium Times. Os pais mantiveram as crianças fora das escolas, disse.
“Eles raptam os nossos filhos e dizem que estão a colocá-los nas suas escolas,” disse. “Não sabemos onde se localiza a escola, mas sabemos que eles dizem que não devemos levar os nossos filhos para a escola aqui em Kurebe. Qualquer um que quer que seu filho vá à escola deve levá-lo para fora da aldeia.”
O UNICEF estima que o Boko Haram tenha raptado mais de 8.000 rapazes e raparigas desde 2009. Nesse mesmo período, destruiu 5.000 salas de aulas e aproximadamente um milhão de casas.
“É inaceitável e injusto que raparigas e rapazes continuem a servir nas linhas da frente de um conflito que eles não iniciaram,” Phuong T. Nguyen, representante do UNICEF no nordeste da Nigéria, disse num comunicado.
O UNICEF apelou a Nigéria para se juntar ao seu Protocolo de Handover para garantir que as crianças-soldado libertas sejam devolvidas para as autoridades civis e para serem integradas na sociedade e reunidas com as suas famílias.
“Devemos às raparigas e aos rapazes a oportunidade de deixarem atrás os horrores do conflito,” disse Nguyen. “Cada dia de atraso nas mãos de grupos armados é uma tragédia com graves implicações para as crianças, as famílias e a sociedade nigeriana como um todo.”
A Nigéria juntou-se a outros esforços internacionais para prevenir o recrutamento de crianças-soldado. O Estado de Borno, onde o Boko Haram originou, aprovou uma medida no ano passado que proíbe o abuso sexual de crianças para além do uso de crianças como soldados e trabalhadores — uma medida direccionada ao Boko Haram.
Em áreas onde o grupo tem domínio, crianças menores são colocadas a trabalhar nas machambas enquanto os rapazes vão para os campos de treino, onde aprendem a manusear armas e são doutrinadas como combatentes. As raparigas jovens são levadas como esposas por combatentes do Boko Haram.
A filha de 11 anos de idade de Haruna Husaini, Rumasau, esteve entre as raparigas raptadas durante a rusga de Shiroro. Ele implorou para que os terroristas a devolvessem. Eles, pelo contrário, ofereceram-se em pagar o preço de noiva.
“Disseram que devemos falar sobre o preço de noiva, mas eu recusei em cobrar,” Husaini disse ao Premium Times. “Eu disse-lhes que apenas queria a minha filha.”