EQUIPA DA ADF
Cientistas quenianos encontram-se entre aqueles que rapidamente fizeram o sequenciamento de variantes do SARS-CoV-2 nos últimos dois anos, exemplificando a capacidade científica do continente.
Os cientistas de dois laboratórios do Quénia — o Instituto Internacional de Pesquisa de Gado (ILRI) e o Programa de Pesquisa da KEMRI-Wellcome Trust — encontram-se entre os 300 investigadores africanos que recentemente receberam reconhecimento, num estudo publicado na revista Science.
O cientista sénior do ILRI, Dr. Samuel Oyola, especialista em genómica de biologia molecular, disse que os dados foram utilizados para rastrear variantes de SARS-CoV-2 que circulam no Quénia e em todo o continente.
“Isso ajudou as autoridades de saúde pública a fazerem a monitoria das dinâmicas de transmissão e desenvolverem medidas informadas para o controlo da propagação do vírus em tempo real,” disse ao jornal queniano, The Star.
“O ILRI está a desempenhar um papel de extrema importância no desenvolvimento da capacidade de preparação e resposta à pandemia em África, através de tecnologias moleculares e genómicas avançadas.”
O estudo, publicado no dia 15 de Setembro, tem como título “A evolução da epidemia do SARS-CoV-2 em África: Conhecimentos adquiridos da vigilância genómica em rápida expansão.”
Com mais de 300 autores, foi o maior grupo de cientistas e instituições de saúde pública africanos que trabalharam em conjunto para apoiar uma resposta à COVID-19 baseada em dados.
“O ILRI teve o privilégio de ter feito parceria com um grupo impressionante de cientistas,” disse Oyola.
Nos primeiros dias da pandemia, menos de 15 países de África tinham infra-estruturas para realizar o sequenciamento genómico. Agora, 39 países possuem suas próprias instalações de sequenciamento.
Até Setembro, 52 países africanos tinham depositado genomas de COVID-19 no GISAID, um repositório online que é a maior da base de dados digital de sequências de SARS-CoV-2.
Os cientistas africanos colaboraram para analisar mais de 100.000 genomas.
“Este sequenciamento bem-sucedido para o novo coronavírus SARS-CoV-2, no Quénia, é um marco significativo na resposta à pandemia no Quénia e no mundo inteiro,” Director-Geral do KEMRI, Yeri Kombe, referiu num comunicado.
“Isso irá fortalecer a vigilância para rastrear mutações do vírus e ajudar no rastreamento de fontes de infecções na comunidade.”
Em meio a desolação da pandemia da COVID-19, a capacidade de África para a pesquisa científica cresceu de forma enorme e ganhou reconhecimento internacional.
Em nenhum lugar, isso é mais evidente do que no reino da vigilância dos patogénicos e sequenciamento genómico, de acordo com o estudo.
“Uma mistura de estratégias desde o sequenciamento local, colaboração na partilha de recursos entre países africanos e sequenciamento com colaboradores académicos de fora do continente, ajudou a encerrar as zonas de penumbra da vigilância,” escreveram os autores. “Os países da África subsaariana, particularmente na África Austral e na África Oriental, colheram maiores benefícios das redes de sequenciamento regionais.”
Desde o início de 2020, os cientistas aumentaram de forma agressiva a sua capacidade de detectar com eficácia e responderem a variantes do SARS-CoV-2, trazendo benefícios ao continente e ao mundo.
Com a liderança do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), um investimento de 100 milhões de dólares ajudou a criar uma rede continental de colaboradores, chamada Africa Pathogen Genomics Initiative (Africa PGI).
O virologista regional de África, na Organização Mundial de Saúde, Dr. Nicksy Gumede-Moeletsi, ficou maravilhado com o trabalho do Africa PGI.
“A região criou um mecanismo coordenado para manter e fortalecer esses ganhos,” referiu num comunicado.
“[Ela] montou três centros de excelência para a vigilância genómica, desenvolveu documentos de orientação padronizados, ofereceu formações para pessoal de ministérios de saúde e montou infra-estruturas laboratoriais para a vigilância genómica de rotina, incluindo vigilância de águas residuais.”
John Nkengasong, antigo director do Africa CDC, teve o orgulho de ver o objectivo declarado de 100.000 sequenciamentos genómicos até ao final de 2022 ser alcançado meses antes da data prevista.
Mas ainda existe muito trabalho por fazer.
“Será que já alcançámos o suficiente? Não,” disse à revista Nature. “É nosso objectivo que muito mais países africanos sejam capazes de fazer o sequenciamento a nível local e reportarem os dados em tempo real.
“Por isso, assim como muitas outras coisas no continente, é necessário tempo para criar infra-estruturas, instituições e redes. Mas, mesmo assim, estou realmente maravilhado de poder ver a velocidade com a qual esta rede em particular — African Pathogen Genomics Initiative — cresceu.”