EQUIPA DA ADF
O aumento dramático de ataques extremistas do al-Shabaab fez fracassar os planos de reabertura da fronteira entre a Somália e o Quénia, que foi encerrada em 2011.
O Ministro do Interior do Quénia, Kithure Kindiki, fez várias visitas à região em Junho e prometeu derrotar o grupo afiliado à al-Qaeda.
“Não há volta a dar a esta questão, mas como temos assistido a um aumento de ataques terroristas, vamos adiar a reabertura por um curto período de tempo para nos permitir lidar primeiro com os militantes,” disse aos jornalistas locais, segundo a revista The Africa Report.
Após o encerramento de vários pontos de entrada na fronteira, o al-Shabaab construiu redes de contrabando e começou a financiar as suas operações através da imposição de impostos aos comerciantes que traziam contrabando para o Quénia.
Peter Tuya, analista de segurança baseado em Nairobi, disse que o al-Shabaab, que está a sofrer as consequências das operações de combate ao terrorismo em curso na Somália, está a avançar para o Quénia, porque não se pode dar ao luxo de perder receitas fiscais.
“O objectivo aqui é garantir que o governo não abra essas áreas ao desenvolvimento,” disse à Voz da América. “Porque isso vai cortar a linha de abastecimento para eles e porque há muito tempo que eles usam a questão da marginalização para recrutar pessoas para as suas redes.”
O aumento dos atentados terroristas nos quatro condados quenianos situados ao longo da fronteira com a Somália coincidiu com a reabertura da fronteira, que está prevista por fases, de 15 de Junho a 15 de Agosto.
Os ataques também se tornaram mais mortíferos.
O Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos registou 19 incidentes violentos perpetrados pelo al-Shabaab em Junho, quase o dobro da média mensal em 2023 e mais do que o dobro do número em Junho de 2022.
Em Junho de 2023, os ataques mataram mais de 30 pessoas, a maioria das quais pertencentes às forças de segurança, e feriram dezenas de outras nos condados fronteiriços de Mandera, Wajir, Garissa e Lamu.
Os dispositivos explosivos improvisados, como as bombas de beira de estrada, tornaram-se a arma preferida do al-Shabaab, tendo matado 20 soldados das Forças de Defesa do Quénia e civis só entre 13 e 25 de Junho.
Tuya disse que atacar as forças de segurança transmite medo e beneficia o recrutamento.
“Visto que estão a atacar o pessoal de segurança, querem criar medo nas mentes do público, que… ‘Se temos a capacidade de atacar o pessoal de segurança, o que será de vós?’” disse ele. “Isso visa criar um ambiente de medo e tornar as pessoas indefesas e aderirem à sua ideologia.”
Embora o Quénia tenha reforçado a sua presença militar para responder às incursões do al-Shabaab, a fronteira porosa tem permitido que os militantes entrem no país em pequenos números. Com a sua densa cobertura florestal, a enorme Reserva Nacional de Boni, no condado de Garissa, constitui um esconderijo ideal para lançar ataques.
Políticos quenianos, como Dido Rasso, têm debatido a abordagem do país em matéria de segurança e apelam a mais financiamento para a recolha de informações, a protecção de testemunhas e a luta contra a radicalização dos jovens, a fim de criar resiliência a nível comunitário.
“O nosso povo tem de se erguer, em particular o povo do norte,” afirmou na Assembleia Nacional, a 29 de Junho. “Não devemos deixar que sejam apenas as forças de segurança a tratar destas questões.”
Rasso exortou os anciãos e os líderes religiosos a trabalharem com os jovens que são vulneráveis ao recrutamento.
“Enquanto não abordarmos a questão da radicalização e as pessoas contribuírem para que este fenómeno se desenvolva, poderemos continuar a enfrentar esta ameaça,” afirmou.
O deputado Farah Maalim advertiu os colegas que apelaram ao contingente militar queniano na Somália para que se retirasse para o lado queniano da fronteira e se defendesse contra o al-Shabaab.
“Não se usa uma força convencional,” disse. “Vão em pequenos números de quatro, cinco, seis pessoas e efectuam esses ataques. Não vão aos milhares. Não enfrentam as forças num ataque frontal. Eles escondem-se.”
Maalim exortou a assembleia a reforçar as reservas da polícia queniana nos quatro condados fronteiriços e “colocá-los em posição de seguir os [militantes] e de os escorraçar onde quer que vão.”
Os investigadores Isel Ras e Halkano Wario, do Instituto de Estudos de Segurança, sediado na África do Sul, apoiam a abordagem liderada pela comunidade. Defenderam igualmente uma melhor vigilância das fronteiras e a realização de patrulhas de segurança regulares a pé.
“Os governos dos condados devem ter um papel mais decisivo no co-financiamento das patrulhas de reserva da polícia local, na sensibilização das comunidades e na alocação de dinheiro a projectos que combatam os factores de radicalização e recrutamento para o al-Shabaab,” escreveram num artigo publicado a 12 de Julho.
“O Quénia precisa também de reforçar as estruturas de policiamento comunitário e de investir na recolha coordenada de informações de múltiplas agências e através de fronteiras.”