EQUIPA DA ADF
A variante Ómicron da COVID-19, que se propaga rapidamente, já alcançou 13 países africanos, mas até agora está a produzir infecções mais ligeiras do que as variantes anteriores, de acordo com os pesquisadores.
A África do Sul, que foi a primeira a registar a variante Ómicron em finais de Novembro, sofreu o maior impacto desta variante. A variante Ómicron representa 90% de todos os novos casos daquele país, mas as doenças graves e as hospitalizações continuam baixas, possivelmente devido à alta taxa de infecções anteriores, de acordo com um estudo conduzido pela seguradora Discovery Health, a maior seguradora privada daquele país.
O relatório, emitido em meados de Dezembro, baseou-se em 211.000 pessoas que testaram positivo para a COVID-19 desde meados de Novembro até início de Dezembro.
Os testes da COVID-19 realizados naquela altura demonstraram uma taxa de positividade de 32,2%, mais de seis vezes acima da taxa em que a Organização Mundial de Saúde apela para os confinamentos obrigatórios de modo a quebrar a transmissão. A vaga esteve centrada em Gauteng, a província com a maior densidade populacional da África do Sul.
“A quarta vaga impulsionada pela Ómicron possui uma trajectória significativamente mais acentuada de novas infecções em comparação com as vagas anteriores,” PCA da Discovery Health, Dr. Ryan Noach, disse no relatório.
O surgimento repentino das infecções da variante Ómicron ajudou a impulsionar o número de casos da COVID-19 de África de 8,7 milhões para 9,1 milhões em menos de duas semanas. Até à terceira semana de Dezembro, 13 países africanos, especialmente na África Austral e na África Ocidental, tinham registado a variante Ómicron, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
A variante Ómicron encontra-se entre as versões da COVID-19 com maior número de mutações identificadas desde o início da pandemia, em inícios de 2020. Ela possui 50 mutações, mais de 30 das quais ocorrem nas suas proteínas Spike — as “chaves” que o vírus utiliza para invadir as células onde ele posteriormente se replica e se propaga.
Em comparação com a variante Delta, a Ómicron propaga-se duas vezes mais rápido, mas produziu 93% menos hospitalizações até agora, de acordo com a Discovery Health e o Conselho de Pesquisas Médicas da África do Sul. A variante Ómicron está a produzir cerca de um décimo das 250 a 300 mortes que a variante Delta causava diariamente.
“Esperamos que a actual experiência da COVID-19 causada pela variante Ómicron — na sua maioria doenças ligeiras — continue inalterável,” disse Noach no relatório.
Ele enfatizou que a análise é baseada em dados iniciais, e as condições podem mudar à medida que a vaga progride.
A rápida propagação e a baixa taxa de fatalidade significam que a vaga da variante Ómicron provavelmente venha atingir o pico em cerca de metade do período de oito semanas que a vaga da Delta teve.
Os pesquisadores acreditam que a diferença entre a Ómicron e as vagas anteriores pode reflectir a elevada taxa de imunidade natural na população da África do Sul. Um inquérito recente com adultos da província de Gauteng demonstrou que 72% deles estiveram infectados com a COVID-19, de acordo com o professor Shabir Madhi, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.
A infecção anterior cria células T, que fornecem ao corpo a sua memória de uma infecção particular e constroem imunidade a longo prazo. Entretanto, isso não significa que a infecção anterior garante protecção contra a Ómicron.
As taxas de reinfecção pela Ómicron são cerca de cinco vezes superiores do que as da variante Delta.
Explicando de forma mais simples: as pessoas que se recuperaram de infecções anteriores ainda estão em risco de contrair a variante Ómicron. Quanto mais tempo passa depois da sua recuperação, maior é o risco de reinfecção.
A Discovery Health descobriu um risco de reinfecção que varia de 40% para pessoas que se recuperaram da variante Delta para 73% para aquelas que se tinham recuperado da estirpe original da COVID-19.
No dia 17 de Dezembro, cinco semanas depois do início da vaga da Ómicron, na África do Sul, Madhi comunicou no Twitter que a vaga tinha atingido o pico em Gauteng e que as infecções estavam a registar uma tendência de redução.
Contudo, dada a generalizada exposição a variantes anteriores da COVID-19, a experiência de Gauteng com a Ómicron pode ser diferente em relação a outras regiões da África do Sul e de outros países do continente.
As comunidades com baixas taxas de exposição anterior à COVID-19 continuam em alto risco de infecções graves, Professor Ian Sanne, da Universidade de Witwatersrand, disse à eNCA, da África do Sul.
Os hospitais e os sistemas de saúde precisam de preparar-se para uma outra avalanche de casos da COVID-19, acrescentou Sanne.
“Temos um grande grupo de pessoas que ainda pode apresentar-se com grande número de infecções e doenças graves,” afirmou Sanne. “Certamente que teremos uma tempestade por esta altura.”